A atual conjuntura de crise consolidada pelo governo fascista e golpista de Jair Bolsonaro demonstra com obviedade a fragilidade pela qual passa o sistema capitalista. Quase diariamente Bolsonaro semeia uma nova crise, seja por meio de suas falas, ou de seus atos no governo. Assim, contribui para que fique cada vez mais latente a divisão séria e profunda que ocorre no seio da burguesia. As brigas com constantes ataques e contra-ataques entre ele, Rede Globo, Dória, Witzel, Mandetta, Moro (e esse leque de desafetos ao seu governo vai crescendo cada vez mais), não deixam a menor dúvida: o nome de Bolsonaro é crise.
Mesmo quando “controlado” por conselhos de um setor da burguesia que pressiona para que Jair Bolsonaro evite escaramuças, essa tranquilidade dura muito pouco. Bolsonaro, faz um discurso conciliador, exaltando o diálogo, a democracia e o respeito às instituições em um dia, mas no outro retoma o confronto e cria novas crises e novos desafetos.
Essa forte divisão burguesa, somada à crise estrutural sem precedentes do sistema capitalista, abre uma janela histórica (realidade que só não é percebida por alguns “retranquistas” e por outros que amam perder o bonde da história). Em outras palavras, criam-se as condições para desenvolver uma luta revolucionária, que vá além da resistência, passando para a ofensiva capaz de derrubar o capitalismo e erguer a sociedade socialista.
Nenhum sistema cai sozinho, por maior que seja sua crise, para garantir seu fim, é preciso derrubá-lo. Neste sentido afirmou Lênin em “A Comemoração do Primeiro de Maio pelo Proletariado” de 15 (28) de Junho de 1913:
Nem a opressão dos de baixo, nem a crise dos de cima, são suficientes para produzir a revolução – a única coisa que produzirão será a putrefação do país – se o referido país não possuir uma classe revolucionária capaz de transformar o estado passivo de opressão em estado ativo de cólera e de insurreição.
Esta reflexão serve para que pensemos sobre a referida cisão da burguesia, em uma perspectiva dialética e não de forma mecânica. Quando a pauta é o ataque ao proletariado, essa divisão é relegada ao segundo plano. Mesmo diante de suas “brigas intestinais”, a burguesia unifica-se para retirar direitos dos trabalhadores e as aprovações de MPs que garantem duros retrocessos para a já fragilizada classe proletária, dão um exemplo indubitável disso. Não são poucas as derrotas impostas ao proletariado nesse momento.
Contudo, junto a essa conjuntura de crise, há um outro fator a considerar: vivemos diante de uma grave pandemia. O COVID – 19, longe de ser uma “gripezinha”, é uma doença de rápida e ampla disseminação. A gravidade dessa pandemia acaba por impor o isolamento social para aqueles que tem condição de fazê-lo e que estão conscientes da situação. Diante disso, surge um duro paradoxo: enquanto temos uma conjuntura com tantos fatores para lutar, grande parte da esquerda está isolada dentro de suas casas e a direita, que afirma não existir a pandemia, realiza atos nas ruas. Sem falar, que os rumos do país estão sendo disputados apenas pelos diferentes setores da burguesia. A esquerda, fica a margem dessa disputa, pois está, como já dito, respeitando a quarentena. Esse é o “X” da questão, e mais uma vez o título da obra de Lênin surge para a esquerda: diante da paradoxal conjuntura “O que fazer?”.
Primeiro é preciso que os setores mais conscientes do proletariado percebam que não é possível confiar a superação da pandemia, ou a garantia da sobrevivência individual de proletários, aos burgueses, seja do setor que for. Muitos dirão ser “estreita” essa afirmação, mas, é possível confiar que os “Despostas Esclarecidos” Dória, Eduardo Leite, Rede Globo etc. não cederão as pressões do capital e não jogarão o proletariado no meio da pandemia, sacrificando suas vidas em nome do lucro? Em verdade, sabemos que uma parte considerável do proletariado já está jogada a própria sorte em meio ao caos que se institui e as flexibilizações ao isolamento encaminhadas por estes governantes já nos dão uma boa pista da reposta à pergunta.
Em segundo lugar, tendo consciência da gravidade das “incertezas” que o proletariado enfrenta quando o seu destino está nas mãos da burguesia, é preciso desenvolver a consciência de que necessitaremos, em um momento que está cada vez mais próximo, romper com o isolamento social e tomar as ruas para derrubar Bolsonaro, Mourão e a burguesia como um todo. É claro que para isso, devemos levar em consideração o máximo de medidas que poderão minimizar as consequências da pandemia, que preservarão os mais frágeis.
Alguns dirão em um primeiro momento, ser loucura, um devaneio, defender sair às ruas em um momento como esse. Mas, aqueles que levam a sério a luta de classes e representam de fato os interesses proletários, não tardarão a dar-se conta que maior loucura é ficar dentro de casa torcendo para que a burguesia respeite as nossas vidas e que não sacrifique o proletariado em meio a pandemia. Logo estes representantes do proletariado perceberão que há egoísmo em ignorar a vida de milhares de proletários que em favelas e outras comunidades, estão já agora, neste exato momento, relegados a própria sorte, expostos à pandemia, sem água, sem sabão, sem comida, sem saneamento, sem o mínimo de condições de vida e dignidade.
Precisamos nos preparar politicamente para o momento que se aproxima de sair do isolamento e ir à luta, organizando nossos militantes para que tomem consciência de que a necessidade nos obriga e que não fazê-lo nos deixa a certeza de que os corpos empilhados em sua imensa maioria serão proletários, como já tem acontecido. Preparar, conscientizar e mobilizar os militantes, significa sedimentar o tão necessário terreno para que a luta avance com passos seguros e sólidos.
É claro, não podemos cair no voluntarismo. Sabemos que ir para as ruas nesse momento é necessário, mas precisa estar vinculado com um embate que realmente valha a pena, isto é, com uma luta que gere movimentos que sacudam a estrutura da burguesia como um todo.
Em síntese: a fragilidade do sistema está exposta e a divisão da burguesia está colocada fortemente. O momento de aprofundamento da crise, agravada pelo COVID -19 abre uma janela histórica. Não existe espaços vazios na luta de classes, ou avançamos, ou o fascismo se consolida cada vez mais, em cima do sangue do povo. E diante disso, a máxima de Rosa Luxemburgo “socialismo ou barbárie” está na ordem do dia.
Nós do PRC defendemos que uma boa palavra de ordem para ir às rua neste momento e com o sentido referido é: “FORA BOLSONARO E SUA CORJA!”. Entendemos que através deste imperativo podemos gerar efervescência política, incertezas burguesas, pois ela (a palavra de ordem) pautada pelo povo nas ruas e não apenas pela cisão burguesa, muda a essência da atual conjuntura, dando um importante “ponta pé” para a discussão da necessidade de novas eleições, do caráter burguês e fascista do governo, dos limites do sistema etc.. Enfim, um movimento com uma pauta claramente política, que radicaliza, pois não é moldada pelo economicismo, mas que ao mesmo tempo amplia, pois não impede que os que possuem ilusões economicistas se empenhem em engrossá-lo.
A conjuntura está clara: ou vamos à luta nas ruas, ou nosso destino seguirá nas mãos da burguesia! Nenhum avanço confiável por completo se dará sem a participação direta da única classe verdadeiramente revolucionária, o proletariado. Cabe a ele o protagonismo em defesa de seus interesses como classe e antes de tudo de sua própria vida.
– FORA BOLSONARO E SUA CORJA!
Everton Barboza
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