Argentina: O protesto nas ruas

Milhares de argentinos mostraram, nas ruas, seu repúdio às políticas de ajuste impulsionadas pelo governo de Mauricio Macri.

Buenos Aires, 5 de setembro, a Marcha Federal, organizada por sindicatos e respaldada por organizações políticas e populares, da última sexta-feira pôs em evidência o mal-estar social em todo o país e a necessidade de visibilizar as reivindicações.
Em um ato que superou as expectativas dos organizadores – as duas Centrais de Trabalhadores Argentinos – milhares de argentinos mostraram seu repúdio às políticas de ajuste impulsionadas pelo governo de Mauricio Macri, culminando na central Praça de Maio com uma heterogênea composição de mobilização.

Sob o rótulo de ‘Articulação Popular’, centrais operárias, sindicatos com suas direções ou bases, movimentos sociais, agrupamentos de pequenos produtores, setores médios industriais, grupos de esquerda, camponeses, rurais fizeram-se presentes para deixar bem claro que as reivindicações não têm um único rosto político.

Também deixaram uma consigna de futuro: a unidade do campo popular não se negocia, ‘porque essa unidade para a luta, pela libertação e pela justiça social [nos tornará] invencíveis’, sentenciou Hugo Yasky, titular da CTA dos Trabalhadores, em uma das passagens mais aplaudidas dos discursos.

Paralelamente, o Governo buscou jogar xadrez com fichas de dominó; um erro grosseiro ao querer se contrapor à foto de uma praça repleta, a imagem de uma mesa de diálogo entre vários ministros e a atual direção da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

Como costuma acontecer, a realidade terminou por demonstrar que o ‘marketing político’ nem sempre serve para tapar a pobreza.

No entanto, essa reunião deixou algumas notas para a análise. Juan Carlos Schmid, secretário geral do sindicato de Dragagem e Balizamento, e um dos chefes da CGT, sustentou que ‘o diálogo implica sentar à mesa, e ter vontade de mudança’. Algo que o Governo vem se esquivando.

Argentina não escapa do avanço da direita na região. A chamada ‘tomada de Caracas’ contra o governo de Nicolás Maduro e a destituição de Dilma Rousseff no Brasil mostram as tentativas de fechar um ciclo dos setores populares e progressistas da América Latina.

Inclusive algumas ações golpistas foram levadas a cabo de forma irregular e infestadas de arbitrariedades. O fato emblemático é o golpe contra Dilma, que ainda que tenha sido inocentada de toda acusação de corrupção, foi destituída por 61 senadores, dos 81 possíveis, dos quais 47 estão sob processo judicial, e 15 deles condenados.

De fato, sobre o presidente atual do Brasil, Michel Temer, recaem os mesmos processos imputados contra Dilma – redistribuição de rubricas e recursos orçamentais – mas a benévola direita brasileira e o poder econômico o protegeram de qualquer tentativa de arrastá-lo.

Enquanto na Argentina, o povo trabalhador aguarda duas datas: no dia 16 deste mês serão realizadas as Audiências Públicas para tratar das tarifas dos serviços.

Já foram anunciadas mobilizações para evitar mais aumentos de impostos. E no dia 23, a realização do Congresso Federal da CGT, onde se espera que entre suas conclusões seja anunciada uma greve nacional.

A proliferação do reclame, proveniente de diversos setores, está mostrando que na Argentina, em apenas nove meses de posse do governo de Mauricio Macri, o protesto ganhou novamente as ruas e com claros sinais de não querer abandoná-las até que sejam ouvidas suas reivindicações.

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