Nos recentes acontecimentos envolvendo as denúncias de movimentações financeiras suspeitas do clã Bolsonaro, sobretudo por parte de Flávio, que encontra-se no olho do furacão, podemos identificar ao menos dois passos em falso dados pelo senador eleito pelo Rio de Janeiro que se, ainda, não comprometem de todo seus objetivos políticos, fragilizam narrativas que sempre foram caras à família e podem, a médio prazo, minar sua base de apoio popular.
O primeiro deles foi o apelo ao chamado “Foro Privilegiado” que, como consequência, além de aguçar as suspeitas de que há algo a ser escondido, retira o primogênito de Jair Bolsonaro do pedestal dos “mitos” e o rebaixa, no imaginário dos eleitores, aos políticos comuns que, em razão de alguma possibilidade de investigação ou condenação, apelam e fazem uso de seus privilégios. Aqui, como consequência fundamental, há o afastamento entre o político e o eleitor, que passa a enxergar uma desigualdade de tratamento frente a justiça.
O segundo passo em falso ocorre quando, em virtude das investigações, Flávio apela ao argumento da partidarização do Poder Judiciário, algo que ele, seu pai e irmãos sempre fizeram questão de negar quando utilizado pela esquerda para denunciar, entre outros possíveis exemplos, a perseguição à Lula e ao PT. Ao afirmar, em cadeia nacional de televisão, que os promotores do Rio de Janeiro são ligados ao PT ou estão a serviço do partido – perseguindo-o com a intenção de atacá-lo, prejudicando assim o presidente da República – pelo menos para o cidadão mais crítico, o futuro senador abre precedentes para que, dialeticamente, considerem-se reais afirmações como as de que o hoje ministro da Justiça Sérgio Moro possa ter agido politicamente para – ao condenar Lula – retirá-lo do pleito presidencial. Enquanto para a alegação de Flávio restam apenas encenações melodramáticas diante de evidências que o tornam, no mínimo, suspeito, contra Moro pesa, entre outros fatores, suas estreitas relações com políticos de direita e sua indicação como ministro por parte do grupo político de Jair Bolsonaro, principais favorecidos pela condenação de Lula.
É certo que esses dois passos em falso acima descritos, sobretudo quando mobilizados pela mais influente organização de comunicações do país, tendem a potencializar o desgaste do clã Bolsonaro. No entanto, ainda é muito cedo para avaliar, em sua totalidade, os motivos dessa queda de braços e para onde ela levará, afinal, a esquerda e o campo progressista, em geral, parecem ainda não ter forças suficientes para conduzir um processo de fritura e oposição popular vitoriosos. Para que isso aconteça é imprescindível a unidade e a organização, estendendo-se taticamente o arco de alianças com os setores que com o atual Governo e sua base guardem alguma contradição, denunciado e desmascarando, incansavelmente, todos os dias, seu caráter antipopular, entreguista, corrupto e criminoso.
Por Fábio Rodrigues
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