“No dia 25 de Abril de 1974, o restaurante onde eu trabalhava festejava o seu primeiro aniversário. Como os patrões queriam fazer uma festa, o gerente foi até ao Mercado da Ribeira no dia anterior para comprar flores. Podia ter comprado rosas, mas não. Comprou cravos. Nesse dia, como era habitual, apanhei o transporte para a Rua Braamcamp, a rua do restaurante. A casa nesse dia não abriu. Dizia o gerente que não sabia o que estava a acontecer, talvez um golpe de Estado e que, por ser perigoso, ninguém saía”. Conta D. Celeste.
“- Vão para casa, mas antes, passem pelo restaurante para buscar as flores. É uma pena ficarem ali e murcharem”, pediu o dono. E assim foi feito. Juntas, D. Celeste e a sua colega Conceição foram até ao armazém, apanharam um molhinho de cravos brancos e vermelhos, colocaram-no debaixo do braço e saíram. Indignada com a situação, D. Celeste pensou para si mesma: “Está a dar-se uma revolução e eu vou para casa?”. Apanhou o metrô para o Rossio e dirigiu-se ao Chiado onde se cruzou imediatamente com os blindados das Forças Armadas.
– “O que é que se passa”? Perguntou a D. Celeste quando se aproximou de um dos tanques.
– “Nós vamos a caminho do Quartel do Carmo para fazer render o Governo”, respondeu-lhe o soldado.
– “Então, e já estão aqui há muito tempo”? Voltou a interpelar.
– “Estamos desde as duas ou três horas da manhã”. E o militar pede-lhe um cigarro.
– “Não tenho nenhum cigarro, mas tenho um cravinho”, estendendo-lhe a flor, que o soldado colocou cuidadosamente no cano da sua espingarda. D. Celeste foi distribuindo os cravos pelos militares que encontrava pelo caminho até a Igreja dos Mártires, espalhando assim, com seu simples gesto, a cor vermelha de Abril por Lisboa.
Assista ao emocionante depoimento de D. Celeste no vídeo abaixo:
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