Vanglória e silêncio

No dia do Natal, o titular do Planalto contou vantagem sobre o derradeiro PIB trimestral e proclamou a sua “fé” inabalável no “reaquecimento da economia”. Em janeiro, logo depois, a fanfarronice foi denunciada pelo texto intitulado “A perna curtíssima da mentira”. Se o editorial tivesse bola de cristal, usaria melhor qualificação – milimétrica –, pois a fábula sucumbiu instantaneamente, como raio, assim que se confirmaram os números sobre o desempenho anual da indústria no Brasil em seus aspectos variados.

Conforme as informações oficiais – Agência IBGE, 4/2/2020 –, a produção recuou 0,6% nos três meses finais do ano passado. Semelhante anúncio está longe de ser um fato isolado, vez que se reafirmou a regressão de 1,1% em 2019, comparativamente a 2018. Apesar das impropriedades na classificação das “categorias econômicas” – que subestimam e até suprimem vários ramos que produzem valor e mais-valia –, trata-se de um dado consistente, capaz de comprovar que o ciclo da crise conjuntural continua.

Sobretudo, a queda se localizou no epicentro substancial da formação econômico-social burguesa, como ilustra o comportamento das estatísticas sobre a passagem de novembro para dezembro: 8,8% para os bens de produção, chamados “bens de capital” no jargão do mundo administrativo-empresarial. Mais ainda: os problemas se localizam também na produção de mercadorias para consumo, em suas ramificações, que são importantes para se garantir a realização ampla e universal dos lucros: declínio de 1,4%.

A notícia funcionou como ducha de água fria nos discursos que animavam freneticamente a sociedade política conservadora em véspera eleitoral. Os capitalistas demonstraram preocupações. Os comentaristas televisivos relativizaram considerações. O “mercado” apresentou, com mitológica impessoalidade, mais uma oscilação de “humor”. Todavia, o que de fato merece atenção geral é o silêncio presidencial, não por existir o anseio popular de ouvir suas palavras tolas, mas pelo contraste com seu jeito boquirroto.

Perante o total emudecimento, as hostes situacionistas fingem que tudo está normal, como se pensassem: “o chefe não pode opinar sobre tudo, precisa concentrar-se nas prioridades”. Teriam razão? Vejamos. Sexta-feira, dia 7: o protofascista exibia sorrisos e um boné ornado com a inscrição “Trump 2020” e a bandeira norte-americana. Em tempos de obscuridade no Enem, fica uma clara indagação de múltipla escolha sobre a conduta bolsonarista: a) omissão; b) entreguismo; c) demagogia; d) frivolidade; e) todas.

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