Iniciativa sindical versus marchinha palaciana

A semana passada trouxe o mórbido ingresso do Brasil no epicentro mundial da pandemia virótica e o fracasso indiscutível da nova política vigente no Ministério da Saúde, que se agachou perante o darwinismo social propugnado pelo chefete. Apresentou, ainda, fatos correlatos e significativos. Indiferente à tragédia humana e até festejando-a como coisa natural da vida – uma vez que os mais “aptos” sobreviveriam para reproduzir o capital –, o Presidente da República preferiu deslocar-se ao STF marchando por 100 m, para pressioná-lo a lhe conceder a prerrogativa ilegal exclusiva de extinguir a campanha sanitária no Brasil, pisoteando a competência constitucional dos estados e municípios.

Ademais, marcou churrasco em desafio à campanha sanitária, desativado como fake News para esconder o recuo. Todavia, manteve a manifestação miliciana de sábado, anunciada como cerco paramilitar contra instituições vistas como estorvos à contrarrevolução conservadora. Concomitantemente, Roberto Jefferson, notório deputado e criminoso da base governamental, posou de fuzil na mão, declarando-se pronto “para combater”. O tom ridículo do painel reacionário desaconselha risos, pois expressa concretamente o processo autogolpista que Bolsonaro e sua horda conceberam, tentam operar e de fato realizarão caso não sejam barrados pelo campo democrático, nacional e progressista.

Todavia, o proletariado logo respondeu. Na quinta-feira, os principais dirigentes sindicais brasileiros, mediante ofício encaminhado por seis centrais, dirigiram-se ao presidente do STF, solicitando-lhe audiência para discutir as providências de combate ao Covid-19, prevenir as repercussões do afastamento social no mundo do trabalho e planejar os pré-requisitos indispensáveis ao reinício das atividades laborais. Assinam as seguintes instituições: Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB); Central Única dos Trabalhadores (CUT); Força Sindical (FS); Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST); e União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Além de cumprirem o seu dever de reivindicar os anseios e interesses dos trabalhadores brasileiros afetados pela recessão, pela pandemia e pelas políticas antipopulares, as representações deram duas lições. Primeiramente, mostraram ser possível, necessário e urgente agregar o movimento sindical nas lutas concretas, econômicas e políticas, bem como reforçar o caminho da unicidade para resistir aos ataques da extrema-direita e construir a futura contraofensiva dos explorados. Ao mesmo tempo, deixaram o exemplo prático de que a unidade ampla, com respeito às singularidades ideológico-partidárias, pode se opor às tentativas do autogolpismo e salvar o regime democrático.

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