O que tem de comum nas eleições de 1989 e de 2018? A luta pela democracia. Mas qual?

Em primeiro lugar, essas duas eleições deixam muito claro que a luta pela democracia é um valor de classe, sem sombra de dúvidas. Em 1989, ocorre a primeira eleição para presidente, após 20 anos de ditadura militar. Ditadura essa, que condenou a esquerda a tortura, ao exílio a ilegalidade e a morte, em suma, foi o alvo da bestialidade militar, sob o comando dos EUA (Plano Condor). A direita e a extrema direita, que apoiaram o tempo todo a ditadura, naquelas eleições dividiram-se por conta da economia devastada, miséria popular e pela condição política, o povo não os aturava mais. Essa situação, levou a divisão dos principais candidatos conservadores, abrindo as possibilidades para a esquerda triunfar. A democracia parecia estar ao alcance das mãos.

Mas esse simples processo (eleitoral), comum a quase todos os países capitalistas, são produto do amadurecimento político da classe operária que em determinado estágio exige participação nos processos políticos que decidem quem ocupará a chefia do Estado; são ao mesmo tempo processos tacanhos, limitados, e inseguros muitas vezes pra burguesia monopolistas, que sem ter controle eficaz sobre as mesmas e seus candidatos, inviabiliza-as. Em outras palavras, as eleições presidenciais têm esse duplo caráter: de ser parte do amadurecimento da classe operária e segundo, como um domínio seguro do capital no campo econômico e político do sistema, podendo flertar mesmo com um candidato de oposição extrema. Quando a consciência das massas é superior ao controle do capital ( e por essa razão o mesmo está em crise), e ocorre um processo eleitoral, há abertamente fraude e manipulações de toda a ordem. A democracia do capital, tem lado.

Nas eleições de 1989, Lula e Brizola, PT, PSB e PCdoB ( frente Brasil Popular) e PDT, dividem grande parcela do voto popular, chegando quase empatados para o segundo turno, em 2º e 3º lugar. Conjuntura, muito parecida com a eleição atual. A direita e a extrema direita, com seus quadros derrotados eleitoralmente pelo povo, tiveram que apoiar no segundo turno, um candidato conhecido como caçador de marajás. Para não abrir possibilidades para que a esquerda triunfasse. Collor de Melo foi eleito, mas não sem que, o episódio do sequestro do empresário Diniz, fosse a mais clara manipulação do processo. A Globo transmitiu para todo o país, a prisão dos sequestradores, que concidentemente estavam com a camiseta do Lula. Viva a democracia dos monopólios de comunicação, dos torturadores, dos Moros, etc.

Os efeitos desastrosos da política econômica de Collor, levou o povo a sair as ruas pedindo seu impeachment. A burguesia, no entanto, fez a transição, colocando em cena o então Sociólogo FHC, para acomodar as massas e as esquerdas. Nas eleições seguintes, a vitória eleitoral do então candidato do Mercado FHC ( leia-se, dos monopólios e dos imperialistas) era certa. A burguesia tinha novamente o comando e a unidade política. O golpe da reeleição possibilitou um mandato de 8 (oito) anos para FHC. A democracia da burguesia, através do parlamento, rasgava a constituição, já naquele tempo. A reeleição também era fraude.

Naquelas eleições (1989), a esquerda no poder, ainda não “domesticada” plenamente pelo capital, poderia aprofundar a democracia, conquistada com muita luta nos 20 anos de obscurantismo. A palavra Socialismo e Revolução ainda eram elementos centrais das discussões dessas organizações de esquerda. A ideologia Marxista, mesmo com toda a censura no impedimento de literaturas e divulgações de materiais impressos, trazia a sua melhor performance: a luta pela transformação. Por isso, o perigo era eminente. Já foi um parto, em 2002, a direita engolir Lula, mesmo com a economia as migalhas, entregue pelo Neoliberal FHC. Houve de tudo nesse período, desde o medo da globo que colocou a atriz Regina Duarte para aclamar o povo a não votar em Lula, bem como a divulgação da carta ao povo brasileiro feito por então candidato eleito, para acalmar o “mercado” ( leia-se, os EUA e os monopólios). É bom dizer, que a democracia deles só tem validade pelo aval do império.

Agora, nas eleições de 2018, estamos vivendo novamente o acirramento desta luta democrática, no entanto as avessas do que foi até então, isto é, desde 1989. Embora dividida, a extrema direita cresce mais que a direita, e os ataques a democracia, que se traduz no mundo capitalista em 1/10 (um décimo) dos 9/10 da ditadura burguesa. Está ameaçada a parte que o capital permite a manifestação do povo (os 10 %). Além dos saques de nossa economia pelos monopólios, extinção da CLT, uma nova Constituição já está sendo escrita, sem a participação popular, pelos candidatos de extrema direita. Cresce o conservadorismo no País, bem como no mundo inteiro, por conta da crise do Capital, que está levando os imperialistas, as provocações, golpes, intervenções, guerras locais, como saídas imediatas para a crise. A democracia se torna tudo isso, pois ela é necessária para salvar o lucro máximo do prejuízo da burguesia.

As eleições de 1989, marcavam o início de uma transição para o caminho de liberdades políticas, e fim do período do Estado de exceção, dominados pelos generais a mando dos EUA (patrão maior) no Brasil e em toda a América do Sul. As eleições atuais, marca abertamente um novo processo, só que agora, de golpes e de fechamento das liberdades políticas, coincidentemente em toda a América do Sul. Bem a moda da democracia burguesa, nos dois casos, ela só permite aquilo que o sistema permite, a democracia a serviço dos monopólios.

Se antes, as eleições a 30 anos atrás era uma transição do fim do plano condor, sem deixar que a esquerda viesse com muita sede ao “poder”, agora, a marca deste período, é a transição democrática para um novo recrudescimento da intervenção dos EUA na América. Isso é claro como o dia. Por isso as eleições no Brasil, hoje, são mais decisivas que foram em 1989, quando os militares abandonavam o barco para a entrada do projeto Neoliberal. Agora, com a crise do Neoliberalismo, a saída é aprofundá-lo sob o fascismo. A democracia deles não inviabiliza o fascismo, pelo contrário, é um expediente necessário para conter as massas em luta por direitos.

No entanto, vai ficando claro, que as massas estão se movendo em sentido contrário ao nível que pretendiam os fascistas. Na Venezuela, até agora, o povo permanece ao lado de Maduro, e há por parte dos EUA, um pedido “democrático” de intervenção militar. No Brasil, mesmo com todos os ataques para aniquilar as organizações de esquerdas e sindicais, elas permanecem lutando contra o golpe. A maior liderança, mesmo presa, tem ampla massa popular de apoio. E quando uma liderança proletária cai no gosto do povo, a democracia deles logo passa a ser corrupta, condenável pelo monopólio, e põe o dito dirigente atrás das grades, evitando o contato com as massas.

Aqui entre as duas eleições (1989 – 2018) há uma negação da negação. Isto é, a luta pela democracia se coloca em estágio superior, no seu pólo oposto, isto é, ou se avança ou retrocede. Por isso, em hipótese alguma dá para subestimar os fascistas, que crescem. Mas a compreensão nesses últimos episódios de impedimento de Lula concorrer, o povo vai avançando em suas concepções de classe; questionando abertamente a “cega” justiça do golpe, isto é, de que lado ela mesmo está em relação as prisões. O povo vai entendendo, que até o judiciário tem lado na democracia burguesa.

É preciso que não se delimite o processo de conscientização das massas, que está em avanço, devido a polarização de classe, que o golpe trouxe a tona. Por isso, é preciso derrotar o candidato do fascismo, da Globo, do imperialismo, que se traduz hoje em Bolsonaro, Alkmin e no aprofundamento do golpe. Mas é preciso demostrar para as massas, que o sistema burguês atual, o capitalismo imperialista, é a chave para os retrocessos econômicos, do desemprego, da miséria do povo, da exploração sem precedentes, dos golpes de toda a ordem.

É preciso combater, o economicismo reinante em parte da esquerda e na maioria dos movimentos populares, que se deixam seduzir, que democracia no capitalismo, ou em qualquer outro sistema tem um valor universal, e que portanto, as massas podem controlar a burguesia, dominar o capital, e fazer deste sistema algo igualitário, libertário e fraterno.

Essas concepções em nada nos ajudam para as lutas futuras e pelo contrário, nos deixam de mãos atadas. Faz campanha para a ideologia dominante burguesa. Faz-se coro com a metafísica, pois ilude as massas quanto ao movimento correto da economia política. Mascara-se a luta de classes e rebaixa as eleições, transformando-as no pilar da democracia universal.

Pensamos ter avançado das primeiras eleições de 1989 para presidente até as eleições atuais. Elas, foram um período que demostrou sem nenhuma ilusão, o que a burguesia faz, quando a sua democracia não lhe garante o domínio completo. Pensamos que, a consciência sob esses episódios eleitorais, abram a mente daqueles que ainda acreditam no conto da democracia como valor universal. Temos que nos preparar para o que vem pela frente, pois a democracia deles, não vai ficar olhando da janela e ver a esquerda voltar a presidência em um momento em que sua saída, aponta para o fascismo e derrubada de governos progressistas e de esquerda.

Mas também é preciso dizer. Se eles tivessem sempre o controle total das massas e seus planos não fossem infalíveis, como poderíamos ter feito a revolução em Cuba, no Vietnã, na Rússia dos Czares, na China, na Coréia do Norte, no Laos. O certo é que a burguesia está em crise profunda, e seus domínios já lhe fogem os dedos. Por isso, o crescimento do fascismo.

Eleger Haddad é colocar mais problemas na conta do imperialismo e das Oligarquias brasileiras e da América do Sul. E se existe essa possibilidade, não dispersamos. Vamos ganhar as massas, derrotar o candidato deles, e fazer crescer a Frente Ampla e avançar a luta antipopular e anti-imperialista, como parte da tática na luta anti fascista, bem como na luta pela transformação Social, isto é, não da verdadeira democracia, mas da democracia proletária, que como dizia Lênin, mil vezes mais democrática que a democracia burguesa, e por isso, mil vezes mais inconcebível pela burguesia monopolista.

– Fora Temer.

– Contra o golpe, Haddad presidente.

– Abaixo o candidato fascista da Globo.

– Lula Livre.

João Bourscheid

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