Pax Americana

Quando estavam se apagando as luzes de janeiro, Washington informou “ao mundo”, em cerimônia oficial e com detalhes, o seu autoproclamado “plano de paz” destinado ao “Oriente Médio”. Pode-se afirmar, de início, que a proposta encerra duas mentiras. Em primeiro lugar, visa tão somente a intervir no conflito entre a Nação Palestina e o Estado Israelense. Ademais, esteve longe de se dirigir ao Planeta inteiro, pois fora combinada previamente com Benjamin Netanyahu, que há 11 anos governa uma parte interessada e que, durante o comunicado, posava triunfalmente com seu anfitrião.

Na verdade, o conchavo entre o imperialismo norte-americano e seu aliado principal na conturbada região do Levante, promove os interesses geopolíticos estratégicos e particulares de ambos. Para percebê-lo, basta olhar o seu desenho:

– “soberania limitada” para o Estado Palestino, com redução-fragmentação territorial e proibição de forças armadas, comprometendo seus potenciais e riquezas;

declaração de Jerusalém como “capital indivisível” de Israel, com desterro do centro político-administrativo palestiniano para um pequeno povoado, Abu Dis;

anexação pelo Estado Israelense do solo sírio militarmente ocupado, as famosas Colinas de Golã, bem como do histórico, simbólico e fértil Vale do Rio Jordão;

manutenção, como enclaves autônomos na Cisjordânia árabe, dos acampamentos patrocinados pelas forças da extrema-direita fundamentalista e chauvinista.

Perante o desrespeito ao direito internacional – Acordos de Oslo e Resoluções da ONU – Mahmoud Abbas denunciou a “conspiração” e declarou que “Jerusalém não está à venda”. Respondendo a Trump, que anunciara um “acordo do século”, falou em “tapa na cara do século”. Na mesma toada, o movimento Hamas disse que a intervenção “foi agressiva e vai gerar muita revolta”. O Irã a rechaçou como “imposição unilateral” para ditar “sanções”. A Liga Árabe também a rejeitou. A Autoridade Palestina rompeu relações com EUA e Israel. As ruas foram tomadas pelas massas populares.

Como virou praxe na política externa dos entreguistas que ocupam o Palácio do Planalto há mais de um ano, a manifestação do Itamaraty foi também instantânea, mas para passar mais um cheque em branco à iniciativa estadunidense. Em nota, elogiou-a como “visão promissora” e “compromisso com a paz”. Trata-se de alinhamento acrítico, total, subalterno, bajulador e vexaminoso. Aliás, certos comportamentos governamentais agora podem ser previstos com exatidão pela meteorologia: quando chove na Casa Branca, Bolsonaro abre instantaneamente o guarda-chuva em Brasília.

2 Comentários

  1. Parece matéria de jornais estilo ‘Forum’… meramente descritiva, contemplativa. Se é esse o papel dos Comunistas, contemplar o mundo de fora desse mundo, longe da política, Lenin estava errado no ‘O Que Fazer’. Fico com Lenin!

  2. Propaganda e Lenin

    Lenin jamais dissociou a propaganda da agitação (aqui entra tb a literatura de denúncia) e organização e ambas submetidas à política (estratégia, revolução). Aqui a chave para o êxito da revolução na Rússia.

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