A constatação de que o povo tem “memória curta”, do ponto de vista político eleitoral, caracteriza uma ideologia pequeno-burguesa, Social Democrata, que se indigna ao ver os resultados desse processo manter-se por décadas no cenário, com poucas alterações. Ora, as pessoas que assim pensam, pouco conseguem refletir sobre um determinado modo de produção com base no antagonismo de classe. No caso do Capitalismo (como em qualquer outro sistema de produção), as relações de produção são produtos da produção, mesmo que existam contradições, elas forçam para que a grande massa da população pense segundo as leis do Capital. Por isso, uma prateleira cheia de comida não pode matar a fome se aquele que for pegar o produto não tiver dinheiro para pagá-la. A coisa está ali, está feita, mas não pode ser consumida, pois seu valor de uso é colocado de lado, o que interessa é ele (o produto) realizar o seu valor como mercadoria.
Quem não é capaz de ver isso fica indignado também com as “façanhas da política eleitoral”. De repente, aparece para concorrer um candidato que nunca se viu, com muito dinheiro, faz campanhas milionárias e se destaca por ser parecido com os produtos do mercado, “valorosos”, bem apresentados, mas sem nenhum valor de uso para o proletariado. E com toda a máquina de propaganda e propagandistas que o dinheiro possibilita, desde o início até o fim, eles estão anos-luz na frente de qualquer candidato que ousa competir com eles. E assim como aparecem um ou dois meses na vida do povo, logo em seguida desaparecem literalmente. Nunca mais são vistos no bairro ou região. O próprio mecanismo burguês o esconde do povo até as próximas eleições, e tudo começa novamente. Eis o princípio da democracia burguesa. E para quem pensa que é só no Brasil, vai encontrar, no resto dos países capitalistas, um cenário muito pouco diferente, e em alguns lugares como na sede do imperialismo americano, mil vezes pior. Ali vinga a democracia do império, pobre nem se quer tem acesso às condições básicas para viver dignamente.
Mas, quem tem esse hábito de condenar o povo por esse esquecimento o faz pelo simples fato de ele mesmo acreditar nesse sistema. De esquecer que a classe econômica mais poderosa também tem o domínio sobre as opiniões que circulam nessa sociedade e apenas em determinados momentos de crise crônica ela perde esse controle. É o momento em que se rompe a irmandade entre os capitalistas e faz crescer entre eles a perspectiva individual, cada um por si. Como os Sociais Democratas ficaram muito tempo condenando o povo por seu “Alzheimer”, esqueceram deste momento crucial para política proletária, revolucionária; política essa que não adianta ser lembrada apenas nessas épocas, ela precisa ser construída. Para que o materialismo histórico e dialético tenha fundamento prático e teórico, a política proletária precisa ser construída.
Por isso, quando chegamos à situação atual do Brasil, esforça-se a esquerda pequeno-burguesa, em destruir os andaimes da política proletária, sentenciando que a obra já fora construída ou para dar sequência à construção, é imprescindível o esquecimento daqueles que fizeram de tudo para vingar o projeto golpista e inclusive o fascista no país. O povo é vítima, sem dúvida alguma, da força do modo de produção em projetar no seu cérebro as ideias eternas do capital, além de toda a propaganda massiva feita pela intelectualidade burguesa para desviar o proletariado do seu próprio projeto de classe, tentando impedir que ele entenda que é uma classe antagônica e que precisa de uma política diferente da burguesa, caso contrário, não sairá da vala comum.
Não é por acaso que o trabalhador agora é denominado pela burguesia de colaborador. E se é essa a ação política consciente para desviar o proletariado na compreensão de sua ideologia, na política, sem dúvida, aqueles que tentam selar a paz dos cemitérios na luta de classes são ideologicamente burgueses. Kautsky, mesmo sabendo o Marxismo quase de cor, no momento crucial levantou a bandeira da conciliação, pois já não via mais problemas em apoiar a burguesia de seu país na guerra contra outro. A frente ampla ou frente única são teses que todos lutam contra quem? Logicamente a extrema direita, os fascistas, porém na perspectiva de quê? Do retorno ao que era antes? Ora, dirão alguns, isso decidimos depois de derrotar o inimigo principal. Não podemos nos dividir sem que derrotemos esse inimigo. Todos são para isso, necessários.
Ao inserirmos livremente o inimigo em nosso meio, e até buscando e abrindo a perspectiva que venha a se manifestar junto ao povo, ajuda ou não o povo a esquecer quem são os seus inimigos? O pior, quem condena o povo por esquecimento, de forma alguma quer saber de uma política de lembranças para o povo. Não desenvolveremos o materialismo histórico e dialético sem que a política do proletariado possa ganhar uma relativa autonomia, uma certa independência, uma força que consiga se construir e se erguer com perspectiva revolucionária. Não existe política proletária sem a perspectiva da revolução. Mesmo que o proletariado lute por melhores condições de vida dentro do capitalismo, mesmo assim é uma política burguesa, isto é, uma disputa no campo da burguesia.
É por isso que essa política independente e proletária sempre é descartada. E é nos momentos mais fáceis de unir grandes camadas contra um inimigo comum que é mais difícil de perceber que o inimigo ocupa os postos chaves para inviabilizar a continuidade da luta. A burguesia se utiliza do liberalismo, nestas horas, como uma força que libera a consciência de classe para o caminho da democracia como valor universal. Às vezes, é no fim de determinado movimento que é menos permitido a vacilação, quando todos já estão “exaustos da guerra”, que se fazem as maiores atrocidades humanas. Só para lembrar, foi ao final da segunda guerra mundial que os EUA largaram duas bombas atômicas sobre o Japão, quando a Alemanha Nazista já estava derrotada. A burguesia não dorme de toca nessas horas.
A luta contra o fascismo, contra o bolsonarismo, contra o golpe não está em contradição com a luta pela Soberania, pela autodeterminação dos povos da América Latina, contra o imperialismo e pelo Socialismo. É isso que querem que esqueçamos. E ao esquecermos isso, esquecemos do materialismo histórico dialético, o fio condutor que não importa onde começa, mas seu caminho na construção da política revolucionária não pode ser toda hora rompido. A política da burguesia é a eterna conciliação de classes, “condena” o radicalismo, o extremismo, a polarização, principalmente quando está sem força, investindo sempre nessas horas literalmente em uma “bomba” de efeito político, isto é, desarmem-se, nós estamos TODOS juntos para o bem da democracia. O que passou, passou.
Não estar preso ao passado também é a nossa política, bem como estar de frente para o futuro. Porém, sem que para isso destruamos o materialismo histórico dialético (teoria revolucionária), que tem por base o antagonismo de classes e a Revolução. Se olharmos apenas o primeiro aspecto (o antagonismo), a luta política poderá até confrontar no meio econômico, porém logo que pensamos em destruir esse antagonismo, fica patente que, sem uma política que possibilite uma concepção de classe para si, não se vai além de uma eterna conciliação.
É evidente que é preciso demarcar território, posição, diferenças, antagonismos, com força material e política, porque se queremos fazer água no lado de lá, é preciso construir o lado de cá. Prova disso nos deu a luta atual pelo Fora Bolsonaro, onde a esquerda unida mobilizou o povo e ampliou ainda mais contradições entre a direita e extrema direita. Atraindo a burguesia golpista até pode-se chegar mais fácil a todos os cantos e recantos, mas com uma roupagem bem diferente com certeza. Às vezes até mais atrativa, como os produtos do mercado da burguesia, mas sem valor de uso político para o proletariado.
Derrotar o Fascismo é a nossa meta, quando ele se coloca, porém sem perder a consciência de classe. E o que isso significa? Que a luta imediata não pode estar desconectada da luta futura, tal como querem nos dar a entender, aqueles que pregam o canto da sereia, de que o movimento é tudo e o objetivo é nada.
Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja.
Abaixo o Fascismo e o Imperialismo.
Só a esquerda unida, une o povo na luta pelo Fora Bolsonaro.
Por um Programa de Luta Soberano para o Brasil.
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