Maduro rompeu relações diplomáticas com os EUA, o primeiro país a apoiar o golpe de Estado. China, Rússia, Bolívia, Cuba.
Nesta quarta-feira (23), dia em que o povo da Venezuela comemora o fim da ditadura de Marcos Pérez Jiménez – em janeiro de 1958 foram convocadas eleições diretas -, foram registradas manifestações em mais de 60 bairros de Caracas, capital do país, tanto a favor quanto contra o governo de Nicolás Maduro.
Maduro advertiu apoiadores sobre a tentativa de um golpe de Estado, com apoio dos Estados Unidos, para tirá-lo do poder.
Não demorou muito e a denúncia de Maduro foi confirmada. O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, um dos líderes da oposição, Juan Guaidó, se declarou presidente do país, prestando juramento. Bastou isso para que fosse imediatamente reconhecido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo atual secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, além do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Minutos depois, Maduro anunciou a ruptura de relações diplomáticas com o país norte-americano. Em discurso na sacada do Palácio Presidencial Miraflores, local escolhido por ser onde o ex-presidente Hugo Chaves fez grandes pronunciamentos, Maduro mencionou os militares, considerados um dos principais grupos que sustentam o regime.
Força Armada Nacional Bolivariana a meu comando, máxima união, máxima disciplina, que vamos vencer. Leais sempre, traidores nunca.
E o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, não deixou por menos. Via post nas redes sociais afirmou que as Forças Armadas do país vão rejeitar qualquer pessoa que se autodeclare presidente ou que chegue ao cargo imposta por “interesses obscuros”.
“O desespero e a intolerância atentam contra a paz da Nação. Os soldados da Pátria não aceitamos um presidente imposto à sombra de interesses obscuros, nem autoproclamado à margem da lei”, disse o ministro no Twitter.
Em outro post, o ministro reforçou o apoio das Forças Armadas da Venezuela ao presidente eleito:
A FANB [as Forças Armadas] defende nossa Constituição e garante a soberania nacional
Em declaração oficial, Padrino afirmou claramente que os militares seguem leais a Maduro.
Repercussão no Brasil
Lideranças populares, sindicais e partidos políticos do campo progressista na América Latina denunciaram a tentativa de golpe. Horas antes, Bolsonaro e chefes de Estado que integram o chamado Grupo de Lima reconheceram o opositor venezuelano “presidente encarregado” do país.
“O golpe de estado em curso na Venezuela, desta vez com o apoio subserviente do governo fascista do Brasil, cria um ambiente de profunda instabilidade política na região”, disse o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa.
A CUT reafirma seu apoio ao direito do povo venezuelano decidir de forma soberana sobre seu futuro e defende o direito de Nicolás Maduro exercer o mandato para o qual foi legitimamente eleito
As bancadas do PT na Câmara dos Deputados e no Senado qualificaram a decisão de Bolsonaro como subserviente aos Estados Unidos, ressaltando que foi o presidente estadunidense, Donald Trump, quem primeiro reconheceu Guaidó como presidente nesta quarta.
“Decisão do novo governo autoritário brasileiro de não reconhecer o mandato do presidente Maduro contraria as mais altas tradições da diplomacia do país”, afirmaram os parlamentares das bancadas petistas no Congresso Nacional.
“Essa decisão agressiva do governo brasileiro demonstra que o nosso país já não tem mais política externa autônoma, tendo-se alinhado acriticamente, e contra seus próprios interesses, à agenda geopolítica belicista e antilatinoamericana de Donad Trump”.
A presidenta nacional do partido, Gleisi Hoffmann, lamentou o fato de terem se iniciado na América Latina os conflitos “que tanto repudiamos em outros continentes”.
Segundo ela, “Líbia, Iraque, Síria são lembranças atuais das decisões arrogantes dos Estados Unidos e seus parceiros políticos. O Brasil só tem a perder com esta intervenção na Venezuela”.
Pelo Twitter, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, também questionou a decisão do presidente brasileiro.
“Bolsonaro apoia golpe na Venezuela ao reconhecer o deputado Juan Guaidó como presidente. Com isso, a diplomacia brasileira se torna extensão do Departamento de Estado dos EUA. A crise na Venezuela precisa de solução democrática e pacífica, sem ingerência externa”.
A Frente Brasil Popular utilizou a mesma rede social para se solidarizar com Maduro, presidente eleito da Venezuela.
“O Brasil, por suas características históricas, geográficas e territoriais deve servir para se estabelecer a paz na Venezuela e não querer provocar uma guerra. A instabilidade pode servir aos interesses dos poderosos, mas não serve nada ao povo e trabalhadores”.
A Confederação Sindical de Empregadores e Trabalhadores das Américas (CSA), que representa mais de 55 milhões de trabalhadores e trabalhadoras no continente, também condenou o golpe na Venezuela e alertou quanto à uma nova situação de conforto e eminência conflitiva no país.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (24), a CSA condenou “a decisão unilateral adotada na jornada 23 de janeiro, por um grupo de gióbios da administração, notoriamente liderado pela EE.UU, de desconhecer a legitimidade do governo do presidente Maduro” e de reconhecer o autoproclamado “presidente da transição” , Juan Guaya”.
A nota pede ainda que governos demoicráticos do mundo inteiro evitem o aprofundamento do grave quadro de deterioração político, economico e social pelo qual atravessa a Venezuela.
Rússia, México, Bolívia, Cuba e Nicarágua apoiam Maduro
Em nota oficial, a Chancelaria russa afirmou que os eventos na Venezuela estão atingindo um ponto perigoso e que Washington demonstrou desrespeito pela lei internacional.
“Isto é uma via direta para a anarquia e o banho de sangue”, afirmou a nota.
“Alertamos contra isso. Consideramos que seria um cenário catastrófico que balançaria as bases do modelo de desenvolvimento que vemos na América Latina.”
Evo Morales, presidente da Bolívia, considera o movimento contra Maduro como um ataque à democracia.
“Nossa solidariedade ao povo venezuelano e ao irmão Nicolás Maduro, nestas horas decisivas em que as garras do imperialismo buscam novamente ferir de morte a democracia e a autodeterminação dos povos da América do Sul. Não vamos mais ser quintal dos EUA”.
Já a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse em uma entrevista coletiva, realizada nesta quinta-feira (23), que Pequim é contrária a uma intervenção militar no país sul-americano e defende que a situação seja resolvida pacificamente, por meio de negociações e de acordo com a Constituição.
“A China espera que todas as partes na Venezuela resolvam suas diferenças políticas por meio do diálogo e da consulta, evitem conflitos violentos e restaurem a ordem normal de acordo com os interesses fundamentais do país e do povo”, disse ele.
Na Argentina, milhares de pessoas se reuniram em frente à Embaixada da Venezuela, em apoio a Maduro, minutos após o comunicado oficial do presidente Maurício Macri – que reconheceu Guaidó como “presidente encarregado”.
O porta-voz da secretaria de Relações Exteriores do México, Roberto Velasco, declarou à agência Bloomberg que, para a administração do presidente eleito López Obrador, o mandatário legítimo da Venezuela é Nicolás Maduro.
Cuba e Nicarágua se manifestaram, da mesma forma, em apoio ao governo chavista, eleito em maio 2018.
Com apoio do Brasil de Fato e agências de notícias.
FONTE: CUT
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