NÃO HÁ PORQUE ESPERAR: UNIR FORÇAS, JÁ.

Em momentos de grandes tensões sociais – como o atual – há quem opte pelo conforto das críticas, das avaliações e dos exercícios de futurologia quase sempre inadequados ou impertinentes diante da gravidade da situação. A partir daí, os debates e ações ficam polarizados por questões secundárias e periféricas o que, em geral, leva a embates desnecessários, à perda de tempo e à paralisia. Nossas preocupações, nossos dilemas e nossas incertezas, reais e justas, bem como nossas opiniões e ações não têm o direito de transformar ninguém em mero expectador desta quadra histórica.

“… tentar saber reconhecer quem e o que,
no meio do inferno, não é inferno,
fazê-lo durar, dar-lhe espaço…”
Ítalo Calvino, in As Cidades Invisíveis.

Esta é uma das eleições mais radicalizada e definidora das últimas décadas. Há anos que a ameaça direitista não se faz tão presente. Trava-se uma batalha de vida ou morte – não para os partidos envolvidos, seus dirigentes, parlamentares, candidatos, militantes, ativistas ou simpatizantes – mas para a ampla maioria do povo e de seus já parcos direitos.

Como exemplo, é bom lembrar que as múltiplas expressões do Golpe afirmam não só o apoio ao movimento iniciado com a destituição da ex-Presidente, como também vaticinam o seu aprofundamento. Suas frações mais intensas lançam apelos à tutelaria militar e ameaçam radicalizar qualquer que seja o resultado eleitoral.

A coisa anda feia, complexa, agitada e vem piorando a olhos vistos. A consolidação e o crescimento da extrema direita ultraliberal, encarnada na candidatura de Jair Bolsonaro, é evidente. Tanto em âmbito nacional, como em Minas Gerais, a candidatura ampliou seu apoio, inclusive nas camadas mais pobres e na juventude.

Em torno de um discurso fundamentalista, dogmático, agressivo, anti-humanista, antidemocrático e anticomunista (que se materializa nas críticas ao PT); a extrema direita articula sua campanha por meio de uma malha organizativa, militarizada, religiosa, disciplinada, ousada, fanática (na qual argumentos e opiniões de nada valem) e está disposta a tudo. A sociedade brasileira que, desde os estertores da ditadura militar, não lograra espaços para a direita, assiste, depois de alguns ensaios frustrados, a retomada pública e desavergonhada de seu lado mais extremo, selvagem e truculento.

Destaca-se que o processo é também a tentativa de legitimação nacional e internacional da marcha golpista em curso. Poderá lhe dar fôlego, vitaminá-la, reanimá-la e, na pior das hipóteses, colocar extrema direita à frente do Estado e no protagonismo deste movimento de destruição nacional.

O caminho, contudo, pode ser outro. As eleições poderão abrir perspectivas, criar novas dificuldades para as pretensões golpistas, impedir que elas sigam em frente e, até mesmo, diante de uma derrota e da mobilização popular, barrá-las definitivamente.

Infelizmente perdemos a oportunidade de que o campo democrático, nesse processo eleitoral, fosse um ambiente de unificação das forças populares, tendo como base uma ampla aliança ainda no primeiro turno. Derrotada esta chance, é preciso encarar a realidade como ela se apresenta.

Desde o seu início, o Golpe segue seu caminho radicalizando as contradições da sociedade brasileira e exigindo que se radicalizem também as respostas a ele. Como o Golpe foi inaugurado há pouco e inaugurou também um novo tempo, as respostas dadas e ações assumidas até aqui têm sido insuficientes para o atual momento, e, portanto não têm estado à altura das necessidades.
É, no processo eleitoral, e será também depois dele, preciso adotar novos comportamentos, abandonar preconceitos, rever conceitos, colocar em xeque verdades, refazer opiniões, recuar em muitas políticas, ceder em outras, avançar em algumas, ampliar entendimentos dentro de fora dos círculos mais próximos e, sobretudo, colocar a unidade do campo progressista acima de tudo.

Só assim, será possível trabalhar ativamente no interior da nova realidade, enfrentar os novos constrangimentos, aproveitar as possibilidades abertas, correr os riscos necessários e criar compreensões e alternativas para fazer valer as melhores opções – tendo sempre em vista as liberdades democráticas, os interesses nacionais e os direitos populares e civis.

Desde já, é hora de reunir e agrupar forças diferentes, e muitas vezes díspares entre si, mas com um objetivo comum: fincar um dique no centro desta avalanche em curso e barrar o avanço reacionário. Ou seja: isolar a extrema direita e derrotar a direita ultraliberais. Se assim não for, quem pagará o preço pela irresponsabilidade autoafirmativa, pelo patriotismo de partido e pelo sectarismo político, mais uma vez, será o povo brasileiro – em especial os seus segmentos mais explorados, oprimidos, empobrecidos e frágeis.

A coligação “O Povo Feliz de Novo” – com Haddad-Manuela – reúne as melhores condições para cumprir este papel, avançando agora e na conjuntura pós-eleitoral. Outras opções, ainda que legítimas, carecem de potencial, energia política e de radicalidade necessária de enfrentamento.

Em cada estado e circunstância, os parâmetros de atuação devem ser sempre os mesmos. Os candidatos estão definidos e os votos em disputa. Pouca coisa se pode fazer agora, a não ser intensificar as campanhas. Ações internistas, diversionistas, paralisantes e especulativas só servem aos inimigos.

Em Minas, há de se reconhecer que setores da extrema direita vêm ampliando sua influência. E muitos segmentos vêm transitando das candidaturas presidenciais da direita (Alckimim, Meireles e etc) para a candidatura da extrema direita (Jair Bolsonaro). Tal movimento, vem dando corpo, militância e fortalecendo a campanha de Anastásia.

A coligação “Do Lado do Povo” – com Pimentel e Jô – foi aquela que mais reuniu forças democráticas, pode impedir o retorno da direita ao Palácio da Liberdade, tem crescido significativamente, contribui para as candidaturas nacionais e aponta para a derrota da extrema direita e da direita ultraliberais.

Ademais, seu sólido vínculo com a coligação “O Povo Feliz de Novo” aponta para sua consolidação, crescimento e possível vitória. Importante ainda considerar que a presença na chapa e as previsões de vitória eleitoral da ex-presidente Dilma Rousseff, mais que simbólica, é a certeza de que o combate à marcha golpista ganha corpo, cresce e terá, na sua eleição, um importante ponto de apoio.

Portanto, não é o caso e nem o momento de esmiuçar e provocar pretensas identificações ou identidades particularistas, doutrinaristas, moralistas, individualistas ou partidárias que coloquem o campo democrático e progressista à margem da disputa política real.

As avaliações e as opiniões que nos dividem agora importam pouco ou nada – e precisam ser guardadas para o momento certo. A hora é de somar forças, marchar e combater juntos o inimigo, e, a partir dos possíveis segundos turnos, construir pontes para as refregas que virão depois das eleições. Nos poucos dias que faltam para o desfecho da contenta, é urgente arregaçar as mangas e ir à luta de mãos dadas com o futuro. Portanto, não há por que poupar energias e é preciso gastá-las no único sentido do combate aberto à direita. As pendengas ficam para depois.

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2018.

Mônica Correia
Sávio Bones

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*



The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.