Soberania, Autodeterminação dos Povos e a Guerra Imperialista

Entender a guerra atual entre a Ucrânia e a Rússia é ter bem presente de que o lado corre a água do moinho que faz a história avançar. Além disso, significa saber que junto com essa posição, para nós comunistas do PCPB, o Brasil é central, pois de nada adianta divagar sobre o que acontece lá, se não sabemos como dar encaminhamento adequado às contradições de classes que se acerbam por aqui; o marxismo é um guia para ação e a convergência teórica de um quadro e outro (internacional e Nacional) são imprescindíveis para a ação revolucionária. Portanto, a análise da Guerra que acontece entre esses dois países (Rússia e Ucrânia) já afeta do ponto de vista econômico todos os lugares, todos os países. Não é mais uma guerra local. É por isso que os países do mundo inteiro se pronunciaram sobre guerra, isto é, de que lado estão. Para os comunistas no Brasil, que lutamos para derrotar o golpe, um governo de extrema direita, genocida, entreguista, é decisivo darmos um passo decisivo em defesa da soberania popular brasileira ter um quadro preciso e uma posição sobre à guerra.

Para tanto, começamos com algo que para os comunistas é decisivo, isto é, a questão da soberania. Os meios de comunicação pró imperialistas são unânimes em defender o direito à soberania da Ucrânia. Como esses defensores da mídia brasileira monopolista nunca souberam o significado dessa palavra, porque nasceram virados do avesso para o lado do Norte, acham que soberania significa beijar os pés do império ianque ou da Otan. Ora, os golpistas de 2014 na Ucrânia e agora governados por Zelensky levantam a bandeira da submissão, da dependência, da sujeição ao imperialismo dos EUA e da Otan, chamando isso de soberania. Pelo contrário, trabalham contra o próprio povo ucraniano. Esse governo é igual a extrema direita em nosso país, que lambe as botas dos EUA, e diz lutar pela soberania quando passa a entrega de todo o tipo de reservas naturais e áreas construídas para os grandes oligopólios internacionais para tirar o máximo de lucro e tornar o povo miserável. Isso para o Bolsonaro e seus lacaios é soberania.  Utilizar a crise ou a guerra para vender mais caro para o povo desde o tomate até a gasolina é soberania para eles.

A diferença do golpe lá na Ucrânia é que desde o início foi um golpe político/econômico, pois a primeira ideia era de invadir a Rússia, de desestabilizar o país vizinho, para derrotar política e economicamente a China, dando fim à perspectiva de construir uma oposição ao todo poderoso EUA e à Otan. O processo do golpe na Ucrânia tinha como alvo a soberania Russa, portanto, uma guerra híbrida. Derrotar a Rússia seria o primeiro passo da hibridização, pois a ideia não era ela o alvo final, e sim a China e a unidade que esses dois países buscavam.

No Brasil, o golpe teve como elementos principais o econômico e o político, pois o primeiro aspecto (econômico) unia toda a burguesia e seus partidários, na perspectiva de tirar direitos trabalhistas, previdenciários, assistenciais, sindicais, e a entrega de grande parte das nossas reservas aos monopólios estrangeiros, um verdadeiro saque econômico.  O segundo aspecto do golpe logicamente foi com a intenção de derrotar os BRICS e destruir a esquerda. Talvez parte da burguesia brasileira se lambuzou demais com os ganhos (embora a nata da riqueza ficou por fim, para os oligopólios estrangeiros, banqueiros e multimilionários), ou porque o golpe se tornou fácil demais, que vacilou em levar até as últimas consequências. A extrema direita buscou levar adiante o golpe político, mas não conseguiu a unidade para tanto, pois a esquerda soube responder em determinado momento à altura e a direita liberal sentiu que também poderia ser linchada nesse processo. As tentativas de ucranização do golpe foi muitas vezes exposto pelos golpistas de extrema direita.

A imprensa pró-imperialista, que pensa do avesso em relação à Soberania, até porque se enquadra como otanista, quando quebra um galho, sustenta-se em outro. De vez em quando, vejam bem, os golpistas falam até em democracia e autodeterminação dos povos. Se a soberania significa para a Ucrânia ser escravo da Otan, logicamente, para eles autodeterminação dos povos significa os deveres e direitos de serem escravos da Otan. E isso é não ter direito, é não ter autodeterminação. Incrivelmente isso acontece com o Bolsonaro aqui, que, ao defender a Rússia, foi mandado ficar quieto e votar com os EUA na ONU. Uma vez entendido que soberania é ser pró-imperialista, todo o princípio de autodeterminação dos povos e democracia é sustentada sob o ideal imperialista. E mesmo quem ajudou a construir esse caminho, divergir em dado momento, é aquietado, pois nesse caso, permitiu que o fascismo institucional tivesse livre trânsito em seu país. Uma vez lambe botas, sempre lambe botas.

E por fim, a respeito da guerra ser interimperialista, a trama em considerar a Rússia imperialista e diminuir a dimensão da guerra levando-a para os campos economicista e imperialista; é prestar um serviço a uma concepção vulgar, rebaixada, possibilitando a farra da burguesia imperialista, tal como fizera Kautsky.

Lênin, ao tratar do imperialismo, além das questões estritamente econômicas, tem em vista o lugar que o imperialismo ocupa na história. Lugar esse que a Rússia politicamente não ocupa, e, na guerra atual, está diametralmente em oposição às intenções do imperialismo na Ucrânia. A ideia do rebaixamento da luta é propiciar os ataques pesados da propaganda imperialista e dos seus vende-pátria, otanistas, o quarto poder midiático, de reduzir a dimensão da luta colocando-a de ponta-cabeça, onde a soberania, a resistência, o anti-imperialismo, a não submissão aos ditames do império, não passem de uma russofobia, das loucuras de Putin, da luta do bem contra o mal. Nesse terreno, criam-se as bases para o avanço do fascismo imperialista e, logicamente, do oportunismo.

Não saudamos esta guerra em curso como alvissareira, pois para assim fazermos, a guerra precisaria ser revolucionária, proletária, socialista. Mas Lênin também dizia que não se combate o imperialismo sem combater o oportunismo. E, nesse momento histórico, não ver as disposições das forças progressistas, democráticas, soberanas e anti-imperialistas dispostas de um lado do tabuleiro e de outro o imperialismo de meia dúzia de nações que esmagam quem ousar enfrentá-las (EUA, União Europeia, Inglaterra, Japão) é ver a árvore e não ver a floresta, é não dar a devida atenção para o quadro anti-imperialista que se formou  pela unidade Rússia e China; é não ver o significativo apoio que a Rússia teve de quarenta nações, entre elas socialistas e em luta pela sua soberania, nações progressistas e anti-imperialistas. Só a forma como as forças estão dispostas basta para ver que não se trata de um acontecimento entre nação A ou B, mas pelo contrário, tem dimensões históricas e mudanças profundas na correlação de forças, na luta de classes.

A análise, portanto, que nos traz a guerra, é que países que buscam a sua autodeterminação, a sua soberania, a luta se abriu para os dois lados, isto é, para o aprofundamento rápido da escravidão ou para a mudança na direção política do Estado e, por conseguinte, de classe. Por isso chamamos a atenção para a consciência do nosso lado, lado da esquerda, pois o outro lado já sabe bem o que tem a fazer, ou seja, ampliar a dominação, trazer mais miséria ao povo e aprofundamento do golpe, abrindo mais espaços para a dominação imperialista. Chamamos a consciência a essa polaridade em curso que a esquerda não consegue ver nitidamente, pois com a viseira rebaixada vê ou quer ver (ou se enganar) que a luta no Brasil é apenas entre a democracia e o autoritarismo. Aliás, é a fala que toda a burguesia vem apresentando com o intuito de suavizar as contradições, como se fosse possível.

Mas, caso contrário a esquerda brasileira queira tomar a história em suas mãos, verá que a defesa da soberania popular neste momento, tal como a expusemos acima ao apresentar a conjuntura internacional e nacional, é quase um equivalente às teses de abril de 1917, caso se queira levar a luta às últimas consequências, isto é, antiiperialista.  E se assim for, a esquerda verá que o povo não foge à luta, porque o significado da luta soberana ultrapassa as fronteiras das lutas momentâneas, institucionais, eleitorais, economicistas, ligando-se às perspectivas futuras do país e do nosso povo, pois a luta soberana dos povos escravizados pelo imperialismo tem relação objetiva com a luta pela liberdade. Por isso, a defesa da unidade da esquerda ao povo brasileiro deve ser visto como um projeto político e não apenas econômico.

 

Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja.

Por um programa político em defesa da Soberania Popular.

Lula presidente.

 

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