Ao condenarem o caminho anticientífico do bolsonarismo em relação ao covid-19, um conjunto de políticos no Brasil, entre eles o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), assume a posição de sensato, intolerante à recusa das medidas científicas contra o coronavírus, e levanta a bandeira na defesa de mediadas de isolamento social. Defensor de todas as medidas da contrarreforma trabalhista e previdenciária, defensor das medidas do planalto quanto à retirada de até 70% dos salários dos trabalhadores ante ao covid-19, posa como um vanguardista na luta contra a incrédula extrema direita.
As ideias de que é ruim com Dória, mas pior sem ele, bolsonarista convicto, assim como o governador do RJ Vilson Witzel e outros, são legítimas se considerarmos o abandono da esquerda no combate à extrema direita. O “Fora, Bolsonaro” ainda é produto de intensas discussões, de idas e vindas dentro de direções de esquerda, pelo contra e pelo a favor de tal indicativo para a luta. Portanto, se a esquerda não assume o seu papel de vanguarda nessa ação, e politize tudo que for possível contra o golpe, a intervenção ianque através da lava jato, as contrarreformas antipovo que massacra o proletariado brasileiro, do estado de guerra que está sendo promovido contra a Venezuela, etc., há quem aproveite a contradição para dar continuidade na enganação do povo.
A direita brasileira age como os déspotas esclarecidos de outrora. É fiel ao caminho da casa grande, da tortura econômica ao trabalhador, do militarismo, do golpe, mas é convicta com as perspectivas civilizatórias. Assim como fora, na época feudal, o absolutismo de certos senhores feudais (reis, príncipes) que defendiam o avanço cultural, as novas técnicas, a ciência, aos magnatas burgueses que começavam a ter mais força do que todo um reinado. Tomaram, por vezes, as dores dos burgueses, aparentemente contra a sua própria classe (nobreza feudal), mas em essência na continuidade dela.
Não é diferente o que fazem hoje as várias facções, departamentos, seções de partidos burgueses. Os Democratas nos EUA são contra Trump, mas não contra a guerra na Venezuela, a exploração do mundo sob ameaças de invasão aos povos que não se submetem à América do Norte, a intensificação da exploração de seu próprio povo, a continuidade da guerra no oriente, em defesa do projeto israelense contra a Palestina, a Guerra na Síria, as tentativas de isolar o Irã, e na defesa do golpe no Brasil. Todos, antes de tudo, defendem o anfitrião, o capital financeiro. De Estado “Democrático” Burguês à um Estado Fascista, basta uma crise profunda, desesperadora, ou uma mudança por período bastante significativo no humor do mercado. Objetivamente, essas diferenças se formam aí, e são partes da mesma classe no poder.
Os déspotas esclarecidos de épocas passadas e da época presente procuram ocupar o espaço vazio deixado pela classe revolucionária. As burguesias amedrontadas, diante de seu papel histórico de liderar o povo para a revolução burguesa, viam um caminho “seguro” com os Déspotas Esclarecidos, tendo que amargar, no entanto, os limites, as bajulações, a posição inferior nas decisões políticas. Não era o medo do poder dos nobres que fazia a burguesia recuar, mas o medo do povo, que diante da ruptura com o Feudalismo, podia perder o controle sobre a força popular. O medo do povo, quando o povo era a solução. Mais tarde, a necessidade uniu a vanguarda com o povo, e os jacobinos começaram a colocar fim ao mundo feudal.
A vanguarda tem que ser a expressão da classe revolucionária. A pequena burguesia ou os jacobinos acreditavam no mundo da liberdade, e em que o mundo novo só seria possível sem os senhores feudais. O mundo da liberdade estava ao alcance das mãos. Junto com o povo, não tinham nada a perder. Já os girondinos, os burgueses ricos, tinham muito a ganhar com a revolução, mas poderiam perder também. Por isso, não foram a vanguarda, outra porção de classe assumiu as perspectivas revolucionárias e dirigiu o povo.
Por isso, os Déspotas Esclarecidos ocupam o lugar na luta de classe também em nossa época histórica. Eles são tão fascistas quanto aqueles que agora estão no poder (bolsonaristas), mas ocupam um lugar político relevante, pela ausência de força capaz de liderar a ação popular. Em sua ação (Dória e Cia.) não tem nada a perder, é o mesmo projeto da extrema direita, no entanto, disputam a liderança e o comando no poder, os quais eles já compunham.
A burguesia não é um poder subjetivo, ele se materializa em pessoas, grupos, monopólios, que estão ligados a determinadas operações econômicas produtivas e financeiras. Estar no governo significa que determinados interesses econômicos sejam direcionados a esse grupo financeiro, àquela corja de latifundiários. As isenções, os espaços políticos, as alíquotas beneficentes, logicamente são para toda a classe, mas, aos amigos do rei, o caviar é sempre melhor. O “véio” da Havan deve ter privilégios no governo que outros empresários talvez do mesmo calibre não tenham. A diferença de ser chefe do governo é uma disputa política interna de classe, que de forma alguma é menosprezado pela burguesia. Trump, por exemplo, vê no Bolsonaro, uma grande liderança, fiel aos intentos do Império.
Esse vazio político deixado pela esquerda, em um momento como este, só é explicada pelo abandono do projeto de classe do proletariado. Por isso, não há razão para ela (a esquerda) aprofundar o drama já vivido pela burguesia, diante da crise econômica antecipada pelo covid-19. A marca é a solidariedade e não a luta política. Quando em meios a uma crise aberta de classes, privilegiar a assistência social ao invés da luta pelo poder político, é a demonstração mais clara do abandono de um projeto de classe. A esquerda assume, de todas as formas, a ditadura da burguesia, e vê nela o início, o meio e o fim.
Do contrário, deveria dar provas de agitação e propaganda que esse governo não representa em nada os interesses do povo, e investir numa campanha massiva, pelo “Fora, Bolsonaro” e sua Corja. Além do basta do governo em curso, a esquerda deveria preparar uma unidade popular pós-covid-19, pela luta por pão, trabalho e terra, que incorpore a luta por liberdade, que por si só, colocaria em posição fragilizada os déspotas esclarecidos da direita, que nunca tiveram e não tem nenhuma sensatez e alguma marca de solidariedade popular, quando são chamados pelo capital financeiro, para inundar os bancos e as bolsas de mais valia sangrada do proletariado brasileiro.
O “Fora, Bolsonaro”, representa a luta contra o Fascismo e reivindica uma grande unidade popular e de vanguarda proletária ou de esquerda. Essa luta (contra o Fascismo) não é um fenômeno passageiro, pois o mesmo levará à dependência e à subjugação de nosso povo, a uma condição muito maior de miserabilidade, decadência econômica e dependência aos gringos e dos seus lambe botas internos. Para tanto, é preciso uma organização popular superior, de classe, como a dos sovietes, comunas, comitês bolivarianos, exército do povo, etc., mas para nós, talvez, nada mais que uma ALN (Aliança Libertadora Nacional).
Os Déspotas Esclarecidos no Feudalismo cumpriram e ficaram registrados na história num período entre 100 a 150 anos. Foi uma etapa em que vários países tiveram que passar até o acúmulo de um setor de vanguarda, como os jacobinos na França, que não deram as costas para história e tomaram em suas mãos o triunfo da Revolução Francesa, a qual marcou o início da própria revolução burguesa no mundo. Se a esquerda brasileira não tomar em mãos essa luta, não mais como jacobinos, mas como bolcheviques, caminhará sempre de arrasto, mais pelo medo do que pela objetividade da luta, e, por isso, a depender sempre dos Déspotas Esclarecidos.
– Fora, Bolsonaro e sua Corja!
– Fora, Ianques Fascistas da América Latina!
– Pela construção da ALN (Aliança Libertadora Nacional).
João Bourscheid.
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