Bandos e grupos armados a serviços de outrem, falanges, jagunços, máfias e milicianos, de certa forma, existem (com outros nomes) desde que a sociedade humana dividiu-se em classes antagônicas, e a classe mais poderosa economicamente faz o uso sistemático de força armada para manter o domínio do poder político e econômico. Foi nesse período também, como diz Engels, que nasceu uma força especial para a repressão do povo, isto é, a polícia armada, a base do Estado. Dali para frente, sempre existiu. Na Grécia antiga, essa atividade de milícia subordinada ao Estado muitas vezes era exercida pelos escravos, uma vez que os cidadãos gregos preferiam mendigar a realizar tal atividade que para eles era repugnante.
Na luta de classes atual, e sob o capital, o Estado mais do que nunca precisa atender a riqueza cada dia maior e mais concentrada. Os bancos centrais da burguesia e outros são verdadeiros tesouros muito bem protegidos e monitorados por todo o tipo de tecnologias e forças armadas. Roubar, só entre eles mesmos e isso acontece a cada momento. Dos grupos armados e milicianos que citamos acima, nenhum trabalha na perspectiva de roubar a burguesia, uns trabalham em roubos pequenos, sequestros, extorsões, para grupos de comerciantes, industriais e latifundiários. Agem muitas vezes como cangaceiros, fazem o trabalho em troca de dinheiro. Dito isso, a questão a ser colocada é: O que indica o crescimento de grupos de milicianos em nosso país e em toda a América Latina?
Ora, desde a crise do Capital dos anos 70 do século passado, quando a burguesia pôs em ação o fim do Estado de Bem Estar Social (criado justamente para impedir o avanço do Socialismo na Europa e no mundo pós a Segunda Guerra Mundial), a burguesia imperialista foi se apoderando dos ramos de produção antes investidos com a mais valia transformada em impostos. Sem medo da URSS (que já estava tomada pelo revisionismo), a burguesia poderia novamente retomar o seu curso capital do lucro máximo. Então o Neoliberalismo pôs fim às políticas sociais, é o que vimos como movimento em todo o mundo. Nesse sentido, nos países em que rapidamente aderiram a essas políticas deterioraram-se grande parte das massas trabalhadoras, aparecendo em lado oposto o surgimento também rápido de ascensão de grupos de extermínios, de seguranças privadas, seguranças híbridas (estado e terceirizados).
A política de extermínio da pobreza cresce nesses momentos e, logicamente, seus grupos pagos para isso. São empreendimentos dos de cima, dos ricos, que trabalham nesse sentido, além daquela política que já existe sob o capital, que matam parte do povo pobre por desnutrição, por falta de todos os tipos de recursos, por doenças de todos os tipos. Mas, a pobreza, a miséria, a falta de emprego em nossa época histórica não fica para sempre. Entre a massa espontânea daqueles que labutam dia e noite, também acaba nascendo a consciência. Uma meia consciência é a luta economicista, Social Democrata, como aquela que ocupou o governo brasileiro de 2002 até o golpe da Dilma. Uma consciência, no entanto, que incomodava muito mais o imperialismo ianque do que a burguesia de seu próprio país. Foi por meio do governo de esquerda que a onda progressista na América decolou, o Brasil passou a fazer parte dos BRICS, junto com a Rússia e China, dois inimigos atuais do imperialismo ianque. Foi nesse sentido que nasceu o golpe, o ultimato dado pelos ianques. O golpe, tanto de 1964 como o de agora, foi traçado nos porões da CIA.
Mas ao dar o golpe aqui no Brasil, os EUA já anunciavam em âmbito internacional o empreendimento do Fascismo Mundial como política de Estado por conta da crise crônica que abala o Capital. Embora Trump despertasse essa política mais abertamente, já era posta em prática habilmente nos seus antecessores (Bush e Obama) e segue no atual (Biden) ainda mais enraivecida. Lá, nos EUA, o fascismo não precisa de um movimento, ele é uma política de Estado, isto é, golpeia assim que notar algum movimento que possa lhe causar problemas, seja em nível de soberania, seja em nível de revolução. No Brasil, ele (o fascismo) precisa unir setores afins, reacionários, de extrema direita para levantar voo. Galgar o estado, ocupar o governo e fundir-se com a política do norte (o que isso não é difícil para a burguesia brasileira entreguista até a medula). E quem mais preparado para isso, se não aquele articulado com as milícias do Rio de janeiro e com as concepções afinadas com a extrema direita, senão o Bolsonaro? Talvez parte da burguesia brasileira, mesmo que unida ao golpe, pensasse em apenas colocar o joelho no pescoço do povo pobre. Mas, quando se deu por conta, estava às portas do Fascismo. E como detê-lo sem detê-lo? Ou mantê-lo para juntos governar. Aí começa a luta entre a direita e extrema direita. Entre o Neoliberalismo X Fascismo.
Daí nasce a tal da Frente Ampla, onde o movimento de esquerda abraça os Neoliberais golpistas. No entanto, na luta de classes não importa o que cada um pense de si mesmo, mas o papel que cumpre nessa luta. Por que bater em Dória, Eduardo Leite, FHC, Globo, etc. se cumprem um papel político na atualidade contra Bolsonaro? Temos que nos juntar a eles ou trazê-los junto a nós nesse movimento. Sim, para isso existe a política oportunista Social Democrata, que só reconhece a luta no nível econômico. Ela nunca busca o topo, anda sempre nas sombras da burguesia e se espelha no liberalismo. Se para a URSS na época do enfrentamento do Fascismo pleiteava uma frente única contra o Fascismo, levava em conta manter a própria revolução. Nos países de domínio burguês, como França, Itália, Espanha, Alemanha e demais países, apagar as contradições antagônicas de classes e não planejar a tomada do poder diante da luta colocada não é referencial de um partido comunista. Tanto é que o movimento na França foi condenado pela própria URSS, onde o partido comunista Francês se aliou ao governo provisório de C. de Gaulle, após a liquidação do Fascismo Alemão. Esses partidos nada mais eram que Sociais Democratas.
Na luta de classes, se a direção política da classe revolucionária não aparecer com uma política independente da burguesia, é uma direção liquidacionista. Sob a política de esquerda em defesa do Fora Bolsonaro nas ruas, foi a responsável por efetivar uma nova correlação de forças. Se tivesse acompanhado a direita, esse movimento não estaria posto. É preciso entender que existe sem dúvida alguma relação entre o movimento espontâneo e o movimento consciente, entre a Social Democracia e a Revolução, porém, sem movimento consciente, sem o movimento revolucionário (teoria revolucionária), o movimento sempre sucumbe ao domínio da burguesia. Não aproveitar os momentos históricos onde há o acirramento de classe para fazer a roda andar ao nosso favor, é andar a cauda do movimento.
Entender isso já é meio caminho andado. O outro é entender a relação entre a direita e extrema direita. Tal quais os grupos milicianos de uma determinada época de luta de classes e uma época de fascismo. Sob a nova política, eles todos se modificam, ganham uma nova moldura, mesmo que aparentam os Neoliberais ser para os olhos dos vacilantes Sociais Democratas, mais liberais, mais democráticos, mais humanos, mais frágeis, mais comovidos pela esquerda, etc,. Em outras palavras, os neoliberais, sob a nova política, são tão fascistas quanto os quais rotulam, tal qual as diferenças “gritantes” que queriam nos passar, entre o candidato Democrata e o Republicano nos EUA. Quando a disputa foi consumado, vimos que ambos pertencem ao mesmo movimento, tanto é que Biden nem se quer alterou um milímetro as políticas essenciais de Trump. Por isso, abrir a porta deliberadamente para essa gente, em épocas de enfrentamento aberto, principalmente, é diminuir ou tirar do foco o caminho que pretendemos, isto é, a Revolução e o Socialismo.
Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja; Lula presidente.
Em defesa da unidade de esquerda;
Abaixo o Fascismo,
Abaixo o golpe,
Em defesa dos comitês contra o golpe e de Ação Libertadora Nacional (ALN)
Baita texto, camarada. Farei uma leitura pública no YouTube