A AMAZÔNIA, O “BODE” E O IMPERIALISMO

Há alguns dias, escrevia que, do jeito que as coisas vão e diante do imobilismo do social-liberalismo brasileiro, que neste país faz as vezes de “esquerda”, em sua domesticação institucional-parlamentar, caso seja “permitido”, chegaremos a 2022 com esses setores achando “excelente” ter um Dória ou um Amoedo na Presidência da República.

É que o bolsonarismo trata-se de uma força política que veio para ficar, colocando-se, atualmente, em uma posição tão ou mais forte que o lulismo. Tanto é que determinados atores do golpe, tendo a rede Globo à testa, para os quais Bolsonaro e seu projeto sempre foram uma espécie de “remédio amargo”, porém “necessário” para impedir um novo triunfo petista nas urnas, têm buscado construir uma pseudo-simetria entre ambos, como se fossem polos opostos de um mesmo campo “radical”, que deve ser evitado. Mas, tendo em mente que sem uma luta política levada às últimas consequências – o que não está em pauta para a “esquerda” reformista –, Lula não será novamente candidato a nada, bem como que, tal qual se assistiu nas últimas eleições presidenciais, sua capacidade de “transferir” carisma e votos é limitada, certamente, na atual conjuntura, o maior capital político-eleitoral deste país é o bolsonarismo.

É justamente por isso que, caso não haja, desde já, um amplo movimento, que ganhe as ruas e o imaginário popular, cuja palavra de ordem seja o “Fora, Bolsonaro”, opondo ao atual Governo um projeto que supere os limites do social-liberalismo, no qual encontra-se toda a “esquerda” institucional-eleitoreira, em dado momento, existindo o pleito de 2022, sob a perspectiva defensivista que tem imperado nesse setor, sempre a reboque das pautas colocadas pela direita, para alguns, parecerá uma “dádiva” mais uma vitória do ultraliberalismo, só que vestindo sua máscara “polida” e “civilizada”.

De certa forma, esse quadro ocorre porque, tal qual verifica-se no conto popular do “bode na sala”, Bolsonaro foi alçado à posição em que atualmente encontra-se justamente para ser um mal maior, perante o qual, qualquer alternativa será um alívio. No entanto, como temos assistido nos últimos meses, pode ser que não seja tão fácil assim retirar esse “bode” do “meio da sala”, no caso, da Presidência da República, apesar dos inúmeros constrangimentos e prejuízos que tem causado.

Não sou afeito a realizar comparações históricas, afinal, sempre corre-se o risco de generalizações e anacronismos, mas é inevitável não olhar para a situação da América Latina, em especial a do Brasil de hoje, e fazer um paralelo entre a Europa e a Alemanha dos anos 1930, quando as principais potências assistiriam, compactuaram e estimularam o crescimento do nazifascismo, na esperança de que pudessem utilizá-lo para frear o avanço da luta de classes e do socialismo, podendo controlá-lo ou eliminá-lo a qualquer momento. O que revelou-se um erro crasso, pois, na verdade, engolidos pelo monstro que haviam ajudado a alimentar, esses países dependeram da União Soviética para derrotar a “serpente” em seu próprio “ninho”.

O paralelismo com a situação atual do Brasil e da América Latina ocorre por alguns fatores, dentre os quais, fundamentalmente, o contexto de uma crise de grandes proporções no centro do sistema capitalista – Estados Unidos e Europa –, como ocorreu em 1929 e em 2008; pela consequente ascensão de movimentos nacionais em países da periferia desse sistema, que buscavam fugir às suas amarras, reivindicando ou dialogando com o socialismo, como se assistiu, principalmente na América do Sul, desde o final dos anos 1990, com o fracasso do ciclo neoliberal iniciado na década anterior; e por fim, pelas disputas interimperialistas, que no caso dos anos 1930, relacionavam-se ao rearranjo da geopolítica internacional após a Primeira Guerra Mundial, e no contexto atual, estão associadas a esse mesmo movimento após o desaparecimento da União Soviética e a passagem dos países do leste europeu ao modo de produção capitalista, quando, num primeiro momento, de “olho” em outras regiões fundamentais, como o Oriente Médio, a potência imperialista que exerce o principal domínio sobre as Américas, os Estados Unidos, acabou por deixar o “seu quintal” um tanto quanto “desguarnecido”: situação que começou a alterar-se já no início desta década, e que agora atinge seu auge, com o total alinhamento da mais importante economia da região, o Brasil, ao imperialismo ianque, e as agressões e ameaças de intervenção militar contra a Venezuela, que acendem o alerta sobre a iminência de um novo conflito mundial, de consequências apocalípticas, tendo em vista que outras potências, como a Rússia, a China e a própria União Europeia – como verifica-se pelas declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, acerca da Amazônia – também colocam em jogo, aqui, seus interesses.

É dai que pode advir a dificuldade em se retirar Bolsonaro, não sendo por menos que, diante da crise causada pelas queimadas na Amazônia, seu pronunciamento oficial ter deixado claro que “países do G-7”, no caso os Estados Unidos, estão “dispostos a ajudar”, sinalizando que não está isolado no cenário geopolítico mundial. É importante notar que sua mudança de discurso em relação à Amazônia e às queimadas não está, de forma alguma, sustentada por um sentimento nacionalista, tendo em vista sua total subserviência aos Estados Unidos, ou a uma preocupação ambiental, algo que não se coloca como pauta relevante nem para seu Governo e nem para a política de seu “chefe”, Donald Trump. A questão trata-se, exclusivamente, da referida disputa interimperialista, afinal, seria ingênuo também acreditar que a preocupação da França, da Alemanha e da União Europeia, de maneira geral, em relação à Amazônia seja, de fato, ambiental.

O que está colocado é o embate pelo espólio do Brasil após o golpe, restrito, ainda, ao confronto de interesses políticos, econômicos e diplomáticos, mas que tende a agravar-se, tanto quanto, cada vez mais, o Brasil posicionar-se enquanto uma colônia estadunidense. Para as potências europeias, que nesse caso também calaram-se diante da investida da extrema-direita golpista no país, colaborando para colocar o “bode na sala”, sua retirada começa a mostra-se como uma questão estratégica essencial.

Nesse quadro, diante das considerações expostas, aos verdadeiros nacionalistas, aos democratas, ao campo progressista e à esquerda consequente e socialista, não resta outro caminho se não a condenação de qualquer forma de ingerência imperialista sobre o território brasileiro, seja ela europeia ou estadunidense, bem como lutar pela derrubada imediata do Governo Bolsonaro, que é uma grave ameaça à soberania nacional, à paz, à vida e ao desenvolvimento em nosso continente.

Abaixo o imperialismo! Tirem suas mãos da América Latina!

Por uma ampla frente, democrática e progressista, contra a extrema-direita!

Fora, Bolsonaro!

Socialismo ou morte!

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