CORONAVÍRUS E RUÍNA BOLSONARISTA

A contaminação de várias e importantes cidades pelo Covid-19, integrando a sociedade brasileira no cenário planetário da pandemia, opera com base nos padrões sociais concretos aqui estabelecidos e acontece na conjuntura em que o País já experimentava duas crises, por si consideravelmente preocupantes.

De um lado, a permanência do ciclo aberto com a recessão de 2014, em frágil e ziguezagueante recuperação no cenário da fase depressiva mundial, vez que a política oficial – ataque aos interesses nacionais, arrocho ao proletariado e hostilidade aos direitos populares – favoreceu as propensões anárquicas do capitalismo, desorganizou as relações econômicas e atrapalhou a circulação mercantil.

De outro, as iniciativas da extrema-direita provocou seguidos conflitos não só com as forças oposicionistas, mas também com nações amigas, segmentos significativos da sociedade política burguesa e muitos setores que sufragaram o ex-capitão em busca de um equivocado “mal menor”, azedando assim as relações do Planalto com a Câmara, o Senado e o STF para satisfazer à horda protofascista.

A convergência de semelhantes fatores colocou a corrosão governamental em um novo e mais alto patamar. Desvendam-se mentiras sobre a “excelência” das contrarreformas. Desmoralizam-se vaticínios sobre o “próximo destravamento econômico”. Batem-se cabeças em órgãos estatais. Desnuda-se a inadequação das bulas ultraliberais à defesa da saúde pública. Desgastam-se Bolsonaro et caterva.

Considerando-se tal situação, impõem-se algumas conclusões:

contrariamente ao discurso hegemônico – de que a recessão em marcha teria uma causa biológica e até, para os mais sectários, uma origem conspirativa –, o vírus foi precedido pela realidade adversa em processo mundial e com particularidades locais;

a contaminação comunitária só interfere na economia mediante as relações de produção, pois o isolamento interpessoal desagrega o caráter social do trabalho e a inibição da procura reduz a realização de mais-valia, bloqueando a reprodução do capital;

o combate à infecção, agora no Brasil, foi possível não com receitas ultraliberais, mas com medidas emergenciais de saúde pública e amparo a pessoas pelo Estado que os partidos e tecnocratas privatistas pretendem reduzir ao “mínimo”, a toque-de-caixa;

por fim, o viés anticientífico, particularista, sectário e autocrático do núcleo palaciano “duro” não apenas contrasta com iniciativas, critérios e condutas necessárias em face da moléstia – inclusive a solidariedade humana –, como também as sabota na prática.

Eis por que as panelas e colheres tilintaram tanto na semana passada.

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