Se Ciro fosse de esquerda

Um esforço energúmeno tem feito o atual candidato do PDT, Ciro Gomes, para ocupar um espaço a qualquer custo como saída à polarização entre Lula e Bolsonaro. Para isso, busca ser palatável para todos, isto é, desde a extrema direita, o centro-direita e a esquerda. Diz não querer ser simplesmente mais um candidato, quer ter conteúdo, e, por isso, quer discutir em “profundidade” o que levou o Brasil a ter na presidência um tipo como Bolsonaro.

Eduardo Leite parece sofrer desse mesmo mal que Ciro Gomes. Em entrevista a Pedro Bial (Globo), Leite quer definir as diferenças que existem entre a direita e a esquerda. Lógica econômica e sentimentos sociais, segundo ele, são o que leva um estar num lado e outro na política.  E assim ele imagina que unindo as duas concepções, ele é um e outro ao mesmo tempo. Ainda, no entanto, não respondeu se ao fazer campanha e votar em Bolsonaro foi com o sentimento da lógica econômica ou por sentimentos sociais.

Na “profundidade” da discussão de Ciro, também ele não diz por que foi para Paris, sem antes ter ido às urnas. Talvez porque ele não é apenas mais um eleitor, e como estava em dúvidas entre Bolsonaro e Haddad, preferiu ficar em cima do muro. Só que sabemos que o muro tem lado. E mesmo que esquecemos da ida a Paris, tocássemos a vida em frente, o que passou, passou, ainda assim, quando se quer polemizar sobre elementos de profundidade, isso deveria ser mais importante para ele do que para nós, porque diz respeito a seu próprio caráter político de “esquerda”.

E logo nessa discussão de profundidade, o que aparece como elemento objetivo para o país ter um presidente genocida, fascista, é a corrupção do PT. Essa é a profundidade da Rede Globo, do SBT, da CNN, da Band e do Moro, principalmente, que garantiram o golpe montado nos porões da CIA. Ciro, ao dizer ao povo brasileiro tanto faz quem será o novo presidente do Brasil, agora está preocupado com a corrupção, que, segundo ele, poderá voltar ou continuar. Mas ele tem a receita certa para os males da corrupção no Brasil.

Essa é a velha ladainha para alguém que quer “reformar” o mundo, e jamais quer saber de transformá-lo. E um sistema político-econômico, quanto mais ele avança, mais perto do seu fim ele se aproxima, e mais a corrupção se torna seu elemento distinto. A luta contra a corrupção geralmente é para rebaixar e desviar a luta de classes (mostrando que o sistema tem jeito, o problema é a corrupção), ou ainda é para retirar os entraves que impeçam ela própria de avançar, tal como no Brasil, onde se fez avançar a Reforma da Previdência, Reforma Trabalhistas, privatizações, entrega da Petrobrás, da Amazônia, do Banco Central, etc., que foram todas feitas e aprofundadas sob o golpe contra a corrupção. Essa é uma resposta para quem quer ser da esquerda, tem que tê-la na ponta da língua.

Mas se fizer isso, acaba por viabilizar a candidatura de Lula e da esquerda. É por isso que Ciro começa sob o enfoque da direita sobre a corrupção. Quer com isso, inviabilizar a esquerda e viabilizar a direita. Assim como Eduardo Leite, PSDB, que quer caracterizar a esquerda ao economicismo, e não pela transformação social. Sendo assim, se a direita estiver acometida de justiça social, ela é a própria esquerda, e essa passa a ter um papel secundário, aparecendo apenas quando aquela falhar.

E se Ciro fosse de esquerda, e tivesse restrições quanto à candidatura de Lula, no que diz respeito a seus limites políticos (os quais também temos), ele, mais que qualquer um, poderia se fosse de esquerda e construir com uma visibilidade maior e de maior envergadura os pilares da luta pela Soberania, uma vez que é tradição do PDT, levantar a bandeira anti-imperialista. A esse respeito, Brizola sempre foi prestigiado no meio popular. Mas ao abraçar o discurso da direita, rebaixar a luta e tentar diminuir o papel da esquerda nesse momento difícil da vida do povo, assume o seu papel histórico, de serviçal da direita.

Na medida em que a esquerda brasileira vai tornando-se uma força política de grande importância na luta pela soberania do país e para a América Latina como um todo, e dado o acirramento da luta de classes nacional e internacional, entre o aprofundamento do domínio imperialista e a autodeterminação dos povos, do crescimento do fascismo e a luta pelo Socialismo, mais e mais crescerão esses ataques de fogo “amigo”, da qual a história está cheia. Porém, também cresce o surgimento de novos lutadores, que conseguem isolar o inimigo de classe, atrair setores progressistas defensores das causas proletárias e neutralizar setores que querem distância do Fascismo e, mesmo sendo contrários ao Socialismo, não veem outra força capaz de derrotar essa política imperialista.

Por fim, Ciro ao se unir a Eduardo Leite, MBL, PSDB, Mandetta (DEM) e outros, além de deixar claro que é preciso impedir que a esquerda cumpra com seu papel histórico junto ao povo, arma ideologicamente a militância em relação a tal da Frente Ampla, demonstrando que a subjetividade em que ela (a Frente Ampla) se encerre, tem objetivos políticos concretos de desestruturar um movimento progressista, soberano e libertador sob o comando da esquerda.

Nesse sentido, Ciro ajudou a esquerda, sem ser de esquerda.

 

Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja.

Em defesa da Soberania Popular.

Frente de Esquerda com Lula Presidente.

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