Não é uma ou duas vezes que vemos alguém no Parlamento ou no Judiciário falar da solidez da Democracia. Todos eles, tanto o presidente do Senado, da Câmara, do Executivo como o do STF, enchem o peito para dizer dessa solidez. Tão sólido é verdade, que deram um golpe, sem gastar um tiro se quer. Tiraram uma presidenta eleita, sob os holofotes da mídia, em uma tranquilidade jamais vista no terreno político. Isso só é possível em democracias “maduras”, em que a crise política é facilmente superada sem muito trauma – com golpes democráticos, logicamente.
Mas a crise política não é produto dela mesma, é produto da economia, portanto da crise econômica. Tal como Proudhon em sua época, os proudhonistas atuais fazem teses de superação do Neoliberalismo pela distribuição de notas bancárias para o povo. Em épocas de crise, recomendam elevação dos salários, de renda da grande massa de trabalhadores, para que continuem sendo compradas as mercadorias, para que as mesmas não fiquem paradas nas prateleiras, o que as impede de continuarem a ser reproduzidas. E é desse modo que o capitalismo dá certo. A direita e a extrema direita agem mal, retiram direitos quando deveriam aumentá-los. Parece que eles próprios querem acabar com o capitalismo.
Quando o Guedes (ministro da economia) fala que é fácil ser socialista, basta ter um bom coração e que por isso não tem potência intelectual para tocar a economia, fala dos socialistas utópicos e dos proudhonistas, que se aferram à economia capitalista. Essa potência econômica e intelectual que ele (Guedes) tem, é produto nada mais nada menos de defender com unhas e dentes a burguesia. E juntam-se a ele todas as instituições da poderosa subestrutura capitalista brasileira, de forma alguma sólida, mas golpista e entreguista até os dentes. Além disso, medrosa, impotente de buscar um caminho próprio, pois basta um movimento do Norte, e todos se jogam aos seus pés. E infelizmente a esquerda institucionalizada adquiriu em quase 99% essas qualidades: “Aquiete-se, não faz movimentos brutos, não saia às ruas contra o Bolsonaro e o Fascismo, que eles podem ficar bravos e reagir”.
Mas essa democracia de que tanto falam, como dá para se notar, assenta-se em uma burguesia brasileira medrosa e entreguista, bem como em uma esquerda que conduz a oposição popular da mesma forma, isto é, imprimindo ao povo uma bárbara submissão economicista. Precisamos ganhar a prefeitura, o governo, a presidência, para dar as mínimas condições de o povo ter o que comer. Isso não é mais do que submissão ao Capital? Se aquele que dá ao Capital o poder que tem, quem está no comando? Qual é a classe mais avançada? Quem depende de quem? Criar as condições de subverter a ordem, só é possível mostrando para o proletariado que as coisas estão de ponta cabeça. E pelo visto, não é isso que a esquerda tem feito.
Não avançaremos um palmo cortejando a “sólida democracia golpista e aparada pelos EUA”, só rompendo com ela. E não pensemos que dentro dessa mesma subestrutura não tenha gente que pense igual a nós. Muitas lideranças proletárias e mesmo não proletárias cultivam um outro caminho para o Brasil. Um caminho de rompimento com o atual estado de servilismo ao imperialismo ianque. Mas para tanto, a lógica para isso é a luta aberta do povo nas ruas contra esse estado de coisas. Bolsonaro e Mourão, neste momento, são as alternativas burguesas, interna e externa, na defesa dessa Democracia (insólita, dependente e medrosa) continuar a ser o que sempre foi: uma democracia que tem cheiro, gosto, cor e emblema, de uma águia e uma estátua que lembra muito mais a escravidão do que a liberdade.
Por isso, todos que falam da solidez dessa democracia, falam logicamente de sua fragilidade. Tal como Mandetta (ex-ministro da Saúde do Bolsonaro) respondendo ao Braga Netto quando lhe assegurou que não existia qualquer indício de ser demitido – “em política quando se fala que não existe, já está falando que existe”. Assim são os nossos políticos burgueses, falam sempre de democracia olhando para o padrinho do Norte e dizendo: “Estamos fazendo a coisa certa, o que vocês acham”?
E nesse momento, mais do que nunca, estamos inseridos em mais um golpe, pensado pelo imperialismo ianque. Hoje, já se põe a nu até os nomes da CIA e do FBI que atuaram juntos à Lava Jato. Por que disso tudo agora? Pelo medo do fim do golpe, e da sólida democracia golpista. Nada mais além disso, pois há um outro grupo de golpistas em vias de ocupar a Casa Branca. Os golpistas atuais podem e devem perder espaços na “sólida” democracia brasileira. Além da pandemia, da crise econômica, esse é o maior espectro que vive hoje o Bolsonarismo, isto é, o fim do governo Trump. E tudo indica que a sólida democracia brasileira, hoje sob o Bolsonarismo, deve ceder espaço para grande parte de outros grupos de direita, e até de centro. Novas forças, novas tarefas, como dizia Lênin.
Isso não significa que o regime será mais aberto ou fechado, mas talvez enganará mais o povo, pela sutileza. Também não criará rompimento com a extrema direita, pois dependem de seu papel. Porém, nessa transição entre golpistas, entre novos nomes e novos senhores e servos, para que esse traçado não tenha esse desfecho, as forças antigolpistas e anti- imperialistas têm que agir fazendo muito barulho. E o único caminho que está ao seu alcance é chamar o povo às ruas pelo fora Bolsonaro. Essa é a única defesa democrática que pode assegurar que o povo tenha expressão política sobre os acontecimentos, pois dificulta a continuidade do golpe e seu aprofundamento. E, dessa forma, ao lutar contra a realização dos objetivos maiores da ditadura imperialista, luta também ao mesmo tempo para que a verdadeira democracia possa desabrochar.
Mas, para isso é preciso romper com a concepção de esquerda proudhonista, com a esquerda aferrada ao Capital e à sua administração. Se Marx rompeu com isso, viu que por mais crítica que fosse a esquerda da época em relação ao estado atual de coisas, ao Capitalismo, ela não dava ao proletariado o papel que a história lhe reservou, de dirigente do novo mundo e de coveiro da burguesia. No máximo, não passavam de propagandistas, de que um novo capitalismo mais democrático é possível, do qual Guedes e os monopólios se deleitam.
Fora, Bolsonaro e Mourão e suas corjas!
Abaixo o golpe, abaixo o Fascismo!
Se podemos trabalhar, podemos protestar.
Pela construção da ANL e dos comitês contra o golpe.
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