Durante a copa do mundo em muitos grupos dos WattsApp’s, principalmente da esquerda, mostravam os salários dos jogadores brasileiros que estavam jogando na Rússia. Cifras mensais de um jogador do tipo do Neymar, por mês, é um salário de um trabalhador brasileiro que, para alcançar aquele soma expressiva de valor, teria que trabalhar mais ou menos 1000 anos. Sim, pra ganhar o que um jogador de alto nível ganha em um mês é preciso trabalhar 1000 anos. E por incrível que pareça, os jogadores parecem ser a ira das redes sociais. Porém, quem os paga? A insignificante parte da mais valia roubada dos trabalhadores.
Mas por incrível que pareça, eles, são assim bem pagos, porque são os patrocinadores das mercadorias, que são feitas pelos trabalhadores. São excelentes vendedores. Além de servir economicamente aos intentos dos capitalistas, servem também ideologicamente, pois servem para manter a ilusão das crianças pobres, que um dia serão como eles, bem como, também para manifestar a ira contra algo insignificante do capitalismo, deixando os capitalistas livres e soltos. Eles próprios (os capitalistas), ora ajudam a depreciar tais atletas, e outras, de demostrar que é possível sair da miséria. E na Política, são sempre utilizados; contra a Dilma por exemplo, tínhamos vários jogadores de alto nível, bem como os de baixo, que se manifestaram a favor do golpe.
Essas denúncias e ações não servem como crítica ao Capital. Aliás o isenta, pois o problema passa ser o indivíduo que recebe aquela fortuna, e que se tivesse caráter, diria para os grandes empresários que desejaria ganhar como um trabalhador comum e que faria o mesmo trabalho. Talvez deixaria contente o Capitalista que lhe contrata. Talvez, sejamos mais moralistas e começamos uma campanha em defesa dos monopólios que não paguem tão bem certas figuras do futebol. Mas aí, é melhor eles fazerem propaganda para o boteco da vila onde eles moravam, e não pra Mcdonald, Adidas, Ferrari, etc. Embora pequenos, não deixam de ser, como já salientou Marx, as incubadoras do Capital que nascem a cada dia. Mas, deixaríamos mais contente a nossa pequena burguesia. Se esforçam para melhorar o capitalismo, e o capital agradece.
De qualquer forma, esse dinheiro não voltaria para as mãos, nem de quem critica, e nem de quem é extraído a mais valia que é paga os craques. Também, deveríamos salvar os monopólios, dos altos salários que são pagos os executivos das grandes empresas, pois roubam os próprios donos com altos salários, também pagos pela mais valia produzidas pelos trabalhadores. Deveríamos levantar uma campanha de protestos, e os banqueiros, agiotas, trustes de todo o tipo, provavelmente financiariam essas campanhas. Mas não precisam se incomodar, nós sabemos das dificuldades que é fazer todo o capital funcionar, e só estamos impedindo que pessoas, ganham fortunas e cobram preços exorbitantes por conta de um trabalho, que se não é igual de um trabalhador comum, também não é merecido determinadas fortunas. Estaríamos triunfantes. O capitalismo iria melhorar.
Também condenamos os altos salários pagos pelo estado burguês aos juízes, legisladores (vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, ministros, secretários, etc., e CCs de todas as espécies). E esses, também são pagos pela mais valia roubada do trabalhador. Também a burguesia gostaria de, há muito, se livrar deste pagamento todo. Enfim, que a engrenagem toda do Estado burguês poderia funcionar, digamos com 1/10 de gastos, economizando 9/10. Aí sobraria mais dinheiro para a educação, esporte, lazer, saúde, etc. Os salários de outros trabalhadores no Estado, poderiam ser maiores, sendo possível adequar a máquina. E, aqui novamente, os nossos esquerdinhas tem a solução para administrar o Capital.
Todos contra os afortunados do futebol, todos contra os executivos e seus altos salários, todos contra os salários altos do Estado burguês. Menos para todos. Essas falas, os meios de comunicação burguesa estão repletos, e pessoas de esquerda acham que estão dizendo novidades. E quem os fala, pensa que está criticando o Capital, muito pelo contrário, está ajudando a desviar a crítica central ao modo de produção burguês. Em essência é uma crítica contra o próprio trabalhador, pois sai na defesa do Capital, apontando que tem jeito melhor de governar. Não é nem uma luta economicista, sindical pois, o retorno do dinheiro é direto para os próprios capitalistas no caso dos craques e no caso dos executivos. Na verdade querem saber administrar melhor que o rei (capital).
No terceiro caso, quanto ao funcionalismo do Estado, Lênin e Marx já trataram disso a bastante tempo. Marx, expressa-se na Comuna de Paris, à respeito do tipo de estado pós revolução proletária, como a ditadura do proletariado que é a forma de quebrar com o Estado burguês e Lênin no livro sobre o Estado e a Revolução. Nos dois artigos, fica claro que a burguesia não consegue fazer com que essa máquina deixe de sugar grande parte de suas forças ( a produção de mais valia).
O Temer, após o golpe, disse que diminuiriam os gastos que o estado tinha, pois as contas não fechavam. O enxugamento que ele fez, foi vendendo as estatais. Já os gastos com os salários dos golpistas ( inclui aqui isenção das grandes empresas nacionais e estrangeiras, fim das dívidas dos latifundiários, créditos aos grandes monopólios a perder de vista, doações de terras, minérios, petróleo etc.) além de gastos suplementares para manter o golpe e os golpistas, tudo isso, fez com que as contas de gastos, do estado, aumentassem. Sem contar que, os salários dos demais segmentos de trabalhadores, estão congelados, sem que haja investimentos por 20 anos.
A burguesia, não tem como se livrar dessa máquina que consome fortunas. Mas, para muitos da esquerda, há saída sim, tem como moralizar essa situação toda. Ora, é só ver a situação que estavam os militares no final do seu governo, tinham uma máquina extremamente pesada e nem andava. A nova constituição de 88, não diminuiu os gastos, aumentou ainda mais. O governo Lula, que fez um bom governo, aumentou ainda mais os gastos do Estado, e não foi só com o campo social, foi fazendo também concessões aos grandes monopólios de todas as áreas, e principalmente para o setor financeiro.
Portanto, se fizermos campanhas para acabar com as mordomias dos altos salários dos Estados, também a burguesia nos acompanhará. E eles á fazem todos os dias, dizendo que os impostos são muito altos. Parecem até que governos e empresários não estão de mãos dadas, como se um fosse o inimigo do outro. Quantas vezes o Lula baixou o IPI dos carros por pressão das montadoras? Quantas vezes o Estado tem que engolir o não repasse ao INSS das contribuições das empresas? Quantas isenções foram dadas a Rede Globo, etc. Por fim, está é a máquina burguesa e não adianta querer modifica-la mantendo o Capital.
Por isso, os nossos inimigos não são os nossos craques que ganham fortunas de grandes monopólios; não são os executivos de grandes empresas que ganham mil ou mais vezes que o trabalhador comum, nem os Juízes, ministros, parlamentares, e administradores em geral que ganham altos salários, nosso inimigo é o Capital e sua classe nele personificada, isto é, a burguesia. Se para ele sobreviver (o Capital), tem de operar da maneira que opera, gastando fortunas para manter o sistema, é problema dele. Nem com toda a nossa boa ação, produziremos resultados favoráveis ao proletário nesse terreno. Não gastamos energia para atacar algo que só produz consciência de classe burguesa. E, é por isso que, é tão bem explorado pela pequena burguesia, tal como, a corrupção, os impostos, etc.
Hora de dar um salto de qualidade em nossa análise. Os golpistas andam a cata desse tipo de expressão, justamente para desviar dos assuntos de primeiro escalão. Foi assim que o Temer deu o golpe, isto é, rebaixando a política. Só conseguiremos uma massa de proletariado consciente do seu papel de classe, quando o proletariado conseguir saber que a burguesia é a classe que existe porquanto existir o sistema do Capital. E para acabar com o capital, tem que mudar o modo de produção, e não ajustá-lo. Não se acaba com a burguesia mantendo o Capital.
Por fim, se essa discussão não avança um palmo sequer em relação a consciência dos trabalhadores, pois rebaixa a discussão; por outro, deixar de torcer por sua seleção, ou ficar de costas para esse evento e todos os demais, se distanciando do povo, perde-se a oportunidade de fazer política junto as massas, isto é, de defender o Brasil e propagandear a luta contra o golpe, a direita e o fascismo.
– Abaixo o Estado Capitalista.
– Contra o Golpe, a direita e o fascismo.
– Lula livre.
– Viva a Revolução e o Socialismo.
João Bourscheid.
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