É 04 de fevereiro de 2021, a média de mortes e contágio da covid-19 bate novo recorde no Brasil, já são 260.970 mortes no país. Nesse mesmo dia o presidente fruto do golpe Jair Bolsonaro declara que quem exige compra de vacinas “vá comprar na casa da mãe” (o governo não planejou minimamente a estratégia de vacinação e agora o povo sofre com a falta de vacina) e pergunta até quando ficarão “choramingando”. Na história de Jair Bolsonaro essas nem de longe são suas primeiras declarações pusilânimes. Mesmo sendo defensor da ditadura e da tortura foi alçado pela “direita democrática” ao posto de dirigente do programa de restauração neoliberal no país. No entanto, agora suas declarações extrapolam a retórica e expressam uma política cotidiana que leva ao genocídio, se contrapondo politicamente inclusive a importantes frações da burguesia.
Então como, com essa postura, em meio ao caos econômico e sanitário, ele ainda esta lá, na Presidência da República? Responder questões politicas, sempre exigem compreender o movimento das classes sociais. A burguesia do Brasil que é associada ao capital internacional e não possui interesses ou dinâmica nacional, com algum ranger de dentes, tem seus interesses maiores, mesmo na pandemia, atendidos pelo governo Bolsonaro. Estão sendo implementadas seguidas desregulamentações dos regimes de trabalho, restrição dos gastos públicos para garantir o pagamento de títulos da dívida pública e outras forma de transferência de valor às economias centrais, afrouxamento do controle ambiental ao desmatamento e grilagem de terras indígenas, entrega do Pré-Sal as petroleiras multinacionais e por ai vai. A burguesia também tem no bolsonarismo uma represa de contenção a um retorno político de setores populares à Presidência. Por sua vez o bolsonarismo para manter sua coesão precisa reafirmar suas crenças negacionista levando o governo a executar uma política que leva a morte milhares de brasileiros e brasileiras.
O caos pandêmico provocado pela ação do governo Bolsonaro esta diretamente ligado aos interesses da burguesia, mesmo que na cena política haja certo conflito, mas é mais aparência do que realidade. Outro fator que explica a permanência de Bolsonaro no posto de presidente é a incapacidade da chamada esquerda em derrubá-lo. A classe trabalhadora encontra-se fragmentada e, como sempre na história, influenciada pelo pensamento da classe dominante. A esquerda, a quem caberia oferecer saídas para a classe, está absorvida na agenda do sistema político ditada pela burguesia. Com estratégias voltadas as eleições de 2022 os partidos de esquerda não conseguem mobilizar a classe trabalhadora e perdem sistematicamente sua adesão, em muito para a extrema direita que eficientemente se apresenta falsamente como “anti-sistema”.
Esse comportamento da esquerda institucional é um dos componentes da viabilidade do golpe de 2016, o que trataremos num próximo texto. O certo é que a permanência de Bolsonaro coloca em risco ainda mais vidas, mesmo com contradições representa a sequência da agenda neoliberal de aumento da superexploração da força de trabalho, e que a “direita democrática” manterá seu apoio a ele caso não consiga viabilizar uma alternativa mais “suave”. Cabe a esquerda mobilizar o povo para defender as vidas, os interesses nacionais e o fim da exploração. Esperar por 2022 parece ser um erro, é preciso agir agora e derrubar Bolsonaro!
Luciano Lima
Secretário de Relações Internacionais do PT/RS
Cientista Político
Bacharel em Direito
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