A BANCARROTA DA ANARQUIA DE PRODUÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A LUTA DE CLASSES PÓS “COVID-19”

Não há lugar no mundo onde as previsões pós Covid-19, não estejam sendo feitas. Nesse sentido, já circulam opiniões em revistas, jornais, livros de toda a ordem, desde liberais, conservadoras, sociais democratas, sindicalistas, revolucionárias, buscando usar e abusar daquilo que a espécie humana se diferencia de todos os animais, isto é, pela teleologia. Sob o assunto da Covid-19 e sua crise, todos se manifestam, dizendo que a mesma terá um reflexo em proporções à grande depressão em 1929, a queda do muro em Berlim (1989), a falência do Lehman Brothers (2008), ou seja, a Primeira levando à Segunda Guerra Mundial, a Segunda na esteira do Neoliberalismo, e a última pela falência do Neoliberalismo. E nessa atual, qual seria a do novo processo em crise e o que resultaria dele? O que está em ebulição? O que está falindo? O que está surgindo?

Nessas previsões, destacam-se as análises de que o mundo não será mais o mesmo após a Covid-19. Alguns intelectuais americanos afirmam que os EUA saiam ofuscados dessa pandemia pela incompetência em tratar da situação, colocando a culpa nos outros. A liderança dos EUA está claramente ameaçada, segundo a visão destes intelectuais. As previsões de que a China está pronta para competir em qualquer área, e está disposta a isso, também são evidentes. Cooperação com a China e não disputa, segundo alguns autores, é o melhor caminho para os EUA, embora muitos estejam certos de que não seguirão os conselhos mais saudáveis.

Além da luta pela liderança do mundo, em relação a geopolítica, outras previsões são anunciadas. Fala-se de perdas econômicas nunca vistas. Demissão em massa. Fim da globalização tal qual a conhecemos. O fim do modelo just-in-time (que faz com que a rotação das mercadorias não fique parada durante muito tempo). Nacionalismo e antimigrações em alta. Um mundo bem menor. Estados totalmente quebrados, inviabilizados totalmente em sua produção. Guerra civil (interna), guerras entre países (externa). Há previsões de uma crise violenta, sem dúvida, basta ver que em menos de um mês, nos EUA, o número de pedidos de seguro desemprego foi de 15 milhões.

As grandes crises do Capitalismo são frutos da anarquia da produção, coisa que jamais um liberal irá admitir, seja ele conservador ou não. Aliás, as tentativas por parte do Capital para superar essa manifestação catastrófica levaram a uma nova necessidade, isto é, à existência da fase superior capitalista, monopolista, imperialista; levando até os “bons samaritanos” a acreditar que o ultraimperialismo seria a chave para o estabelecimento da paz dos mercados, pois acabaria com a concorrência. A Social Democracia entrou de alma inteira, tornando-se renegada. Ficou tão persuadida, que abandonou a revolução e passou a defender esse evento, econômica e politicamente. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial demonstraram que a anarquia da produção resistia, e era uma fantasia querer eliminá-la do Capital.

A nova tentativa veio depois da Segunda Guerra Mundial. Com medo das revoluções e da URSS, criou-se o Estado de Bem Estar Social, um verdadeiro Frankenstein sob o domínio imperialista. Assim que ventos do colapso anunciado do revisionismo soviético já faziam ruído, as águas represadas desceram ladeira abaixo, atingindo todos os cantos do planeta; chegara a onda Neoliberal. Nesse período do Estado Keynesiano, a nova Social Democracia se formou, e é por isso que, de cada três palavras que são faladas, duas são contra o Neoliberalismo, do maldito estado mínimo, o anti-Estado. Chegam até dizer que a burguesia quer acabar com o Estado.

Em 2008, a crise mundial do Neoliberalismo se configurou sob a forma mais clara da anarquia da produção. Uma forma idêntica à queda das bolsas em 1929, isto é, tem máquina, tem trabalhador, tem matéria prima, só não se põe em funcionamento, porque o mercado está abarrotado. Na crise da Covid-19, vê-se o Capitalismo sem condições de fazer álcool gel, máscaras e leitos hospitalares; e continua a produzir petróleo, abarrotando os mercados, sem, contudo, baixar o preço da gasolina. O valor é que determina o valor de uso. Daqui a alguns meses, deve ter tanto álcool gel, luvas, e máscaras que os mercados não vão saber o que fazer com isso.

Dizem os economistas, que a crise de 2008 não foi pior, porque a China assegurou a produção mundial. No entanto, ela também entrou em todos os poros da produção de mercadorias mundiais, participando ativamente da anarquia da produção. Talvez ela novamente possa impulsionar o desenvolvimento, ou, talvez, ressente ainda mais o peso da ideologia capitalista, frente ao seu desenvolvimento. A verdade é que a guerra comercial bancada pelos EUA, principalmente contra a China, demonstrou para os EUA que é muito ruim com a China, mas é muito pior sem a China. Nesse mesmo dilema, está a corja da extrema direita brasileira, com Bolsonaro à frente. Batem na China, mas esperam que a China continue comprando os 2/3 da produção de commodities, do agronegócio.

A burguesia quer sempre passar que a crise é para todos. Não, e sabemos bem. A anarquia da produção, aparentemente afeta os ricos, mas como necessidade de centralização política econômica, dado o modo de produção. Vimos que de 2008 para 2020, período entre duas crises, a pobreza aumentou, mas a concentração de bilionários também. Tem rico que tem mais recursos que 1 bilhão de pessoas no planeta. E quantas desgraças, acima do “normal”, ocorreram na vida de milhões de indivíduos nesses 12 anos. As guerras nos últimos anos na África do Norte, no Oriente Médio, na Ucrânia, o fim dos governos progressistas da América que foram consequências da “marolinha” de 2008.

É inevitável que estejamos diante de uma crise de magnitude extrema, pelo menos na América, que vai dos EUA até a Terra do Fogo. O mundo ficou bem menor economicamente, e bem maior politicamente. A anarquia da produção isolará terras de miséria, e continuará com as zonas ricas. A anarquia da produção continuará exportando comida, mesmo que o povo morra de fome; continuará a se beneficiar do exército de reserva crescente; beneficiar-se-á do Estado policial para manter a ordem dos ricos. Além do fim das aposentadorias no Brasil, demitirá as ganhas o funcionalismo público estável, e contratará uma geração inteira de pessoas para trabalhar o dobro por muito menos.

Este é o caminho que está aberto no Brasil para as forças reacionárias. Qualquer governo progressista optaria por um caminho mais prudente para essas horas. Acabar com o governo Bolsonaro e sua extrema direita é a luta do momento. É preciso derrotar Bolsonaro e sua corja. Mas a crise é de uma dimensão histórica pelo que se apresenta, pois envolve o centro produtivo (não só financeiro) dos EUA. Como foi citado acima, são 15 milhões de pedidos de seguro desemprego em menos de trinta dias. Empregar os trabalhadores novamente em menos de alguns anos, é impossível. E o Brasil, que já vinha com um desemprego altíssimo, com a crise, vai ao extremo. E a América do Sul vai para o mesmo caminho. A guerra civil aberta é inevitável. A anarquia do Capital não conseguirá conter essa onda, a não ser com repressão de todos os lados pelas forças reacionárias, ou, talvez, por governos Sociais Democratas, ante a um governo revolucionário.

De uma coisa não nos enganemos, a América do sul, pós Covid-19, tende ser um novo caldeirão das lutas de classes, abrindo a perspectiva de lutas políticas superiores, dado o momento de crise históricas que vive o imperialismo em sua crise sistêmica. As tentativas de ataques dos EUA a Venezuela, e a fragilidade econômica vividas pelos povos da América do Sul, poderá levar a um novo período aberto de confrontos, bem superiores aqueles que vimos nos últimos meses no Chile. A anarquia da produção em crise mundial leva a guerra, a revolução. Dois movimentos crescem nesse período, a dos Fascistas e dos Comunistas. Subjetivamente vemos isso no Brasil. Quem não reza a cartilha Bolsonarista é comunista. O reflexo objetivo bate nas contradições do cérebro pensante. E para quem diz que o comunismo havia acabado, ou que “o Socialismo deve ser liquidado na América” (dito por Trump) é um sinal, dos novos tempos.

Para darmos o primeiro passo, é preciso, no entanto, a unidade na luta contra o Fascismo que ameaça entrar pesado para assegurar a anarquia da produção, no Brasil e na América Latina. Não nos enganamos, mas tenhamos a certeza de que: O que está falindo efetivamente? É a anarquia da produção, é o mundo burguês, o imperialismo, as ilusões capitalistas. O que está em ebulição é um modo de produção cuja história já passou, e para a luta contra ele (modo de produção) jogará nos campos de batalha milhões de proletariado. E a luta por pão, trabalho, terra e liberdade dará novos impulsos para o que está surgindo: O SOCIALISMO.

– Fora, Bolsonaro e sua corja: Mourão, Moro, Guedes…

– Fora, Fascistas! Fora, EUA, da América Latina!

– Em defesa da Revolução Proletária e do Socialismo.

João Bourscheid.

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