ENTRE A MORTE E O EXÍLIO, A LUTA!

Ser temerário não é uma virtude e não é apenas pela força das ideias que conseguiremos suplantar a força das armas. É preciso que quem ainda possua tal ilusão acorde urgentemente para a realidade. Nesse sentido, foi correta a decisão de Jean Wyllys de – em razão das inúmeras ameaças à sua vida que vem sofrendo – não tomar posse do mandato de deputado federal para o qual foi eleito, afinal, está cada dia mais notório que em diversas instâncias do Estado e setores da sociedade, práticas fascistas e criminosas são disseminadas e incentivadas livremente contra as esquerdas e suas lideranças políticas. Guardo em relação à Jean Wyllys importantes críticas, sobretudo por seu posicionamento quanto à política externa e outros temas específicos, no entanto, é inegável sua contribuição como parlamentar durante seus dois mandatos, principalmente na resistência ao golpe. Nesse ponto, Jean sempre esteve do lado certo da história e fará muita falta.

Jair Bolsonaro se elegeu prometendo perseguir, prender, exilar e até matar comunistas, socialistas, “esquerdistas” e ativistas sociais em geral. Fortes indícios apontam para o envolvimento de seu clã familiar com as milícias e é provável que tal promessa já venha sendo cumprida há alguns anos, faltando apenas ser legitimada e oficializada. A tática é bastante conhecida em regimes fascistas: nos calam pelo medo ou pelo desaparecimento físico. Portanto, não há nada o que se estranhar quando Jair Bolsonaro e seus “garotos” comemoram publicamente, de maneira triunfalista, a renúncia de Jean Wyllys e, embora a forma da comunicação seja em tom de “brincadeira”, estamos diante de um perigo real: todos nós que somos oposição a seu governo corremos risco de vida.

Não podemos, de forma alguma, ceder à tentação de acreditarmos que o Governo Bolsonaro esteja enfraquecido e virá abaixo rapidamente. Nada indica que isso acontecerá a curto prazo e muito menos que ocorrerá pela ação das esquerdas e do campo progressista. A única forma de nos fortalecermos para esse duro combate é por meio da organização e da unidade em uma Frente Ampla e Popular.

Em nosso favor, temos o fato de sermos milhões e crescermos proporcionalmente na medida em que crescem a opressão, a miséria e a violência fascista do sistema capitalista. Se Jair Bolsonaro e seus “garotos” podem comemorar a renúncia de Jean Wyllys, nós – do lado de cá – podemos comemorar que outro deputado, David Miranda, também de esquerda e homossexual – tudo que em Jean era mais odiado – assumirá seu mandato.

Tem que ser assim e precisa ser assim: para cada um de nós, preso, ferido, exilado ou tombado em combate, muitos outros se levantarão.

Que Jean Wyllys possa, do seu exílio político, seguir combatendo o fascismo e a supressão do regime democrático em nosso país, afinal, a luta não se dá apenas no parlamento.

Que nós, aqueles e aquelas que permanecemos, tenhamos o discernimento, a força e a organização necessárias não apenas para sobrevivermos ou resistirmos, mas – unidos em uma Frente Ampla e Popular – lutarmos até as últimas consequências contra o fascismo e vencermos aqueles que nos querem matar.

Cedo ou tarde, venceremos!

Por Fábio Rodrigues

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