Por Dieter Kempf:
Camaradas!
Hoje, dia 4 de outubro de 2018, me senti tentado a pôr no papel alguns pensamentos sobre a conjuntura.
Não pretendendo relativizar a importância do resultado eleitoral, penso que algo de mais substancial já mudou e que vai nos orientar para além desse processo. Para mim, todos os principais atores do processo político dos últimos anos já estão derrotados, independente da contagem dos votos (é claro que não penso numa derrota definitiva, o que implicaria numa totalmente nova correlação de forças). Tanto os votos em Bolsonaro quanto, em menor medida, os votos em Haddad, expressam uma profunda rejeição, na maior parte não bem consciente, ao conjunto da obra realizada pelo mundo político nesta etapa da nossa história. Essa insatisfação se estende a muitos “ismos”, como o sindicalismo, petismo, lulismo, feminismo, ecologismo, à própria “democracia” como existe, ao sistema partidário, aos governos, governantes e lideranças, enfim, ao mundo oficial, ao Estado. O mal-estar com a coisa pública é generalizado.
Disso tudo emerge com mais clareza a Luta de Classes, expressa na fórmula “ricos X pobres”.
Nada ainda está muito claro para o principal e emergente personagem do momento, o povo. O novo ainda não se descortinou mas está ficando bem claro o que ele não quer mais. Assim, penso que a grande massa de eleitores do Bolsonaro não expressa um voto, seja a favor dos interesses burgueses, seja consciente contra as liberdades democráticas e sim representa um ato de protesto contra tudo que se viu na política recentemente. É claro que existem os interesses de setores reacionários associados com o imperialismo na condução do processo, assim como o apoio de setores da pequena burguesia aterrorizada com a crise. A direita tem sabido tirar proveito da confusão de sentimentos da massa, da fase de negação do existente sem que tenha aparecido de modo convincente uma nova referência política para nela se expressar. O ‘petismo’ faz parte do existente a ser derrotado pelo que significa de esperanças fraudadas. Assim mesmo, Haddad aparece para as massas mais empobrecidas como a continuidade dos benefícios recebidos nos governos de Lula e para os setores mais conscientes e da esquerda como aquele que é capaz de barrar momentaneamente a sanha da direita e o golpismo. Mas nada disso significa que se está dando um cheque em branco ao Haddad, assim como, a massa que votará em Bolsonaro não permanecerá fiel ao seu líder por muito tempo caso ele venha a assumir o governo implementando o projeto anti-popular e autoritário que de fato representa.
O desgaste e consequente descarte eleitoral dos candidatos representantes do chamado ‘centrão’ é uma evidência desse processo em andamento na consciência do povão. Se este fenômeno for real, alguma força terá que emergir do processo para ocupar o espaço hoje vacante e dirigir a montagem de nova alternativa política que retire o País da crise.
Penso que se oferece aos comunistas um novo campo de atuação, muito mais vasto e promissor. O desafio está em apressarmos um pouco o passo na nossa autoconstrução bem como da Frente de Unidade Popular, sem açodamento mas com determinação e firmeza.
Faça um comentário