Em meio à polêmica viagem aos Estados Unidos e na sequência dos atos multitudinários contra os cortes na Educação Pública que sacudiram o país 48 horas antes, no dia 17 de maio, as redes sociais ficaram em polvorosa quando Jair Bolsonaro compartilhou um enigmático texto – escrito por um filiado ao Partido Novo – que versa sobre as “dificuldades” ou “impossibilidades” de se governar o Brasil sem os “conchavos” dos quais o presidente da República, supostamente, se recusa a participar. De modo geral, a divulgação de tal texto deu margem à interpretação que este pode ser o indício de uma futura renúncia de Bolsonaro. No entanto, uma observação atenta da conjuntura atual conduz à hipótese de que, pelo menos dentro da correlação de forças vigente, este ato trata-se de uma tentativa de fortalecimento do grupo bolsonarista no Governo Federal, por meio da mobilização de seus apoiadores e eleitores, num momento de fragilização perante os outros Poderes e de ascensão da oposição.
Após 100 dias de um governo marcado pela implementação de uma plataforma antinacional, antidemocrática, obscurantista, conservadora e antipopular, o Planalto enfrenta sua maior crise, manifestada, sobretudo, pelos atropelos e desentendimentos entre os grupos fundamentais que compõem o Executivo nacional que, além do núcleo bolsonarista – movido por uma cruzada anticomunista e por um nacionalismo de fachada, do qual Olavo de Carvalho é o principal mentor – conta ainda com os militares do alto escalão; os tecnocratas ultraliberais de Guedes e os puritano-punitivistas de Moro que, apesar de estarem ligados, todos, a uma mesma lógica relativa à luta de classes e à concepções ideológicas, sobretudo quanto ao receituário econômico, operam motivados por interesses próprios.
Sendo agora vidraça e cada vez mais forçado a descer do palanque, Bolsonaro se viu, nas últimas semanas, diante de, pelo menos, três pautas que minam a popularidade já em baixa de seu governo, bem como sua credibilidade e capacidade de articulação política: os cortes na Educação e em Pesquisas – inicialmente justificados por critérios ideológicos para combater a “balbúrdia” das universidades e institutos federais e, depois, defendidos como um “contingenciamento” subordinado, em forma de chantagem, à aprovação da contrarreforma da Previdência; o que impôs ao Governo uma importante derrota diante do chamado Centrão, por ocasião da convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, a prestar esclarecimentos sobre os cortes ao Plenário da Câmara dos Deputados –; as disputas em torno do Plano de Reestruturação do Governo Federal, que deseja-se aprovar até o início de junho e tem gerado grande desgaste com o Congresso Nacional, principalmente em relação ao ponto que trata de tirar das mãos de Moro o COAF – já que isso toca diretamente nas investigações sobre Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e demais “laranjas”, suspeitos de lavagem de dinheiro e envolvimento com milícias; denúncias que atingem o clã cujo patriarca é o próprio presidente da República –; e, por fim, as querelas entre os militares do alto escalão e Olavo de Carvalho, que levaram Bolsonaro a tomar partido de seu guru contra o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Diante dessa conjuntura e da divulgação do citado texto, não tardou para que o bolsonarismo voltasse a se mobilizar, convocando-se atos nacionais de apoio ao presidente para o próximo dia 26 de maio, numa tentativa de arregimentar aqueles ainda cevados pelas demagogias eleitoreiras ou a legião de fanáticos que veem em tudo uma conspiração marxista.
Apesar da aparente fragilidade do Governo Federal, é preciso que os setores democráticos e progressistas não subestimem tal mobilização, pois, hoje, é possível avaliar que o bolsonarismo tende a se tornar maior do que o próprio Bolsonaro, portanto, não será derrotado facilmente, uma vez que trata-se de um fenômeno inserido em um contexto mundial amplo, marcado por um período defensivo na luta de classes e de avanço da extrema direita.
Os massivos atos do dia 15 de maio precisam confluir para um patamar melhor delineado e não podem tornar-se mais do mesmo, sob pena de esvaziarem-se as pautas. Nesse sentido, é preciso que as manifestações que já estão sendo convocadas pelas entidades estudantis para o próximo dia 30 sirvam como acúmulo de forças para um desaguadouro maior que, no horizonte mais próximo, será a Greve Geral de 14 de junho, que também não poderá limitar-se a si própria, devendo ser, na verdade, uma etapa a mais para se avançar na articulação e na conformação de um amplo movimento democrático e popular capaz de explorar as contradições internas do Governo Federal e inviabilizar sua política econômica ultraliberal, que oferece flancos débeis que devem ser atacados, pois coloca-se em oposição aos interesses nacionais e da maioria do povo brasileiro.
Ainda que não se possa derrotar, em uma tacada só, o avanço da extrema direita, vitórias pontuais do campo democrático e progressista tendem a enfraquecer a capacidade política do Governo Federal e aumentar a insatisfação popular, que se agrava diante da deterioração das condições de vida, seja nos aspectos econômicos ou sociais.
É tarefa, portanto, dos setores politicamente mais avançados, sobretudo dos comunistas, construírem as ferramentas adequadas para, a partir dos Movimentos Popular e Estudantil – expressões das mais pujantes bandeiras reivindicatórias da vida política nacional – organizarem e mobilizarem a população em torno dos temas sensíveis que afetam diretamente cada segmento e, assim, de maneira hábil, denunciarem os desmandos e os perigos do bolsonarismo e de sua política econômica, bem como disputarem o imaginário social, conduzindo ao avanço da consciência de classe.
– Ampla unidade democrática e popular para barrar a extrema direita!
– Mobilização e organização para derrotar o bolsonarismo!
– Denunciar e rechaçar, nas ruas, a política entreguista e ultraliberal de Bolsonaro!
– Todo apoio à luta contra os cortes na Educação!
– Rumo à Greve Geral!
Secretaria Nacional de Movimentos Populares e Juventude do PRC
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