A declaração final da XX Cúpula Social do Mercosul, divulgada na última sexta-feira (01/07), afirmou o apoio dos movimentos sociais da região à presidente brasileira, Dilma Rousseff. As organizações manifestaram repúdio ao processo de impeachment de que a mandatária é alvo, classificado como “um ataque à democracia brasileira sem precedentes”, e pediram que “os governos da região não reconheçam o governo interino do golpista Michel Temer no Brasil”.
O encontro acontece semestralmente desde 2006 e sua 20ª edição se deu em Montevidéu, capital do Uruguai, entre quinta e sexta-feira, reunindo organizações sociais e sindicais dos países-membros do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela – e da Bolívia, que está em processo de adesão ao bloco.
A reunião foi precedida pela controvérsia sobre a transferência da presidência rotativa do Mercosul do Uruguai para a Venezuela, que será feita no próximo dia 12 em uma cúpula de chanceleres – e não de chefes de Estado, como costuma acontecer –, segundo anunciaram na segunda-feira (27/06) os ministros das Relações Exteriores de Argentina e Uruguai, Susana Malcorra e Rodolfo Nin Novoa, respectivamente.
Após o anúncio, o chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, afirmou que os colegas de Uruguai e Argentina fizeram tal declaração sem consultar os demais países do bloco e expressou o descontentamento de seu país em relação à presidência temporária da Venezuela.
Neste sentido, as organizações sociais repudiaram também “as tentativas de alguns governos de quebrar a institucionalidade do Mercosul ao se opor à transferência da presidência rotativa à Venezuela”, que obedece a uma regra do bloco de alternar a liderança de acordo com a ordem alfabética dos nomes dos países que o integram. A declaração final do encontro manifestou também “respeito ao povo venezuelano” e ao governo de Nicolás Maduro.
Em ato simbólico, o representante do governo uruguaio para as Cúpulas Sociais, Federico Gomensoro, fez a transferência do comando desta instância à delegação venezuelana e pediu “respeito ao direito internacional”.
A declaração final do encontro também ressalta a necessidade de integração da região nos aspectos sociais, comerciais e econômicos. O documento afirma que o processo de integração do Mercosul tem questões pendentes e que essas deficiências estão sendo usadas para destruir e “substituir (o bloco) com um modelo de livre-comércio” que, segundo as organizações sociais da região, só trará mais miséria e desigualdade.
“O déficit de democracia, de redistribuição e de desenvolvimento que o Mercosul mostra hoje só se soluciona com mais Mercosul. Lutaremos por nosso projeto de integração e não aceitaremos projetos de exclusão política, social e econômica”, indica o texto.
O analista político e diretor acadêmico do Centro de Formação para a Integração Regional (Cefir), o uruguaio Gerardo Caetano, declarou em discurso no fechamento do encontro que o papel dos movimentos sociais “é fundamental”, já que “ajudam a reivindicar” interesses comuns. “Os movimentos sociais reivindicaram o Mercosul possível. Quando o Mercosul era comercialista, as Cúpulas Sociais eram as que falavam das complementações produtivas, de direitos humanos, da necessidade de pensar o projeto de desenvolvimento juntos e políticas ambientais”, afirmou.
Fonte: OperaMundi
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