O FASCISMO E AS ILUSÕES DA ESQUERDA REFORMISTA

Desde o fim da ditadura militar, na década de 1980, substituída pelo regime político “democrático”, o caminho seguido pelos partidos de maior expressão, à direita e à esquerda, alinhou-se ao discurso do republicanismo, da moderação, do respeito ao contraditório e às Instituições e Poderes do Estado burguês.

Seja pela incapacidade de esse regime oferecer respostas satisfatórias a muitos dos anseios populares, seja pela conjuntura interna e externa no que toca à questão da luta de classes em um período de agravamento da crise estrutural do capitalismo, fato é que, no Brasil, esse modelo vem ruindo a passos largos, abrindo espaço para o fortalecimento de discursos favoráveis ao esvaziamento da atividade política, sindical e dos movimentos sociais; à “intervenção militar”, à ditadura militar e ao uso da força como ferramenta para solução de conflitos; bem como ao uso político, sem quaisquer pudores, do judiciário e à criminalização da esquerda, sobretudo do comunismo; num movimento ascendente que, claramente, assemelha-se aos regimes fascistas do século passado.

Dois elementos típicos àqueles regimes faltavam para uma melhor definição: a existência de um partido político próprio e o caráter nacionalista, na defesa do espaço vital. De certa forma, é possível dizer que, com a criação do “Aliança pelo Brasil”, o primeiro elemento já não falta mais, sendo o segundo totalmente desnecessário, uma vez que o nacionalismo de fachada, pautado num “verde-amarelismo” retórico, enquanto a Nação é diuturnamente vilipendiada e liquidada, em tempos de pós-verdade e fake news, cumpre satisfatoriamente seu papel.

Com a criação de seu partido, o bolsonarismo dá um passo fundamental em sua estratégia de poder, desvinculando-se, na percepção do cidadão médio, tanto dos inimigos da esquerda quanto da direita tradicional, fortalecendo-se enquanto alternativa antissistema, que vende a ilusão de desejar fazer – pelos métodos que o regime político “democrático” não foi capaz – “as mudanças que país necessitaria”. O discurso de que a democracia é ruim, que dificulta essas mudanças, está mais do que disseminado no imaginário político nacional.

O “Aliança pelo Brasil” será, assim, em trinta e um anos de Nova República, o primeiro partido com ampla base social a, pelo menos em sua aparência, colocar-se fora da colcha de retalhos que acomodou os agrupamentos surgidos após a ditadura militar e em oposição ao regime político vigente, ainda que, em sua essência, não passe de mais um braço para a manutenção da ordem burguesa e dos interesses imperialistas no país.

Apesar desse fato gravíssimo, a esquerda institucional parece não ter aprendido nada com os acontecimentos políticos dos últimos anos, principalmente durante o ciclo petista, quando, em vez de haver um investimento nas organizações de base e em sua formação ideológica, os agrupamentos com melhor estrutura e influência nos sindicatos ou MST, por exemplo, simplesmente acharam que não haveria reação, que poderiam compor com a burguesia.

Infelizmente, a maioria da esquerda institucional ainda segue se enganando: tem ilusões com a “democracia” e reluta frente a tarefa histórica da necessidade de construirmos um partido revolucionário e um programa socialista para o Brasil, convocando o proletariado para essa luta, levada às últimas consequências. No fundo, acham que o capitalismo pode ser reformado e que derrotarão o fascismo no diálogo, em eleições livres em 2022.

Por outro lado, entre a maioria das pessoas que já não alimentam essa esperança, fundamentalmente identificadas com o discurso social da esquerda, existe uma resistência enorme à organização partidária, pois acham que a luta é espontânea e individual o que irá nos custar muito caro. Não veem que o fascismo está agora mesmo construindo seu partido, que já tem na ponta da língua o discurso da antipolítica, do pensamento único, do anticomunismo e, principalmente, já tem sua base popular, vanguardiada por neopentecostais, bem como possui seu aparato militar e paramilitar (miliciano).

A realidade mundial, às vésperas da passagem ao ano derradeiro da segunda década do século XXI, exige uma compreensão distinta do que aconteceu ao longo dos últimos trinta anos no Brasil. Portanto, exige novas organizações políticas, estratégias e táticas de luta contra a burguesia e sua face deteriorada, que é o fascismo. Se o anticomunismo tem servido, sistematicamente, como espantalho para os seus interesses, já é passada a hora de fazermos com que seu espectro volte, verdadeiramente, a assombrar os senhores do capital, que querem nossos corpos para explorar e matar livremente. Se a elevação da luta de classes a novos patamares se faz uma necessidade irrevogável de nosso tempo, cumpramos nós com nossa tarefa histórica.

– Viva o Partido da Refundação Comunista (Brasil)!

– Viva a luta antifascista!

– Socialismo ou morte!

– Venceremos!

Por Fábio Rodrigues

1 Comentário

  1. Ótimo texto. Bela análise. Que possamos fazer uma parada, uma reflexão sobre nossas ações na “institucionalidade”, para vermos os diversos movimentos potencialmente contra-hegemônicos que estão aí: cine-clubes, bibliotecas comunitárias, teatro amador e etc. Movimentos que juntam gente e promovem debates. Além do mais, nós lembra Paulo Freire: a história não é. A história está sendo. Obrigado pelo texto.

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