Apresentado-se o resultado das eleições majoritárias do primeiro turno em 2019 consolidou-se no Rio Grande do Sul aquilo que já era aventado como um cenário provável de segundo turno: a disputa ocorreria entre duas candidaturas representantes do campo da direita. Esta era a avaliação do setor mais consciente da sociedade gaúcha ao analisar a conjuntura daquele momento, o que se confirmou nas urnas.
Diante disso, certas organizações de esquerda (sindicatos e partidos políticos), passaram a indicar o voto no candidato do PSDB, Eduardo Leite, alguns de maneira mais aberta, outros de forma mais escamoteada. Estes grupos justificavam a indicação em Leite, afirmando que era importante dizer um não ao projeto de Sartori (MDB). Dentro da defesa que apresentavam existia a premissa de que, se Sartori fosse eleito, sua vitória soaria como uma aprovação aos ataques neoliberais já aplicados pelo ex governador. Afirmavam ainda, mecanicamente, que votar nulo era o mesmo que “ficar em cima do muro” e que isso era uma atitude inconcebível, dentro da lógica de suas formações.
Sartori parecia dar razão a essas organizações de esquerda, que viam, em conjunto com o restante da população gaúcha, o apoio declarado do “gringo” a Bolsonaro (embora essas organizações pouco utilizavam isso como um fator determinante para não se votar no emedebista). Demonstrando sua essência fascista, José Sartori utilizava o termo “Sartonaro”, referindo-se ao voto conjugado Sartori aqui e Bolsonaro lá. Com esta postura, Sartori inviabilizava todas as hipóteses de algum progressista arriscar-se a votar nele. Não que Eduardo Leite tivesse posição diferente da do gringo: já na primeira declaração pública que fez após o resultado do primeiro turno (ainda na noite de domingo pós o pleito), Leite declarou o voto em Bolsonaro.
O PRC, rompendo com a lógica economicista dessas organizações de esquerda (que apontavam o voto em Leite), munido da ciência marxista-leninista, apresentou uma avaliação ideológica, materialista, por meio da qual afirmava que o voto em Eduardo Leite representava um risco ainda maior do que em Sartori, para a classe proletária gaúcha. Destacava-se naquele momento que Leite contava com o stafe melhor preparado, do ponto de vista burguês, para implementar o neoliberalismo no estado. Leite apresentava uma articulação mais forte que a de José Ivo Sartori. Além destes pontos, o fato de ser um jovem pesava, já que a representação da juventude costuma gerar confusão na massa que passa a crer que toda candidatura com esta característica, carrega um projeto que romperá com a velha política.
Diante de tais circunstâncias, o PRC afirmava, por meio de suas avaliações que os dois projetos eram o mesmo. Representavam o neoliberalismo, o desmonte dos serviços prestados para o povo pelo estado (saúde, educação, segurança…), os encaminhamentos das privatizações, as retiradas de direitos do proletariado e fariam coro ao fascismo de Bolsonaro, fortalecendo-o. Defender o voto nulo representava para o PRC a deúncia de que as duas candidaturas tinham o mesmo projeto e que nem com um nem com o outro haveria possibilidade de dialogo e negociação. A posição pelo voto nulo, se materializava como resistência para dizer não ao que estava por vir. Portanto, o voto nulo rompia com qualquer possibilidade de ilusão sobre um ou outro projeto. Era preciso resistir desde já!
Como afirmou Lênin na obra “Materialismo e empiriocriticismo”, a prática é o critério da verdade e não foi preciso muito tempo para se comprovar o acerto de posicionamento do Partido da Refundação Comunista. Em menos de cem dias de governo, Eduardo Leite já deixou claro ao que veio. Além de dar continuidade às práticas do governo Sartori (como é o caso dos atrasos nos salários dos servidores públicos), demonstrou ser mais forte que seu antecessor ao aprovar a medida que retira direito dos servidores e com ampla maioria na Assembleia Legislativa riograndense (o fim da licença prêmio no magistério gaúcho, foi aprovado com facilidade, apresentando o governador ampla maioria dos deputados – 38 votos a 12, para ser mais exato).
Soma-se a isso declarações do jovem governador de que pretende privatizar diversos serviços públicos. A lei no Rio Grande o Sul exige a realização de plebiscito para que um governo possa encaminhar privatizações. Leite pedirá para que os deputados gaúchos derrubem essa lei para que, com isso, possa privatizar sem precisar da opinião da população a respeito. Inclusive, Eduardo Leite teria dito que o povo gaúcho – o mesmo que o elegeu – não sabe votar!
Em menos de cem dias, Leite já diminuiu salários de alguns servidores, apontou que mexerá no plano de carreira do magistério e no direito a aposentadoria dos trabalhadores ligados à previdência estatal. E esses são apenas alguns dos pontos que se sobressaem no momento, mas a lista de ataques (alguns já realizados e muitos outros que estão por vir), deixa assustados e extremamente preocupados, todos que têm consciência do que está ocorrendo.
Nesse quadro, o PRC alerta a todos os sindicatos, partidos de esquerda, democratas, progressistas, movimentos sociais, de que não há possibilidade de negociar com Leite. Não podemos cair no engodo de que há uma mínima possibilidade de convencê-lo a nos conceder direitos, em vez de retirá-los. O governo Leite é um governo que, surfando na onda fascista, da mesma forma que o governo Sartori, vem consciente do seu papel neoliberal, disposto a sucatear o serviço público, entregar riquezas ao setor privado, retirar direitos, acabar com a luta de resistência do proletariado, fortalecer Bolsonaro e o fascismo. Não por acaso, os deputados do PSL, partido de Bolsonaro, já estão em tratativas para compor oficialmente a base do governo Leite, o que não deve demorar a ocorrer. Se perdermos tempo querendo conversar com Leite, negociar com o seu governo, além de legitimar seus ataques, dificultaremos a organização da resistência tão necessária, pois criamos a expectativa ilusória de negociação. Leite receberá, sentará, conversará, mas não haverá negociação. O fato é que de jeito algum recuará por meio da conversa. Para a classe proletária a saída é a luta de resistência, não existe outro, e não por escolha nossa, mas por imposição da conjuntura. Construir a resistência e tomar as ruas! Dizer não a Bolsonaro e não a Leite!
– Abaixo ao governo de Bolsonaro!
– Abaixo ao governo de Leite!
– Frente ampla contra o fascismo!
– Lula livre!
Everton Barboza
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