Um dos temas mais abordados na filosofia Grega foi a tentativa de decifrar a relação existente entre a vontade, a contingência e a necessidade. Logicamente e historicamente, não havia condições de uma profundidade do conhecimento sobre a luta de classes como motor da história, nem condições de entender o valor das mercadorias, pelo simples fato de viverem sob o júbilo da escravidão. Por isso, a dificuldade de ir adiante com esses parâmetros na sociedade classista naquela época.
Ao contingente compete o acaso. A necessidade age como supremacia, pouco se importando com o acaso, que ora salta aqui e acolá. Mas o acaso não se dá por vencido, e de certa forma, sempre coloca uma marca junto à necessidade. A dificuldade dos filósofos Gregos entenderem esta condição foi o fato de que separavam metafisicamente a necessidade do acaso. Não viam a unidade e a luta dos contrários. Tanto isso é verdade, que a lógica formal foi o resultado ou a síntese, de um método construído e que floresceu em toda a história antiga e se incorporou no modo de produção Feudal, aprofundando o seu histerismo obscurantista, o qual o princípio da não contradição era a essência do conhecimento.
E, na Sociedade Capitalista, o acaso tornou-se mais importante que a necessidade. O acaso é o dominante, e a necessidade, o acaso. O golpe na Bolívia foi fruto das eleições fraudulentas; o golpe no Brasil foi fruto das pedaladas da Dilma, nos diz a Burguesia Imperialista. A ruptura “democrática” feita pelos golpistas não está condicionada nestas análises burguesas, pelo antagonismo de classes e o limite do Estado Burguês (necessidade objetiva). Ora, os golpes, as guerras, as intervenções em todos os países são uma necessidade do imperialismo. O acaso é a não intervenção, que por sinal, de forma alguma, está condicionado à sua vontade (imperialista), a exemplo do que ocorre na Venezuela, pois certamente não foi por falta de vontade que esse país não foi invadido pelos EUA.
Já o Socialismo, mesmo sendo um perigo iminente para a burguesia, é um acaso para parte da esquerda, e ainda, uma vontade e uma utopia para alguns. A inevitabilidade do Socialismo para esta parcela “anticapitalista” não está condicionada dentro da necessidade objetiva da luta de classes antagônicas dentro do capitalismo, mas sim por uma questão moral, ética, etc., do mesmo (o Capital) não responder às necessidades básicas da grande maioria do povo. Quem não vê o Socialismo como inevitável, não vê a dialética, apenas enxerga a unidade e a luta dos contrários de forma metafísica, isto é, sob as bases do desenvolvimento, entende que maiores e menores condições de vida para a grande massa do povo é um problema de gestão, de criar oportunidades, de inclusão, etc., para aqueles que nada têm. Em outras palavras, é uma questão de vontade política.
Uma vontade política é uma ideia política. E as ideias são produtos subjetivos (espirituais) das condições objetivas. Desencarnar a ideia (espírito) das relações de luta de classes, produz-se fantasmas, ou, como diz Marx, são vítimas das ilusões de que as ideias são natas ou andam com seus próprios pés, tal como a religião, a justiça, a filosofia e a política. Pensam que essas instituições e ideias não nascem de uma base econômica, a qual reflete toda a superestrutura objetiva e espiritual. A vontade, portanto, só resiste em um longo período se as ideias que se ligam ao sujeito são realmente reflexos de uma luta de classe objetiva, necessária, correta, científica. Por isso, todas as vezes que tentam matar o Marxismo, ele sai desse embate ainda mais fortalecido, pois corresponde a uma necessidade objetiva.
A vontade que, por hora, faz o povo Chileno, Boliviano, Colombiano, ocupar as ruas e exigir respostas à realidade existente logicamente é uma encarnação das condições objetivas insuportáveis, conduzidas pela burguesia de seus países. Não é uma vontade desencarnada. No entanto a burguesia imperialista trabalha para que esse espírito de luta das massas desencarne o mais rápido possível da base real, tendo que para isso, além da repressão violenta, promover medidas que visam distorcer a realidade através de ações ideológicas, tendo como ponto de referência a mentira, fakenews, aos chamamentos à conciliação, por fim, a tendência a ofuscar a luta de classes, como motor. Nesse sentido, não são poucos os resultados favoráveis na história de traição, porém, apenas atrasaram os resultados da necessidade objetiva, pois é impossível lográ-la.
Nestes dias, semanas e meses, de intensa luta de classes aberta na América do Sul, fica claro que a Guerra Civil é uma necessidade de luta das classes antagônicas, que não depende da consciência revolucionária, mas nem por isso significa que não é seu embrião. Sabemos que o tempo de sua formação pode ser rápido ou demorado, pois são ditados também pela necessidade dessa luta para a transformação Social. As armas que a burguesia imperialista usa para manter o poder, bem como suas táticas, não passam despercebidas ou indiferentes ao proletariado. Mesmo que em maioria absoluta, o método declara-se insuficiente. É o momento que se constata a forma Leninista: “Sem teoria revolucionária, não tem movimento revolucionário.”
É aqui que a dialética se pronuncia de forma evidente, que a vontade política, o acaso e a necessidade na luta de classes são uma coisa só, e, ao mesmo tempo, diferentes, ora unidos e ora aparentemente separados, caminhando sempre para superação da contradição antagônica na luta de classes no capitalismo, em prol do proletariado, do Socialismo. Quando essa superação aproxima-se do irremediável, parece que dá tudo certo, isto é, as pessoas estão no lugar certo, e decisões são tomadas de modo a não errar. Há o mínimo para a vacilação. Por isso, à luta!
– Fora, Bolsonaro e sua extrema direita!
– Abaixo o golpe na Bolívia!
– Avante, povo Chileno!
– Fora, EUA da América Latina!
– Viva o Socialismo!
João Bourscheid
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