Um plano político para o Brasil

Não queremos um plano econômico para o Brasil, mas muito além disso, queremos um plano político. Embora grande parte do nosso povo está à deriva, sem o mínimo sequer para manter-se diariamente, sem perspectiva de emprego, salário adequado, moradia, saúde e por aí vai. As lideranças de esquerda não podem se adequar a um propósito economicista, tal como, tentar suavizar as necessidades mínimas exigidas para qualquer ser humano. Pensar desse jeito, primeiro, é nem alcançar tal objetivo e, segundo, é pensar como um pequeno burguês sensibilizado, que vê, no esforço pessoal de cada um, a mudança do mundo como algo dependente dessa vontade de superar-se, apesar do Capital.

Nesse sentido, Lula já começou o ano muito bem. A revogação da reforma trabalhista é um compromisso dele com todos os trabalhadores assalariados desse país. A tese golpista de que essa reforma traria mudanças significativas no emprego, nos salários, nas fortunas, exauriu-se como um passe de mágica. Aliás, todos nós da esquerda já sabíamos disso há muito. E foi esse movimento político de Lula que fez o mercado (lê-se a burguesia brasileira e internacional) criticá-lo.  O medo da burguesia não é só de perder parte da mais valia hoje conquistada com a retirada de direitos, mas para muitos intelectuais dessa mesma classe, o medo é de que, ao ganhar o proletariado, a esquerda possa dar início a um plano realmente político.

Marx e Lênin sempre viram a política como o carro chefe da luta, e o marxismo é exatamente isso. Assim, em determinados momentos as liberdades democráticas foram um embrião para que a luta do proletariado se fortalecesse no conjunto da sociedade e das classes oprimidas, bem como para o fortalecimento de suas aspirações. Isso é tão verdadeiro, que foi Engels que diz que a conquista dessa democracia é o resultado da maturidade da luta política da classe operária.

Mas, em cada conquista, em cada avanço, as concepções economicista e liquidacionista, revisionista e evolucionista aparecem para transformar o passo adiante, em uma estação na qual muitos querem ficar para sempre, entendem que já se avançou o suficiente, que lutar por novas conquistas podem significar perdas de posição. Lutadores hoje, renegados amanhã. Foi esse o caminho que a casta da classe operária na Inglaterra se transformou em uma aristocracia.

É o abandono da luta política pela luta econômica. A luta econômica é burguesa. Ela (a burguesia) tira do proletariado a sua essência política, quando consegue limitá-la ao plano econômico, a seu jogo. Nessa mesma proporção, deve-se dizer em relação às riquezas do subsolo, isto é, petróleo, ferro, terras raras, água, fauna e flora, etc. A burguesia utiliza todos os mecanismos do golpe para se abarrotar de dinheiro. Compra políticos de todas as cores para eles disseminar que os interesses do povo são os mesmos da burguesia, são econômicos.

Para a burguesia, todos os elementos ditos acima, petróleo…, são fontes de renda; e é por isso que fazem cálculos para “demonstrar” que estão no limite dos gastos e que os lucros são ínfimos. Para o proletariado, essa discussão não serve, nem mesmo para discutir as baixas dos meios de subsistências, se os mesmos não estiverem associados a um plano político. Um exemplo disso é em relação à saúde, educação, habitação decente, saneamento básico. Para a burguesia são gastos e de forma alguma investimentos cruciais para o bem estar a qualquer indivíduo. A burguesia não entende a diferença entre o valor de uso e o valor de troca, apenas o último que lhe é atrativo.

Enquanto o domínio e as decisões forem deles (da burguesia brasileira entreguista e do imperialismo), qualquer avanço econômico do proletariado continuará sendo uma faca contra o proletariado, pois certos avanços serão apenas conjunturais. Tem prazo de validade. Quem pensa em projeto que prioriza o econômico, se deita sob as bases burguesas, e na página seguinte o que era um valor de uso aparecerá com uma conta a ser paga no final do mês. É o positivismo e o pragmatismo, enquanto filosofia, que comandam esse modo de produção, e que em cada rodada avança a disparidade entre pobres e ricos.

Por isso nossa insistência de um projeto político para o Brasil. Um projeto para o nosso povo. Um projeto que não seja burguês, como aquele que viabiliza algumas “chances” econômicas imediatas e conjunturais para o proletariado, sob o enfoque de progressista. Muitos pensarão aqui que essa perspectiva mais avançada está fora de contexto, que nem de perto temos condição de viabilizar um projeto dessa envergadura. Quem assim pensa, pensa como um burguês, pensa sob um horizonte econômico, limitado, onde o político está subsumido, esfacelado, liquidado.

Os sintomas de um projeto econômico ante o político ficou evidente na reação da esquerda diante da movimentação para o golpe até a sua conclusão. Parecia não acreditar no que estava acontecendo. Isso sim é não ter os pés fincados na luta de classes. As tentativas de uma frente ampla com os golpistas ante e antes de uma unidade da esquerda com o povo não são diferentes, pois não se acredita nas possibilidades de um projeto político conduzido pelo proletariado. Essa é a forma indigente pela qual a esquerda se manifesta em relação à luta de classes. E agora Lula tem sido protagonista junto com uma parte pequena da esquerda por um projeto político para o povo, embora ainda tímido, pois pouco pode esperar dos seus companheiros que o ladeiam e da esquerda em geral que o cerca.

Na decisão de anular a Reforma Trabalhista, muitos da “esquerda” já foram procurar o Alckmin para minimizar os efeitos desse discurso. Em essência, acenam para a burguesia e o imperialismo que querem estar de mãos dadas com um projeto econômico, e nesse caso, será sempre mínimo para o proletariado, já que o sistema não é seu. Reverter essa lógica no campo da esquerda mesmo é um desafio.

Mas não estamos tão distantes, pois as condições objetivas empurram para esse avanço, pois a crise profunda do imperialismo fala bastante alto e Lula já está dando provas de que o projeto político está acima do econômico. A terceira via só fala em manter a situação tal qual Bolsonaro deixou. A América Latina parece de vez em desacreditar nos de cima, e um núcleo consciente de classe acompanha o desenvolvimento dos embates eleitorais e de construção de um projeto político. E para finalizar, as ruas serão o palco principal da unidade da esquerda com o povo brasileiro para a viabilidade desse Projeto Político.

Fora Bolsonaro, Lula presidente.

Abaixo o golpe.

Fora EUA da América Latina.

Em defesa de um projeto político para o Brasil.

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