Parece um tema completamente fora de contexto, a discussão de Reformas ou Revolução. Mas foi exatamente no período da primeira guerra Mundial, que a ala vermelha do Partido Social Democrata alemão, com o nome de SPARTACUS, comandada por Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht, romperam com a direita deste partido. Para muitos, que acompanharam de perto aquela discussão, parecia que a própria Rosa e Karl eram uns esquerdistas sem noção de realidade. Pois a conjuntura era de recuar e não avançar. A campanha pregada por Rosa de chamar o povo a rua, fez com que a mesma e muitos revolucionários e operários fossem presos e mortos pelo Estado Fascista Alemão, pós primeira guerra mundial. Muitos condenam a forma com que a militante comunista tenha tratado os fatos e a direção do PSDA (Partido Social Democrata Alemão) chamando-os de traidores, defensores das Reformas. No entanto, a vida demostrou que Rosa tinha toda a razão. Não era simplesmente as Reformas ou a Revolução que estavam em jogo, mas a condenação do Reformismo, contra o liquidacionismo do partido proletário e por consequência o abandono da Revolução.
Todas as vezes quando se impõe uma crise de grande monta, e cresce a direita e os fascistas, abrem-se as tendências às grandes transformações. O fato determinante disso, que são eles (a direita e os fascistas – a burguesia por base) que estão desesperados para manter seu sistema porque o Capital falha. As massas começam a se mover, primeiro no campo econômico, pois é nesse campo que também a direita e os fascistas se movem. No segundo, aniquilamento político da classe antagônica por vias de quebrar as suas organizações. Sem elas, apenas sob o espontaneísmo, as massas não conseguem avançar. Daí o porquê, Lênin adverte: “Sem teoria Revolucionária, não tem nem movimento revolucionário”.
Portanto, a questão da Reforma ou Revolução, como discussão dentro do golpe aqui no Brasil, não é nada mais do que algo objetivo. Se não fosse assim, a burguesia em nosso país não estaria Reformando tudo o que vem pela frente. Educação, saúde, previdência, eleição e trabalho. Ataque em todos os flancos ao proletariado. Quando se faz Reformas nessa profundidade, é por conta que as mudanças estavam também prenhas de revolução. Mas, quando olha-se apenas para um lado, é atropelado pelo outro, pois a via é de duas mãos. Além disso, já começou e faz muito, os ataques as lideranças populares e de esquerda, bem como a suas organizações.
E quem novamente trouxe esse tema para a ordem do dia foi o próprio Lula. Em minha opinião, de uma forma totalmente equivocada. Mas Lula não é nenhum intelectual que precise os termos de sua fala o qual, muitos são improvisados. Tem a genialidade de se comunicar com o povo. O Lula é, em essência, o próprio povo. Mas, se nós do PRC trabalhamos na perspectiva de ganhar o proletariado mais avançado para juntos dirigir a Revolução, não podemos se aquietar quando esse caminho (da Revolução) é condenado pela maior liderança de nosso país. Se Lula tivesse um amigo de verdade, deveria ele dizer que, precisa-se de Partido para fazer a Revolução, e um partido de esquerda, já para as Reformas as vezes não. Se os intelectuais que o cercam não são capazes de fazê-lo é porque pensam igual. Lênin desde o início construiu um Partido para a Revolução e sempre disse que sem partido não tem revolução.
Mas o que é mais importante? Se Lula anunciou que não quer a revolução é porque de certa forma a luta de classe lhe exigiu um posicionamento. E ninguém se posiciona em algo extremamente importante quando a necessidade não lhe cobra, quando ela, (a necessidade) não lhe cutuca com vara curta. Porque esse posicionamento se torna a pedra angular para as posições seguintes. E qual era em essência: levantar-se diante do Estado de exceção, fascista, ou compactuar com ele. Para Lula esse era o incômodo. E resolveu, diante de uma decisão política a ser tomada por ele e muitos que estão em sua volta, teorizar o seu caminho.
Fugir da discussão Reformas ou Revolução, tangenciar, dizer que é revolucionário porque defende também as reformas, etc. são possíveis, porquanto as novas tarefas ainda não se colocaram. Porém, quando a objetividade da política impõe novas tarefas, que se opõe a ditadura burguesa, é preciso enfrentar na prática esse embate, o campo teórico exige uma definição, e para tanto, é preciso enfrentar os seus fantasmas. O PCB, maior partido em 1964, defensor da revolução, quando foi chamado as novas tarefas, escondeu-se em baixo de uma série de análises conjunturais, para não enfrentar seus algozes.
Lula nunca defendeu a Revolução. Mas também, nunca precisou dizer que não lutava por ela abertamente. Tinha logicamente um outro projeto de vida política e era honesto no seu empreendimento. Lula já foi preso, já sofreu os infames da fome, miséria, sentiu na carne todos os males do Capital e de sua classe personificada (a burguesia) no trato do pobre, do proletariado. É nesse momento que um homem, uma liderança dessa magnitude, que pode contribuir imensamente para a luta contra o golpe, a direita e o fascismo, pode também se aprofundar nos conhecimentos teóricos da luta de classes. É preciso mostrar que sem REVOLUÇÃO o mundo que ele almeja é utopia e, sem a construção de um PARTIDO para isso, a utopia é dupla. Talvez seja essa a hora mais propícia para se entender isso, para o povo não pagar um preço muito maior.
O caminho das Reformas sem Revolução é o caminho do reformismo. O caminho da Revolução sem levar em conta certas reformas, cai no revolucionarismo, ou seja, no esquerdismo. E, em um momento como este que precisamos unir forças, longe de nós está a ideia de contar apenas com os revolucionários, seria um erro fatal. Porém, erro maior seria, por conta de uma unidade tão necessária aceitar contrabandos teóricos, que fortalecem o liquidacionismo político proletário. E mesmo com a força diminuta dentro de uma frente ampla que propomos pra enfrentar um golpe de estado, a direita e o fascismo, a luta em todos os campos permanece e, a luta teórica é essencial. E se entendemos que a verdade está do nosso lado, porque não chamar atenção tanto para o erro conjuntural, a ação prática, e as ilusões teóricas. Seria de nossa parte, um descompromisso com a luta que pretendemos representar.
Dos aliados, não exigimos que tenham a Revolução como bandeira de Luta, exigimos isso de nossos militantes. Porém, a sanha do positivismo já é extremamente forte dentro da direita, dos liberais, dos ultraliberais etc., porque deixaríamos este pensamento também crescer dentro de nossa própria paróquia (aliados), sem que isso, nos conduzisse para disputar também a consciência daqueles que nos cercam, que estão próximos.
Frente ampla para derrotar o golpe, a direita e o fascismo.
Lula Livre.
Viva a Revolução.
Sem Partido Revolucionário, não tem revolução;
João Bourscheid
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