A trajetória intelectual de Karl Marx esteve intimamente ligada à sua práxis revolucionária, na disputa e aliança com as diferentes correntes de revolucionários com os quais conviveu. O marxismo não surgiu na história suspenso no ar, ele tem sua historicidade própria e se desenvolveu no terreno da luta concreta.
Negar que, antes de tudo, Marx foi um revolucionário é negar o próprio marxismo enquanto força-motriz teórica da transformação radical da sociedade, é esterilizá-lo, torná-lo um pensamento estático. E é isso o que o academicismo o faz e o fez por diferentes momentos e por diferentes razões, em sua totalidade pela necessidade de manutenção do status quo.
Marx, enquanto revolucionário, devotou todas as suas forças pela construção da Associação Internacional dos Trabalhadores, em suma, a unidade da luta do proletariado, a unidade dos revolucionários. Ainda que, retrospectivamente, compreendemos que o marxismo seja a ciência do proletariado, portanto, mais avançada, sua corrente jamais foi hegemônica na I Internacional. Em diversas ocasiões Marx e Engels tiveram de empreender lutas de morte contra tendências oportunistas e direitistas, mas também tiveram de conciliar, ampliar à esquerda e manter a unidade revolucionária.
O ponto alto da Primeira Internacional foi a Comuna de Paris de 1871, a primeira revolução de trabalhadores da história, que não seria possível sem a ação consciente e a unidade do proletariado revolucionário parisiense. Desde proudhonistas, blanquistas, jacobinos, bakuninistas, internacionalistas até os poucos marxistas, compuseram o governo da Comuna que existiu por 72 dias em meio ao cerco e à Guerra Civil e que só caiu pela aliança de Versalhes com o governo Prussiano. A unidade revolucionária no período de choque imperialista possibilitou a tomada do poder em meio à guerra.
Após o refluxo revolucionário e com o esmagamento da experiência communarda, Marx, ao final da vida, estudou a língua russa e passou a estudar a Rússia com particular interesse e a manter comunicação direta com diferentes forças revolucionárias do país. Um dos movimentos que o entusiasmou foi o Vontade do Povo, que possuía uma plataforma próxima do socialismo, mas com diversos desvios anarquistas influenciados por Bakunin. Então, qual o motivo para um “teórico” apoiar um movimento que não expressava as suas proposições? Pergunta de simples resposta: Marx era um revolucionário e se colocava ao lado dos revolucionários legítimos onde quer que estivessem, seu apoio não dependia de pormenores teóricos ou programáticos. Pois, ele tinha consciência de que a própria luta política faz a consciência avançar e, sem unidade, não há possibilidade de vitória. Idealismo é imaginar movimentos puros, sem disputas internas, de uma força metafísica que guia o proletariado ao poder, a história não é assim.
Durante a Comuna de Paris, o exercício do poder popular, como relatou Bakunin, fez muitos jacobinos tornarem-se, na prática, socialistas. O poder popular fez vacilantes proudhonistas tornarem-se ferrenhos contra revolucionários. Mas, fenômenos como esses, só ocorrem no exercício do poder, na contradição do real, nos desafios que o processo nos coloca. Antes disso e, em períodos de crise, a unidade dos revolucionários é fundamental e isso está marcado na vida e obra de Karl Marx.
Nada mais anti-revolucionário, nada deforma mais o próprio marxismo-leninismo que cindir o movimento, alegando pormenores programáticos, com o fascismo crescendo e batendo à porta. Os tentáculos do imperialismo e do golpe esmagando o proletariado e as forças agindo como o inimigo, combatendo a unidade dos revolucionários. Foi legada à II Internacional a tarefa de deformar o marxismo até tornar o movimento operário um apêndice progressista de uma burguesia proto-democrática. O reformismo, o oportunismo de direita e a vacilação do centro fizeram com que, a partir desse momento, o chauvinismo nacional e a luta economicista permeasse a Internacional. Ainda assim, o retorno à Marx e Engels como “referências intelectuais”, ou, mais especificamente, espantalhos dogmáticos ou falsificações, foi realizado. Pois, para os reformistas, para aqueles à reboque da burguesia não é útil um Marx revolucionário, não é útil a unidade dos revolucionários.
Pois, façamos jus ao legado de Marx, lutemos pela unidade dos revolucionários. Fora Bolsonaro, Mourão e toda a sua corja! Em defesa da unidade ampla da esquerda. Lula presidente!
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