Um marxista sabe muito bem que a luta eleitoral, uma vez que atinge o grau de participação universal (voto universal), nos regimes dominado pelo imperialismo significa que o proletariado atingiu a sua maturidade política em sua luta democrática contra a burguesia. Após, não há nada que possa fazer um indivíduo, um grupo ou mesmo um Partido, para levar a cabo uma mudança profunda sem o rompimento.
Pensemos o Brasil de 1954 – Getúlio Vargas em seu segundo mandato viu-se coagido a abandonar o programa popular por forças ocultas, isto é, os monopólios, o imperialismo, os trustes, as multinacionais, etc. 1962 – movimento para empossar Jango que desiste de enfrentar as forças militares que estavam a serviço dos monopólios, do imperialismo, dos trustes, das multinacionais, etc., renuncia para não travar a luta em outro campo.
Fim do regime militar, porém não o fim do domínio das forças “ocultas”. Processo de liberdades democráticas, anistia ampla e irrestrita aos que mataram e mutilaram os lutadores. Novo começo da existência dos Partidos e de poderem concorrer. Durante 12 anos, os monopólios elegeram seus candidatos até doarem as empresas estatais de telecomunicações, a Vale do Rio Doce, e muitas outras riquezas. Depois, enterrados na crise, ganha um governo de esquerda, que no máximo conseguiu fazer um governo para todos – ops – um pouco para a grande maioria do povo, e muito para o setor dos monopólios financeiros, imperialistas, trustes, etc. Mas tudo bem, sem reclamação – por hora o povo pensou, assim como seus dirigentes de esquerda, que daí pra frente a coisa só iria melhorar.
Sem elevar a consciência do povo, contra os monopólios estrangeiros, contra a burguesia brasileira aliada e dependente do imperialismo, tomamos um golpe como quem tira doce de criança. E logo em seguida, vem novas eleições: 2016 – sentimos o poder da direita, do golpe. Eleições para presidente em 2018 – vimos a força da extrema direita, com o aprofundamento do golpe. Em 2020, será uma nova eleição, porém apenas eleição. A esquerda prioriza um processo, digamos até importante na luta de classes, entretanto a vitória pode significar derrota, como uma derrota pode significar uma vitória; exemplos não nos faltam na história recente do Brasil e da Bolívia.
Contudo a principal derrota para a esquerda é o reforço da filosofia da miséria. Isso se traduz no seguinte dilema: A esquerda quer defender o Socialismo, mas desconhece o Capitalismo. Não compreendendo o capitalismo, não conhece a luta de classes e, por essa razão, ignora o conteúdo classista da democracia. Por isso ao tratar de eleições, o sabor de ocupar o espaço legal no Estado Burguês, seu cheiro (de cadáver, logicamente) e seu poder sobre “humano”, atrai a esquerda institucional como um ímã, principalmente cerebral, fazendo com que esses dirigentes sejam incapazes de levantar qualquer suspeita contra o Estado Burguês, conseguindo, no máximo, atacar aquele que por hora personifica essa instituição.
E parte da esquerda ao pensar nas eleições e antes mesmo de ser eleita, começa a apresentar um programa filantrópico para diminuir minimamente as mazelas do povo. Sente-se como se “tivesse em casa” com o monstro, que ao sentir uma indigestão, vomita quem quer que seja para continuar sendo o mais fiel dos representantes de sua classe, à burguesia imperialista. Por isso pode cuspir para fora, até o todo poderoso Trump, para continuar dominando com tantos outros Donald.
Qual é o medo então da burguesia em deixar a esquerda ganhar e ocupar parte de sua administração, isto é, do Estado? Nenhum. Aliás, isso já é feito no mundo inteiro, e talvez até nos EUA, venha ganhar um “Socialista” democrata. Assim como jamais se pensaria, que um negro pudesse sentar na cadeira principal da casa branca. Se Marx falava que o Capitalismo é um modo de produção elástico, também é bastante diversificada a forma com que o Estado se apresenta. Mas como disse Lênin, em todos eles o conteúdo é sempre o mesmo: Ditadura da Burguesia.
Não é um fenômeno novo, os golpes que vêm sendo imputado pelo Imperialismo Ianque contra a esquerda Sul-Americana. A rodada de golpes é nova, depois de uma década de ações progressistas ocorridas por essas bandas. Mas é preciso dizer, que há um conluio ideológico (e não político) nos golpes entre estes atores (a esquerda institucional e a extrema direita), pois, ou a esquerda tenta enganar o povo o tempo inteiro, mostrando que o Estado Burguês não é tudo aquilo que se fala dele (um cadáver mal cheiroso), ou ainda está enterrada nas ilusões de Berstein, Kautsky, da Social Democracia, os quais renunciaram a luta libertadora para a defesa do imperialismo.
No entanto não deixamos, por conta disso, de condenar os golpistas e defender o povo Boliviano, Paraguaio, Brasileiro, Chileno, Hondurenho, pelos ataques que vêm sofrendo pela detestável burguesia imperialista e as oligarquias a seu serviço. Porém condenamos as tentativas frustradas da esquerda em tentar transformar, evolutivamente, a ditadura burguesa em sua negação, pois isso, longe de aproximar o povo das transformações, faz com que o mesmo dela se distancie.
Então nos dirão que a verdadeira esquerda não poderá concorrer nas eleições burguesas, pois corre o risco de se eleger. Isso fica apenas como fundamento teórico, o qual enfatiza que o caminho eleitoral é o mais fácil de chegar ao governo, porém pode se tornar mais difícil de chegar ao poder, principalmente quando a opção de grande parte da esquerda institucional é a defesa da Filosofia da Miséria.
– Fora, Bolsonaro e sua extrema direita.
– Fora, EUA da América Latina.
– Pela construção das ANL.
João Bourscheid
O texto desnuda a visão da esquerda eleitoreira e elitista. Pensam somente em seus meios de chegar a ocupar os espaços construídos pela ditadura da burguesia. Não há mudanças sem o rompimento com a burguesia. Todo poder à Classe Proletária.