Nos últimos tempos, um número crescente de especulações tem sido feita pelos movimentos sociais e organizações de esquerda e populares, sobre as possibilidades e tendências das eleições de 2018. Lula irá concorrer? Lula se elegerá? No caso de se eleger, quais os acordos já estabelecidos? Quais as mudanças que tem como objetivo fazer? Quais terá força pra fazer? E quais mudanças fará com a força do povo nas ruas? Etc…, etc… E ainda, se haverá ou não eleições.
Entendo que as especulações não podem ter como ponto de partida o relativismo e muito menos o ecletismo, e sim, o materialismo dialético. O relativismo, muitas vezes sob a influência da dialética, possibilita entendermos o quadro em movimento. Mas o ecletismo, é uma abordagem totalmente burguesa, sem vida, parece dar um entendimento à coisa, mas lhe falta a essência. Os fatos por ela apresentados (ecletismo), não estão em interação e alteração constante e não produz uma unidade necessária para a luta avançar. Portanto, se não quisermos ficar só no achismo, subjetivismo e no criticismo, os quais nos colocam impotentes para interferir na luta concreta, devemos nos debruçar sobre a dialética.
Sabemos de antemão, que a política não existe sem a economia, ou melhor, entender a política sem ver o movimento econômico, leva a erros. As classes e suas lutas e antagonismos nascem da economia. Mas tem muito lutador, que é bom naquilo que faz, mesmo sem conhecer uma vírgula de economia. Seu cérebro cheira à distância o oportunismo e os engodos da classe adversária. Seus instintos de guerra de classes são muito apurados. Mas, mesmo assim, seus instintos não poderão salvá-lo pra sempre; primeiro, que não durará pra sempre, e segundo, porque as resoluções políticas dependem da economia. Aqui, a dialética já faz sentir-se imperiosa. A economia por si só não consegue a transformação, depende da política, da ação de classe; a política precisa saber em que sentido fará essa transformação, o que precisará negar, abolir, demolir, para que o novo tenha força para se desenvolver. Portanto economia e luta de classes (política) são as bases de nossa avaliação dialética. Além disso, é preciso ter em conta, que a verdade é sempre objetiva, concreta. Portanto a prática é o critério da verdade e nesse sentido a discussão academicista ou escolástica, de nada nos serve.
Tendo como base a análise econômica, podemos identificar os grupos políticos que nascem na superestrutura. E sob a vertente liberal (defesa do capitalismo) aqui no Brasil, temos vários partidos, que vão do centro a centro direita e extrema direita. Os Neoliberais e os ultra liberais (todos liberais radicais), hoje de uma forma e outra, vinculam-se ao golpe, embora não se possa atribuir essa condição a todos os liberais de concepção. No campo popular e de esquerda, temos os Sociais Democratas com suas várias matizes, os comunistas e demais revolucionários, dividindo o restante do cenário político. Para uma caracterização mais ampla desta Social Democracia, deve-se ter em conta, aqueles partidos de que pertencem a concepção Reformistas e não da Revolução. Esse caráter é essencial na definição destes grupos, que aproximam-se em maior ou menor grau da II internacional, a qual negava a revolução na época do imperialismo, para passar ao Socialismo.
Outra definição importante destes grupos Sociais Democratas é que o imperialismo faz claramente a distinção entre eles e os partidários da revolução. Na Alemanha é um exemplo claro após a primeira guerra mundial, A Alemanha pós Primeira Guerra Mundial é um exemplo dessa situação, quando defensores da Revolução, os comunistas Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht, foram assassinados pelo Estado Alemão em 1919, deixando assim o campo aberto para viabilizar a República de Weimar, que negava o poder Soviético e que governou até a ascensão de Hitler. Também outra característica de extrema importância é a divisão que faz essa concepção, entre o capital produtivo e o capital especulativo, levando a uma definição entre o capital bom e o capital mau. Como diz Lênin, essa é uma concepção pequeno burguesa, como se à base do capital financeiro, produção e a especulação pudessem andar separados.
Em relação aos liberais aqui no País, além de serem Neoliberais e em nossos dias ultra liberais, são ao mesmo tempo, entreguistas e agentes do imperialismo Ianque, quando dirigidos pela direita. A entrega do patrimônio Nacional e as concessões aos monopólios das reservas naturais são as evidências mais claras de tudo isso. Um roubo que passa desapercebido pelo povo, que foi embretado nas ideias de corrupção política eleitoral por conta do golpe. Esses grupos que tem a Filosofia positivista liberal como única, em época de Crise do Capital como a que estamos vivenciando desde 2008, faz com que se fundem esses ideais econômicos com as políticas do tio sam. Portanto, suas concepções Fascistas são produto deste entrelaçamento. Frente a perda de espaço econômico por conta da crise ou de crescimento de uma tendência mais nacionalista, Social Democrata ou revolucionária, esses grupos liberais de direita fiéis ao imperialismo americano, usam de todas as medidas para proteger seu padrinho Ianque. O golpe atual e o golpe militar em 1964 são os exemplos disso.
Mas no atual quadro e em outros momentos de crise aguda do Capital, o roubo simplesmente de grande parte dos patrimônios naturais e artificias (usinas, fábricas, pesquisas, etc.) do mundo inteiro, não garante a saída imediata da crise. O que inicialmente dá um alivio maior aos burgueses, são as Reformas trabalhistas, da previdência e os congelamentos de investimentos na Educação e Saúde. Aí existe um aumento da exploração da mais valia, direta e indiretamente. Além disso, leva a milhões à morte prematuras, visto a exaustão do trabalho e o pouco investimento nas áreas de proteção e saneamento ao trabalhador. Mesmo assim, a tendência de não realização da mais valia por conta dos baixos salários, torna-se o elemento que contribui ainda mais para o aprofundamento da crise. Em outras palavras, a destruição das forças produtivas é a saída para a crise burguesa, por isso a tendência fascista e de guerra.
Se, no entanto, essa a tendência principal (destruição das forças produtivas, guerra, roubo e saques), a burguesia jamais quer demonstrar que essa situação toda é um produto do seu próprio sistema. Aí aparecem as disputas políticas em forma e não em conteúdo. Nos EUA, Hilary e Tramp, na Alemanha Angela Merkel e a extrema direita, na França os defensores de Macron e os Lepém, na Inglaterra os defensores do Brexit (extrema direita) e os conservadores. Nos países dependentes, no caso do Brasil, os liberais aparecem como: Golpistas “democráticos” e Golpistas conservadores. Os primeiros tentando dar ao golpe uma aparência de democracia, de institucionalidade. Os segundos, sem meio termo, querem a intervenção militar e o ataque à esquerda, o aniquilamento dos pobres, o fim das liberdades políticas, etc. Os reflexos são os mesmos existentes nas grandes potências imperialistas, sendo que, a tendência ao fascismo sob a base capitalista em crise, é a tendência mais preponderante, mais reacionária, e mais atrativa para aqueles que se iludem que o caminho conservador pode trazer melhorias para sua vida.
Esse reflexo da crise econômica aqui no Brasil, trás alguns fatos interessantes. Por exemplo, José Serra, Gilmar Mendes e a Rede Globo. O que tem em comum é o fato de que são todos golpistas e entreguistas, logicamente. O que tem de diferente: A Rede Globo é contra o Temer, o Gilmar Mendes é a favor, e Serra é a favor e contra, como o seu partido. Todos são a favor das reformas anti-povo, mas Gilmar Mendes quer na política dar um caráter “Democrático” para o Golpe, a rede Globo tem interesses conservadores, e o José Serra representando o PSDB, que já foi do governo Temer, é e não é. Por isso, que os Bolsonaros da vida, crescem, assim como Tramp e a extrema direita em todos os países imperialistas. Mas como dissemos acima, a diferença entre esses grupos são de forma e não de conteúdo, podendo todos a aderir em determinado momento o discurso conservador. Basta que a conjuntura interna caminhe para isso uma vez que a externa já apresenta essa dimensão.
Quanto à esquerda e o campo pular anti golpista. Há também em relação ao quadro conjuntural, muita oscilação, reflexo logicamente do quadro econômico de crise mundial do Capitalismo. Aqui, o pior que pode acontecer é cada um ficar querendo adivinhar o resultado deste embate, e sobre as análises anti dialéticas, tomar caminhos que, longe de fazer a luta avançar, ajudam a direita e o retrocesso político. Para aqueles que defendem que a história é feita pelos homens (não como queiram, mas de acordo com as condições objetivas), e aqui, mais precisamente pelas classes; intervir neste processo, o qual a direita é dona do campo e da bola, é crucial. E para intervir em um processo como este, a criação de uma Frente ampla, sem sectarismos, é o que pode dar à luta de classes, um elemento novo, que a direita não esteja esperando que possa se viabilizar.
A luta de classes neste momento é uma luta aberta, em dois sentidos. Primeiramente, porque com a crise, da mesma forma que se manifesta a tendência Fascista e intervencionista militar, de guerra; também os caminhos aos saltos tornam-se prováveis. Em outras palavras, as possibilidades de uma mudança radical no modo de produção, são reais, visto que a luta de classes se acirra. A outra que, nenhum lutador poderá calar-se diante dos retrocessos econômicos e políticos em curso (isto é, fugir à luta) e ao mesmo tempo se isolar nessa luta. O isolamento político deve ser sempre evitado, mas neste momento que o inimigo é superior em muitos sentidos, incapacita qualquer ação de médio alcance e inclusive para próximas lutas, isolando-se.
Nesse sentido que, estamos propondo uma Frente ampla como forma de intervir nessa conjuntura conservadora de direita. Ela (Frente Ampla) diz respeito a intervenção que o proletariado deve fazer neste momento, com ou sem eleição, com o sem Lula à Frente. E a burguesia golpista sabe disso, tanto é que já tratou de aprovar algumas medidas eleitorais que levam a divisão do movimento popular e de esquerda. As leis aprovadas que dizem respeito à cláusula de barreira e as coligações proporcionais, fazem com que cada organização busque um caminho próprio para demarcar espaço. Também, mantendo a incerteza sobre a principal candidatura do campo popular com viabilidade eleitoral (Lula), dentro da sua própria sigla (PT) e nos movimentos populares e de esquerda, democráticos e populares, faz com que outras candidaturas tendem a se lançarem. E além disso, o método burguês das pesquisas eleitorais, incentivam e afundam candidaturas a cada nova rodada, proporcionando um ambiente propício a divisões.
Com a Frente Ampla, é possível criar uma força capaz de intervir nessa conjuntura e de derrotar pontualmente a direita. Também com ela (Frente Ampla), podemos mais decididamente não ficar à mercê das brisas fabricadas pela burguesia e ainda limitar a ação da Social Democracia, aliada histórica da conciliação de classes, bem como restringir o esquerdismo, que busca a estreiteza e o sectarismo dos movimentos. Ainda, com uma Frente Ampla, contra o imperialismo e o Fascismo, é possível retomar a luta democrática no nosso continente e defender o caminho do povo Venezuelano contra o imperialismo Ianque. É uma Frente que faz frente a uma conjuntura momentânea e futura, que não abre mão de intervir em todas campos de luta de classes.
Colocar-se à cabeça da construção de uma frente ampla contra o golpe, a direita e o Fascismo, é tarefa prioritária do nosso Partido e demais Revolucionários; mas também é tarefa dos Democratas, progressistas, patriotas e demais partidos de esquerda e popular. Derrotar a direita e o golpe é a grande tarefa que precisaremos levar a cabo. A burguesia tudo faz e fará para que essa unidade popular não se concretize como já está fazendo. Portanto, essa Frente por si só é tarefa imprescindível e de difícil construção. Mas só assim estaremos armados para enfrentar os desafios da luta de classes em nosso país, nos mais diversos campos e em todos eles com perspectivas de boas vitórias inclusive as eleitorais.
Assim estaremos assumindo o comando, sem ficar à mercê do subjetivismo, do relativismo absoluto, e muito menos, do ecletismo. A filosofia Marxista desde o seu nascimento negou o aspecto filosófico existente até então, proclamando que o erro dos Filósofos foi sempre tentar compreender o mundo, mas o mais importante é transformá-lo.
– Em defesa da Frente Ampla
– Fora Temer
– Contra o Golpe e o Imperialismo
– Pela unidade dos Comunistas.
João Bourscheid.
Faça um comentário