O País assistiu a uma clara tentativa de autogolpe na última semana de fevereiro. O principal mandatário do País, que há 30 anos vaga pelos corredores parlamentares, vestiu a fantasia de outsider “antipolítico” e “antissistêmico”, bem como articulou a marcha do próximo dia 15 contra o Congresso Nacional e o STF, visando a submetê-los e até a liquidá-los. Paralelamente, multiplicou a sua campanha contra os veículos da mídia, com a intenção de implantar um esquema de censura contra os que recusam, pelo menor motivo, uma identificação absoluta com as bulas ultraconservadoras formuladas no Palácio do Planalto e aplicadas pela sua turba de fanáticos.
Imediatamente, vastos setores da sociedade se manifestaram. Pronunciaram-se inúmeras personalidades, organizações políticas diversas, parlamentares com distintas ideologias, ministros-membros do Supremo e, principalmente, representações do movimento popular, inclusive as centrais sindicais. Destaque-se a nota escrita e assinada por vários partidos legais oposicionistas: em que pese a sua timidez, favorece a unificação ampla dos setores nacionais, democráticos e progressistas – nucleados e dinamizados pela esquerda – em defesa da soberania brasileira, do regime democrático e dos interesses econômico-sociais das grandes maiorias.
Em face das contradições interburguesas, do insuficiente endosso ao plano aventureiro nas Forças Armadas e da resistência democrática, intensificou-se a negociação por cima em nome de arrefecer os fatores de crise, salvar o reclamo parlamentar e garantir a governabilidade. O acordo firmado entre o chefe da extrema-direita e os presidentes congressuais – manutenção dos vetos referentes ao “orçamento impositivo” em troca de projetos legislativos sobre a repartição de verbas – expressa o consenso interno ao capital monopolista-financeiro em torno da plataforma ultraliberal, isto é, contrarreformar para retirar direitos e privatizar o patrimônio público.
Enganam-se, porém, tanto as figuras situacionistas que sonham em civilizar Bolsonaro quanto certos analistas que celebram o fim dos problemas: o evento marcado para o dia 15 é intrinsecamente liberticida; os atos populares de resistência convergirão para o dia 18; as milícias reacionárias jamais desistirão de reconstituir o arbítrio em moldes ainda mais sombrios que os de 1964. Como a promessa de quem bajula torturadores e criminosos como heróis só pode ser o terrorismo de Estado, a maneira de barrar o retrocesso é a união dos brasileiros, acima de suas diferenças secundárias, para isolar e combater o protofascismo em todos e quaisquer terrenos.
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