JUNTANDO PONTOS

A passagem da ditadura militar ao regime democrático burguês na década de 1980, de forma alguma foi capaz de eliminar ou restringir a ação dos aparelhos e aparatos repressivos – oficiais e não oficiais – que engendraram-se ou fortaleceram-se no transcurso do regime anterior. Na verdade, o Estado policialisco, truculento, violento, torturador e assassino que herdamos da experiência histórica dos governos militares e outras que o antecederam, é um dos traços mais marcantes e trágicos de nossa sociedade que, nos últimos 30 anos, sob alguns aspectos, apenas reconfigurou-se.

O envolvimento de Flávio Bolsonaro com milicianos presos e procurados, suspeitos, entre outros crimes, do assassinato de Marielle Franco, não deve causar estranheza, afinal, se Bolsonaro pai é um declarado saudosista e apologista dos crimes da ditadura militar, o filho, além de empregar em seu gabinete – supostamente a pedido de seu famoso laranja Fabrício Queiroz – parentes de milicianos pertencentes ao chamado “Escritório do Crime” (grupo responsável por assassinatos encomendados), em diversas oportunidades já demonstrou sua simpatia por tal organização criminosa, tentando, inclusive, homenagear oficialmente alguns dos investigados, como fez seu pai ao exaltar o torturador Brilhante Ustra em pleno Congresso Nacional. Flávio já tentou, também, algumas vezes, emplacar o projeto que tem como objetivo oficializar as milícias no estado do Rio de Janeiro.

Para um observador atento não é difícil juntar os pontos: a toda organização – legal ou ilegal – é de vital importância possuir influência política em prol de seus interesses. Com as milícias não é diferente, e quem melhor do que o clã Bolsonaro para representá-las? A contrapartida? Quem conhece as milícias do Rio de Janeiro sabe do seu elevado grau de organicidade e controle sobre comunidades inteiras, que se tornaram verdadeiros currais eleitorais a seu serviço. Sabe também que, a partir desse controle sobre essas regiões, as milícias movimentam suntuosas somas em dinheiro, seja através de cobranças de taxas à população, exploração de meios de transporte, exploração comercial e imobiliária, tráfico de drogas, entre outras formas criminosas de obtenção de recursos.

Se bem investigado, talvez venha daí parte da explicação não apenas sobre o assassinato de Marielle Franco, mas também, da origem das suspeitas movimentações financeiras milionárias de Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro.

Por Fábio Rodrigues

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