Faltou coragem a Bolsonaro para decretar o fim da crise no Brasil. Seria escancarar o cinismo e caçoar da credulidade alheia. Preferiu desinformar com mediação: em dezembro, pelo Twitter, repetindo mensagem semelhante há quatro meses, comemorou a taxa do PIB trimestral e proclamou sua novíssima fé: “a certeza de que estamos no caminho certo”. No mais, tem apelado para discursos bizarros e subjetivos, declarando-se “muito feliz com esse casamento hétero [sic.] com o Paulo Guedes na questão da economia” e dizendo que “começamos a recuperar a confiança perdida nos últimos anos”.
Logo depois, o Comitê Central do PRC se contrapôs ao marketing presidencial:
“As estatísticas recentes […] demonstram que a leve aceleração em 2019, além de bem tímida, possui uma dose de artificialismo: foi provocada por medidas como a liberação do FGTS, o rebaixamento nos juros e a liberação de créditos para operações imobiliárias […]. Ademais, o […] PIB no fim de setembro ainda está 3,6% abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2014 […]. Persistindo semelhante quadro, com taxas medíocres ao redor de 1% ao ano, mesmo sem novos […] breques, o desemprego, a precariedade no trabalho e o desalento, que os brasileiros sofrem […], permanecerão elevados […].”
Os recentes números reforçam tal diagnóstico. O produto industrial caiu 1,2% em novembro – pior resultado para o mesmo período em quatro anos e maior retração desde março – e recuou 1,1% em 2019. Mesmo com as falhas nas categorias e nos métodos adotados pelo IBGE – ignoram ramos importantes na criação de valor, extração de mais-valia e reprodução do capital, equivocadamente alocados como “serviços” e “agropecuária” –, constate-se que a queda, sintomaticamente, se concentrou nos setores alimentício, extrativista e automotriz, especialmente na fabricação de bens para consumo.
Portanto, é seguro asseverar:
– o ciclo adverso da economia, desde 2014, continua em situação de concavidade, vale dizer, evoluindo para fora do poço em movimentação lenta e ziguezagueante;
– ninguém pode prever o fim da crise conjuntural com exatidão, sobretudo com a imanente anarquia do mercado burguês intensificada pelas políticas ultraliberais;
– com as contrarreformas, uma eventual expansão será seguida por maiores taxa de exploração, penúria, concentração de capitais e desnacionalização da economia;
– o modo mais eficaz de resistir aos danos das medidas oficiais é a mobilização das grandes massas proletário-populares por suas exigências específicas e políticas.
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