Talvez a palavra mais solicitada atualmente, além de crise, vacina, fome, vírus, é a tal da ciência. E todos os que a usam, de um lado e do outro, fazem como intimidação do adversário, seja ele de esquerda, direita ou extrema direita, esquecem um fator decisivo da ciência no mundo em que vivemos, que os cientistas burgueses detestam que se diga que ela (a ciência) não é NEUTRA. Médicos e cientistas, de um lado e do outro, dando versões até antagônicas do processo de cura da covid-19, dando um verdadeiro nó na cabeça de quem acompanha. É o mesmo caso dos cientistas da economia política, em que os de concepção liberal negam a ciência proletária (o Marxismo ou o Socialismo Científico) como tal. Aliás, nesse campo, muitos de esquerda negam essa propriedade de inevitabilidade do Socialismo.
Quando dizíamos que o Fora Bolsonaro só teria força prática quando ganhasse as ruas, falávamos em nome da ciência das ruas. Que ela era determinante no processo, pois mudaria a correlação de forças, colocaria a esquerda decisivamente como uma força política expressiva novamente e não mais secundária na luta contra o golpe. E o que nós estamos vendo é bem isso. Então podemos falar da ciência das ruas. Porém, se dissermos que elas são sempre o elemento para o avanço da luta, logicamente que cometeríamos um grande erro, porque não existe neutralidade na ciência, e a rua, portanto, também não. Há pouco tempo, o golpe foi preparado nas ruas, quando uma multidão sem se dar conta, inclusive dirigentes partidários de esquerda, corriam às ruas para desfrutar de sua democracia como valor universal.
Na luta de classes, a consciência de classe é a primeira condição para que a política avance. Por isso, quando dirigentes de esquerda dizem que não podemos ir às ruas, por conta de que seríamos também negacionistas da ciência, é porque eles têm em mente a ciência da burguesia. Assim como, quando se está na rua, é preciso ter uma direção que não deixe que a outra classe se apodere do movimento. Isso é bastante frequente. A campanha do Fora Bolsonaro até agora foi dirigida e conduzida pela concepção de esquerda, e tende a continuar assim, porque a burguesia, por conta da crise, ainda não consegue se unir em um caminho próprio, e neste momento, a rua é a essência da luta contra o golpe, não apenas pelo Fora Bolsonaro.
Como experiência de apropriação do movimento, o Fora Collor é bem preciso. Em determinado momento, a direita se aproximou do movimento, pegou para si, afastou o presidente e foi paulatinamente dando o caminho. Foi buscar o Sociólogo dito de esquerda na época, que cuidou das contas da burguesia, e depois teve a ousadia de permanecer oito anos na presidência, doando inúmeras riquezas para os monopólios internos e externos. A burguesia, para ganhar as massas, aposta no primeiro caminho que é a despolitização das ruas. Cada época utiliza um meio, no entanto, a corrupção está sempre presente para esse rebaixamento, pois nada mais oportuno contra a crise, é não demostrar que é produto intrínseco do capital, e ante ao avanço da luta, falar em má gestão, principalmente por corrupção, é possível trocar o governo, mas não mexer na base do poder de classe.
Por tanto, para não perder o domínio das ruas neste momento, a direção proletária tem de agir de imediato nos próximos atos de rua. Primeiro unir a esquerda em um projeto de soberania para o Brasil. Derrotar o golpe com a campanha pelo Fora Bolsonaro remete também em ter presente o passo seguinte. Tal como vem acontecendo à discussão dos dias que são realizados as mobilizações pelo Fora Bolsonaro, é preciso que a unidade da esquerda una o povo em cima de uma luta, na qual o alvo é o domínio do imperialismo, principalmente ianque, e apontar uma luta estratégica para o país. Eletricidade, petróleo, água, minério, Amazônia só são possíveis de retomarmos com o rompimento. Retomar os direitos roubados pela burguesia com o golpe, tal como as conquistas trabalhistas, compõe a mesma luta. Uma faz parte da outra.
Consequentemente os embates que se avizinham não serão de forma alguma festa. Pelo contrário, se as forças de esquerda forem vitoriosas, o que ainda está longe de acontecer, mais longe ainda estará o caminho para alcançar as bandeiras levantadas acima. Porém, a condição de crise do capital e da pandemia abriu uma clareira, demostrando a possibilidade de alcançá-las. Portanto, é necessário, além de discutir um projeto soberano, discutirmos como devemos organizar o povo para travar essa batalha. Novamente anda junto um programa com a organização dos comitês contra o golpe ou os comitês de Ação Libertadora Nacional (ALN), o movimento sindical e todas as Frentes de Luta. A esquerda revolucionária deve atuar dentro dessa frente de esquerda para empurrar adiante todo o movimento antineoliberal, antifascista para uma posição avançada.
As forças novas que estão sendo acumuladas nas ruas demandam novas tarefas. Por isso, a frente ampla, nesse sentido, sabota, desvia, desarma, desarticula e minimiza as possibilidades de que o movimento objetivamente pode alcançar, porque a soberania não cabe nesse setor, que junto com Bolsonaro já entregou grande parte da riqueza aos monopólios estrangeiros, além de roubarem direitos históricos dos trabalhadores. A retomada de direitos do proletariado, bem como retomar as riquezas naturais e construídas, não faz parte nem de um acerto mínimo com as forças neoliberais. Eles não querem nem ouvir falar em direitos trabalhistas. Ora, nem o Fora Bolsonaro ainda faz parte deste acordo mínimo, que dirá elementos que são centrais para eles, isto é, o econômico. É preciso também, que sob a influência das ruas sob ação do proletariado, que se organize os comitês da ALN, ou contra o golpe.
Poderemos construir essa luta sem pensar na batalha eleitoral, no entanto, descartá-la não vai mudar as condições de elas acontecerem e muito menos de que alguém seja eleito. A verdade é que depende mais das forças de esquerda para que haja eleição do que pelas forças da direita e extrema direita. Sob esse aspecto, pensar nas eleições é uma tendência ou manifestação de luta proletária. Se for assim, as condições de estabelecer uma candidatura que unifica a esquerda e garante a discussão da Soberania, a organização do povo para enfrentar o imperialismo e o fascismo, só acrescenta em nosso favor luta de classe. O problema é que tudo isso nos gera trabalho, organização, construção de comitês, reunião com lideranças partidárias de todo o país e com o proletariado de todos os cantos, e ter a firmeza de defender as nossas ideias. Talvez o que incomoda a alguns é o trabalho.
A candidatura de Lula é apenas consequência do que foi dito no parágrafo acima. Longe dela criar problemas, pelo contrário, no sentido que estamos falando ela só reforça o caminho traçado. Aqui novamente há um erro que dá mais valor aos elementos Lula e PT do que ao movimento todo que estamos construindo, que é muito maior. Confunde o próprio protagonismo que o PT e o Lula têm nesse arranjo, com os embates sucessivos que se darão para a transformação social do Brasil; Essa, como já salientamos, é mais obra dos partidos revolucionários do que daqueles. Talvez, novamente, queremos tirar nossas responsabilidades de muito trabalho para delegar aos outros.
Sobre todas essas circunstâncias, que no atual momento as ruas têm que mais do que nunca ser tratadas como uma verdadeira ciência. Não é só a esquerda ou os revolucionários que estão se debruçando sobre elas o tempo todo, mas a direita e a extrema direita. E como este movimento pendeu para o lado da esquerda, mantê-lo e dirigi-lo passa pelas questões políticas que desenvolvemos acima, mas também pela questão ideológica, de que o céu só é possível ser tomado, de assalto, por isso, temos que prepara-lo.
Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja.
Abaixo o imperialismo.
Em defesa da Soberania.
Ousar lutar, ousar vencer
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