A Filosofia do Golpe: “Flexibilidade e Pragmatismo”. Pra quem?

Passou “batido” a entrevista de Mourão a jornalistas estrangeiros no Rio de Janeiro, no dia 15 de julho, na qual falou da necessidade de “flexibilidade e pragmatismo” em relação à conjuntura mundial e brasileira. Diante do fraco (pra não dizer fiasco) desempenho da economia golpista, e da entrega esquizofrênica das riquezas naturais e produzidas, a extrema direita tenta acenar para o conjunto da burguesia brasileira que melhores dias virão. Além disso, embora estando de joelhos ao imperialismo ianque, vê que de lá, as garantias são apenas de saque, colonização, entrega, prosternação, servilismo, etc. E, nesse compasso, vai ser difícil manter a unidade dos de cima, que já sentem a quebradeira tomar conta.

Por isso ele acena a Deus e todo o mundo, e, portanto, o pragmatismo é a bandeira filosófica a ser empregada. Os golpistas ressentem que a Argentina, sob o domínio novamente do FMI, ou seja, sob o total controle do imperialismo naquele país, vai de mal a pior. Por isso, pensam eles, gastar pólvora em quem tá afundando na merda (governo Macri), talvez não seja muito inteligente. E se der o outro lado (nas eleições presidenciais da Argentina), vamos fechar as fronteiras e perder mais um parceiro comercial, tal qual foi feito com a Venezuela? Então, a flexibilidade salta aos olhos, é melhor ter cuidado para não se isolar de vez, e aumentar o caldeirão interno das quebradeiras e o desgaste político entre os de cima.

E falando no país da revolução bolivariana, diz o vice do Bolsonaro, “essa crise não tem um desfecho em curto prazo”. Mesmo apoiando o interventor imperialista Juan Guaidó a mando dos EUA, vê que colocar essa política como uma das principais bandeiras do país, do ponto de vista econômico, só serve mais uma vez às perspectivas ianques. E por isso, novamente ser flexível é a melhor saída, isto é, defende o Guaidó, é contra o Maduro, mas joga pelo entendimento, “ajudar na busca de uma solução correta que leve a novas eleições”.

Dada a projeção da economia com base num crescimento do PIB de 2,5%, em 2019, o qual já se reduz a 0,8%, é “natural” para quem quer manter o golpe em um longo prazo, não ter uma única crença (EUA), e começar a olhar para o gigante do Oriente (China, maior parceiro comercial do Brasil), e não ter a Rússia como inimiga. Até o todo poderoso Estados Unidos vê que ainda sobrevive, no país central da antiga União Soviética, o espírito antifascista, e que se impõe à trajetória de conquista do planeta pelos ianques, que guardam duras derrotas; tais como a Síria e a Venezuela.

Já em relação a China, Mourão é enfático: “Não há veto a Huawei no Brasil” e há perspectivas de a rede 5G ser licitado para o país, a partir de 2020. Acena para a China, e vê na briga entre Pequim e Washington algo secundário, por mais que cause diarreia nos bolsominions, que se perturbam com qualquer movimento na direção de algo que lembre o Socialismo ou contrarie os EUA.

Esses fatos são importantes para a análise da conjuntura. Primeiro, que os golpistas não estão parados, e querem se fortalecer no nível externo. Querem abraçar-se a todos os parceiros internacionais, principalmente os mais poderosos. Longe, no entanto, que os mesmos não estejam afinados com a política Ianque. O marco aqui é a sobrevivência na luta de classes, e o princípio político para isso é a unidade da classe burguesa, ou seja, da direita e extrema direita em nosso país.

Impedir qualquer movimento mais radical do ponto de vista da esquerda e do povo, só poderá ser contido nessa unidade. Por isso o aceno econômico. Dinheiro, lucro, mais valia abundante, soa bem aos ouvidos da burguesia do mundo inteiro, e também à nossa logicamente, assim como, soa mal qualquer distanciamento destas perspectivas.

Na luta de classes, as resoluções com viés apenas ideológico sustentadas em um longo prazo, só são possíveis a nível do proletariado, pois este já está submetido as desgraças da exploração, por séculos. É por isso que o comunismo de guerra na Rússia resistiu sob todo o cerco imperialista por mais de dois, três ou quatro anos. E é por isso que a Venezuela e Cuba resistem.

Já a burguesia, acostumada a caviar, champagne francês, festas e carros de luxo, quando vê seu mundo despencar, por conta de crise, se individualiza e cada qual tenta salvar seus negócios; e a classe burguesa como uma unidade para a exploração, fica a frangalhos.

É nessa perspectiva que entra a filosofia pragmática. Longe de abandonar a luta contra o Socialismo ou do aniquilamento da esquerda, por parte dos golpistas; mas é um aceno para a burguesia brasileira, na tentativa de manter a unidade. E para isso diz Mourão: “temos que reverter esta situação de crescimento baixo e baixa produtividade, 2019 será um ano importante para concluir a reforma da previdência e encaminhar a reforma tributária (…). Depois será possível pensar na questão política (…)”. Ou seja, vamos nos unir para ferrar com o povo, depois disso concluído, entra a política (economia não tem nada haver com política segundo Mourão), a qual servirá para manter a exploração e miserabilidade do povo, e fazer sobrar “alguns” para todos que se comportarem bem.

Aqui é a prova do pensamento de extrema direita golpista. Façamos o que precisa ser feito (pragmatismo), em prol do Capital; e o povo nós mantemos com política (repressão) sem flexibilidade, bem como entendem os militares do tipo Mourão, Capitão do Mato (Bolsonaro), Vilas Boas, Heleno, etc.

A filosofia pragmática nasce com o imperialismo, isto é, com a tendência aos monopólios e ao lucro máximo. A extrema direita fez do Brasil, nesses poucos anos iniciais do golpe, sujeição completa a essa política, sem resistência alguma. O pragmatismo, portanto, de que ele (Mourão) fala, é levar ao desespero a outra parte a ser entregue, isto é, a venda da força de trabalho do povo brasileiros às últimas consequências de miserabilidade. Pois é a única que resta ou restou ao País. Para isso, precisa de unidade dos de cima.

Essa é a filosofia do Golpe. Flexibilidade para os monopólios e miséria (pragmatismo) para o povo. Portanto, se não haver a unidade dos de baixo (esquerda e o povo), a unidade dos de cima se mantém, pela perversidade que se está planejando contra o povo pró burguesia, bem como, pelo seu histórico, em ter mais medo do povo do que dos dominadores externos.

Mas a história não é apenas uma sequência linear do passado. Ela é o resultado da luta de classes, sendo que o atraso ou o avanço dessa luta, depende exclusivamente, das forças envolvidas em cada momento. No entanto, a classe revolucionária na história tem papel determinante, no que diz respeito a história avançar e na própria divisão dos de cima. De braços cruzados a esperar um resultado favorável, no campo do inimigo, joga-se no atraso.

Por isso, o papel decisivo cabe a esquerda na unidade do proletariado, e desta a ampliação dos desacertos e contradições nos de cima, fato esse, já possibilitado pelo menos subjetivamente, pela crise do Capital. Portanto é preciso denunciar o Golpe e sua Filosofia Pragmática, que em síntese é a miséria e repressão do povo.

– Abaixo Bolsonaro e sua extrema direita.

– A unidade da esquerda contra o golpe e o fascismo é fundamental

– Em defesa de uma nova democracia de classe.

– Lula Livre.

João Bourscheid

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