Diferentes e antagônicos

Paulo Freire, o ideólogo de esquerda da educação popular no Brasil, falava que era preciso juntar os diferentes para combater os antagônicos. Marx e Engels, no manifesto do partido comunista (1848), falavam da diferença entre os comunistas e os partidos irmãos, onde os primeiros se diferenciavam dos segundos, pelo fato de compreenderem onde levariam os desdobramentos da luta de classes. Deixava, no entanto, muito claro que em momento algum os comunistas (partido) se “descuidam de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado”.

Alguns dizem que as alianças são políticas e para tanto devem ser levadas em consideração os diferentes sob pena de limitar a ampliação da luta, pois ela é a base para levar a consciência a todos os cantos. Outros dizem que, se o inimigo é muito forte, é preciso unir o que puder para enfrentar a força do antagonismo expresso no lado oposto. De posse desse entendimento, frentes amplas seriam construídas todas as vezes que a luta de classe se radicaliza, opor-se a esse caminho é segundo esse entendimento, fortalecer o inimigo de classe.

No entanto, o Marxismo/Leninismo, desde que destacou-se como ciência proletária, deixa muito claro que o proletariado precisa levar uma política independente, autônoma, de classe para si, caso não queira fracassar nos seus objetivos políticos. A maturidade da classe revolucionária se dá em compreender cientificamente o antagonismo de classe, sem a qual a diferença torna-se sectária ou oportunista e impossível dela ocupar lugar importante na difusão da sua propaganda política. Sem essa compreensão, a educação para o avanço da consciência proletária pode significar uma grande despolitização, servindo ainda mais ao inimigo de classe.

No entanto, o programa deve deixar claro o que é o diferente e o antagônico bem como a luta travada para que a parte subjetiva seja defendida e levada à prática. Com os partidos irmãos, o limite político é de natureza em relação à luta futura, sendo que não há divergência quanto às questões imediatas. No caso de um programa para o Brasil, não pode ser negado pelos diferentes uma luta que atenda as melhores condições de vida do trabalhador, sendo que isso significa melhores salários, transportes, habitações, saúde, educação, etc. Dizem que este é o programa real, “pés no chão”. Ora, esse é o programa mais subjetivo, pois até os inimigos do povo falam isso. O programa intermediário a esse, dos direitos dos trabalhadores, já se encontra em nível maior de concretude e politização. É até aí que vão os partidos irmãos ou aqueles eventualmente citados como diferentes, progressistas, aliados ou democratas.

Muitos apoiadores diferentes e aliados no primeiro turno já diziam que os direitos trabalhistas retirados não deveriam voltar à pauta, que deveríamos achar uma alternativa para as questões que estavam mal situadas, mas que no geral deveriam ser mantidas as reformas já estabelecidas pelos golpistas. E essas reformas foram as que levaram à desgraça o trabalhador rapidamente, perdendo direitos trabalhistas fundamentais, seu salário se decompôs por inteiro e sua vida econômica virou um caos (para a alegria da burguesia). Ao não estabelecer uma clara postura de defesa desses direitos, e sede na perspectiva de atrair aliados e diferentes de toda a ordem, a esquerda diminui a aproximação com o proletariado bem como a sua politização, que é ainda pior.

Daí que, ao se tratar das coisas ainda mais concretas que são as forças de classe institucionalmente organizadas no Estado brasileiro, aquelas que têm o serviço imperial de manter a submissão ou a dependência do povo aos ditames dos grandes monopólios estrangeiros, que a coisa aparece ainda mais subjetiva, distante, que não desperta “interesse” algum para o povo (ou nos aliados e partidos irmãos). O poder moderador (forças armadas), o 4º poder midiático (monopólio da informação) e a justiça e o seu aparato repressor contra povo, que sufocam a soberania brasileira aos interesses do imperialismo. Não pautar essa luta é defender por quatro ventos que o Estado não tem classe e que o antagonismo do Capital não tem relação alguma com a burocracia estatal.

O concreto é concreto porque é formado por muitas determinações, nos diz Marx. Em nosso país, por exemplo, a fome, baixos salários, a falta de direitos, a miséria, a exploração, os milhões de sem tetos e alijados da educação, saúde, etc., de um lado, e, de outro, a riqueza a transbordar, são alguns elementos que ditam claramente o conteúdo de classe. No entanto, as formas de repressão, violência contra povo pobre e trabalhador remetem a um Estado repressor, que mata e impede o proletariado de lançar-se à luta por avanços de organização de classe. Por isso, os poderes acima mencionados são a base da manutenção deste status quo burguês. Por isso, é crime de lesa pátria para alguns politizar essa luta, quiçá tomar medidas para solapar esse poder institucional; por isso não entra nos debates.

No entanto, fica claro que ainda somos nós que dependemos da liderança dos partidos irmãos, dos diferentes, dos aliados, etc. Não somos nós ainda que damos as cartas. Além de todos os tipos de aliados que temos, somos favorecidos também pela luta entre a própria burguesia, que se embate sob a crise e suas tentativas de sobrevivência. Aproveitamo-nos, de certa forma, da divisão entre direita e extrema direita, que, de algum modo, nos dá tempo para levar adiante a tarefa de organização do proletariado revolucionário, sob a bandeira do partido.

Levando em consideração as bandeiras dos diferentes, dos partidos irmãos, da luta entre a própria burguesia, seria um absurdo não lutarmos decisivamente para a defesa de uma luta superior e ficaríamos refém dos nossos próprios aliados, da burguesia, dos partidos irmãos, etc, inverteríamos o Marxismo/Leninismo, andaríamos não á frente, mas na cauda e no máximo ao lado, assim como Sociais reformistas. Temos claro que um outro encaminhamento político só será viável quando a força do comando tiver sua independência e poder para arrastar as massas para a ação, por isso a sua formação é permanente e distante do economicismo, restringindo o máximo da ação das concepções Sociais Democratas, de mãos dadas com toda a burguesia. Por isso, o que mais pesa ao proletariado é a sua organização, depois de resolvido o problema do programa (estratégia) e da tática.

O mais concreto é mais difícil de ser compreendido, porque a burguesia aposta e luta para manter viva as suas instituições de classes, que como um espelho côncavo, prendem o proletariado e toda a gama de lutadores a uma realidade positivista e despolitizando e limitando sua ação a ordem estabelecida. Faz todo o concreto aparecer de forma alterada, de ponta-cabeça, como o próprio sistema burguês não ser o problema principal do antagonismo de classes e das mazelas existentes do povo. E a revolução, que é ainda mais concreta, pois ela está relacionada à solução do problema, é sob a perspectiva dos aliados, dos diferentes, dos partidos irmãos que a burguesia assenta a sua última pedra filosofal na perspectiva de desviar o proletariado da concretude histórica, isto é, de coveiros da burguesia.

Por isso, por hora, nossa tarefa é unir os iguais, porque só assim poderemos dimensionar a unidade com os aliados, os partidos irmãos, os vacilantes, os democratas, os progressistas etc., bem como a luta que deve ser travada com eles na trajetória da emancipação do proletariado. Sem a unidade dos revolucionários, o antagonismo é relegado em segundo momento, como se fosse o oposto da política. Estranhamente é aí que o concreto se esvai, bem como o marxismo/leninismo(filosofia mais concreta), abrindo as portas a toda a ordem de correntes idealistas, fascistas, revisionistas e antirrevolucionárias

 

Por um programa político para o Brasil.

Fora Bolsonaro e suas corjas.

Abaixo o Fascismo.

Lula presidente.

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