A Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou uma carta aberta na qual critica o “bombardeio midiático” sofrido pela Petrobras desde 2003. Para a entidade, os ataques nada têm a ver com o combate à corrupção e buscam, sim, “fragilizar a estatal brasileira e com isso justificar a entrega do Pré-Sal”.
Carta aos Petroleiros
Ao longo dos últimos dois anos, a Petrobrás vem sendo vítima de um bombardeio midiático que nada tem a ver com
os crimes de corrupção que sangram a empresa desde muito antes de 2003 e com os quais jamais fomos e seremos
complacentes. Esses ataques têm por objetivo fragilizar a estatal brasileira e com isso justificar a entrega do Pré-Sal.
Nós trabalhadores da Petrobrás, próprios e terceirizados, assim como a sociedade brasileira, somos todos vítimas dessa
campanha de desmoralização da companhia. Os prejuízos são mais do que visíveis: a cadeia produtiva do setor petróleo
foi fortemente impactada, a indústria naval está em frangalhos e a engenharia nacional, desmontada. O resultado são
milhares de desempregados e o PIB em queda livre, puxada pelos desinvestimentos da Petrobrás.
É em meio a esse cenário que Pedro Parente assume interinamente a Presidência da Petrobrás pelas mãos de um
governo golpista. Já chegou avisando que não interessa à empresa ser operadora do Pré-Sal, que intensificará a venda de
ativos e que não admitirá interferência política na companhia, sendo ele próprio fruto de uma indicação política do PSDB.
Além disso, Pedro Parente tem se posicionado de forma oportunista em relação à crise da Petrobrás, como se fosse algo
isolado do que ocorre com outras petrolíferas no mundo, também impactadas pela brutal queda dos preços do barril do
petróleo. Trata o estratégico legado de conquistas da companhia como “administração desastrosa” e diz que sua missão
é recuperar a credibilidade da empresa junto ao mercado. Certamente ele não se recorda, mas a primeira vez que a
Petrobrás recebeu avaliação de grau de investimento por uma agência internacional de classificação de risco foi em 2005,
seguida de outras duas certificações em 2007.
É no mínimo leviano Pedro Parente querer atribuir a crise da Petrobrás à corrupção, quando na verdade várias outras
companhias estão em dificuldades financeiras em função da queda de mais de 40% nos preços do petróleo. A britânica
BP registrou prejuízo em 2015 de 8,49 bilhões de dólares. A Statoil perdeu US$ 4,9 bilhões e a norte-americana
ConocoPhillips, fechou o ano negativamente em US$ 4 bilhões. No caso da Petrobrás, o impacto da crise foi ainda maior
por conta da desvalorização cambial.
RESPEITO AOS TRABALHADORES
Em mensagem enviada aos trabalhadores no dia 13 de junho, Pedro Parente tentou se explicar sobre as ações a que
responde na Justiça. disse que o fazia “em respeito” aos trabalhadores que merecem a sua “total consideração”. Que
respeito e consideração ele tem por nós se já avisou que irá abrir mão do Pré-Sal, beneficiando as multinacionais, que são
concorrentes da Petrobrás? Respeitar a categoria é despejar ativos no mercado com os preços do petróleo em baixa?
Que consideração tem pelos trabalhadores descartando qualquer tipo de intervenção financeira por parte do acionista
majoritário?
Sem novas reservas do Pré-Sal, sem ativos e sem recursos do Estado, qual será o futuro da Petrobrás e dos seus
trabalhadores, a quem Pedro Parente diz ter tanto respeito e consideração?
NADA A TEMER?
Ao tentar esquivar-se dos prejuízos que causou aos cofres públicos no período em que foi ministro de Fernando Henrique
Cardoso, Pedro Parente se fez de vítima, alegando ser “alvo de ataques pessoais por parte de órgãos sindicais”. Mas, os
processos que correm na Justiça contra ele não foram inventados pela FUP ou por seus sindicatos. São fatos.
Quem acusa o presidente da Petrobrás é o Ministério Público Federal, nas ações que move contra ele nas 20° e 21° Varas
Federais de Brasília por conta de sua participação no Proer. O socorro financeiro que o governo FHC deu aos banqueiros
entre 1995 e 2001 causou na época um rombo bilionário nos cofres públicos. As ações contra Pedro Parente são
referentes a dois dos sete bancos privados beneficiados pelo Proer, o Bamerindus e o Econômico, que, segundo o MPF,
causaram prejuízos de R$ 2,9 bilhões ao Estado, que corrigidos em valores atuais equivalem a mais de R$ 15 bilhões.
Também não é ilação da FUP a participação do atual presidente da Petrobrás na venda de 30% da Refap, em dezembro
de 2000, que causou à companhia prejuízos de US$ 2,3 bilhões, em função da troca de ativos realizada com a Repsol/YPF.
A estatal cedeu na época US$ 3 bilhões em ativos à multinacional e recebeu em troca US$ 750 milhões. Pedro Parente
era membro do Conselho de Administração da Petrobrás e autorizou a negociata. Por isso responde à Ação Civil Pública
no Tribunal Regional Federal da 4a Região, no Rio Grande do Sul, que aguarda a perícia dos valores negociados e suas
implicações.
A FUP e seus sindicatos continuarão mobilizando a categoria e a sociedade brasileira em defesa da soberania nacional. O
Pré-Sal e a Petrobrás são os maiores bens que o povo dispõe para construir uma nação com desenvolvimento econômico
e social. Não podemos permitir que Pedro Parente e os golpistas entreguem esse patrimônio de mão beijada ao
mercado.
Lutar sempre. Temer jamais.
Rio de Janeiro, 20 de junho de 2016 Direção Colegiada da Federeção Única dos Petroleiros
Fonte: FUP
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