Apenas um dia após a Eurocâmara — o parlamento europeu — aprovar por 450 votos a favor e 35 contra, uma resolução que condena “energicamente a repressão brutal exercida pelas forças de segurança venezuelanas, assim como pelos grupos armados irregulares, contra os manifestantes pacíficos”, ontem, (28/04) durante as manifestações ocorridas por todo o Brasil, por ocasião da Greve Geral contra a reforma da previdência, a repressão e a violência policial contra quem protestava pacificamente foi uma constante. O Rio de Janeiro foi um dos casos mais brutais, transformando o centro da cidade em um cenário que fazia lembrar os piores momentos da Ditadura Militar.
Seria cômico, se não fosse trágico, o fato de os supostos casos de violência cometidos pelo governo venezuelano contra os “manifestantes pacíficos” ganharem ampla divulgação midiática em nosso país — sempre colocando os manifestantes como vítimas indefesas e o governo como opressor — ao passo de que, no caso nacional, há uma total inversão de valores e no foco da notícia, colocando os manifestantes como “vagabundos”, “baderneiros” e criminosos, e a grotesca ação das forças de repressão a serviço do Estado, por sua vez, como um simples ato de legítima defesa de seus próprios agentes, do “livre direito de ir e vir” e do patrimônio público e privado. Não é de se estranhar tal postura, afinal, a mídia oficial no Brasil sempre exerceu o papel de partido político a serviço dos interesses da classe dominante contra os interesses do povo e da nação. É comum vermos casos em que nos atos políticos realizados na Europa, por exemplo, ativistas — até mesmo os mais radicais, que utilizam táticas mais contundentes como as que aqui são condenadas — são descritos como “manifestantes”, enquanto no Brasil, o ativismo político, mesmo pacífico, é tratado como vandalismo. É que esse tipo de imprensa precisa fazer valer ao máximo nosso complexo de vira-latas e manter sedada a força motriz transformadora que a classe trabalhadora possui por essência.
Seria cômico também, se não fosse igualmente trágico, o fato desse mesmo parlamento europeu, há mais de um ano, ter recebido inúmeras denúncias do Golpe de Estado sofrido pela democracia brasileira e absolutamente nada de concreto ter feito a respeito. É que no tabuleiro da geopolítica internacional, assim como no xadrez, os peões, ou seja, os trabalhadores e as trabalhadoras, pouco valem e, de fato, por trás da suposta defesa dos direitos humanos e de cidadania, o que existe, realmente, são interesses econômicos e políticos direcionados a manter os de baixo em seu devido lugar. Ainda mais em tempos de crise do capital e de acirramento das disputas interimperialistas. Nesse caso, governos que buscam exercer sua autonomia e soberania, como o de Maduro, mesmo eleitos democraticamente, são tachados de ditaduras, enquanto governos ilegítimos e usurpadores como o de Temer, são tidos como democráticos.
Voltando ao centro da questão, ou seja, a violenta repressão contra os manifestantes pacíficos no ato do Rio de Janeiro, duas questões precisam ser observadas: a primeira, é que, desde o primeiro momento, o objetivo das “forças de segurança pública” era impedir a realização do ato na Cinelândia, a principal atividade política programada para o dia. A repressão covarde ocorrida contra os manifestantes quando deixavam a ALERJ, mais cedo, e se encaminhavam para a Cinelândia, não deixa dúvidas quanto a isso. A tática foi a de usar a agressão desproporcional e inesperada para acirrar os ânimos e justificar a violência ainda maior logo depois. A segunda, é que as mesmas “forças de segurança pública”, há muito tempo, pelo menos desde 2013, já perceberam que as cisões existentes dentro dos movimentos políticos progressistas e de esquerda, principalmente quanto à tática, podem e devem ser usadas a seu favor. Para tanto, valem-se da provocação aos setores mais radicais, da violência gratuita e da infiltração de agentes no meio dos manifestantes. Essas práticas servem como motivo para iniciar as ditas “ações violentas” que, mesmo isoladas, “credenciam”, para eles e para a mídia responsável por formar a opinião pública desfavorável ao ato, qualquer tipo de atitude repressiva, ainda que contra manifestantes pacíficos. Foi exatamente o que aconteceu ontem na Cinelândia, onde o ato político mal iniciou e foi dispersado pelas bombas de gás que impediam qualquer um de permanecer no local. Pelo menos uma dessas bombas foi disparada contra o palanque no qual se encontravam diversos parlamentares e representantes dos movimentos sociais no momento da fala da Deputada Federal Jandira Feghali. Depois disso, o que se viu foi o pânico generalizado e a perseguição aos trabalhadores e trabalhadoras que buscavam apenas se proteger das bombas e tiros de balas de borracha. Há relatos de dezenas de feridos, alguns com tiros a queima-roupa. Após esse primeiro ataque, quando o ato reiniciou, pacificamente, e no palco falava o Deputado Estadual Flávio Serafini, do PSOL, e era cantado o Hino Nacional, ocorreu novo ataque, com outra bomba de gás sendo disparada diretamente contra o palanque, atingindo o Deputado. Curiosamente, os dois covardes ataques aconteceram justamente em momentos em que se pedia para que a Polícia Militar cessasse as agressões.Também se viu, evidentemente, a depredação de ônibus e vidraças de bancos, mas não é possível saber se isso foi apenas um desdobramento da ação violenta da polícia ou, simplesmente, o que é bem provável, fruto da ação planejada de grupos infiltrados pelo próprio Estado para, por um lado ,deslegitimar o movimento, e por outro, dividi-lo ainda mais.
A lição que fica após os acontecimentos desse 28 de Abril é que o proletariado brasileiro começa a reagir de forma contundente diante do golpe e da retirada de direitos historicamente conquistados. A adesão a greve de mais de 35 milhões de trabalhadoras e trabalhadores não deixa dúvidas quanto a isso. No entanto, é preciso avançar no nível de organização e unidade de classe, pois, proporcionalmente ao nosso crescimento, cresce também a repressão, a mentira, a perseguição e a violência contra nós. É preciso termos a compreensão de que não vivemos em um Estado Democrático, e sim em um Estado de Exceção, com forte potencial fascista. Essa mudança de realidade exige, igualmente, uma mudança nas respostas que o proletariado consciente e organizado precisa dar a seus opressores.
Abaixo o Estado Fascista e sua Polícia Assassina!
Abaixo a mídia golpista e sua cobertura hipócrita!
Fora Temer, Pezão e todos os golpistas!
Viva a vitoriosa Greve Geral de Abril de 2017!
Avançar na organização e na unidade popular!
UNIR, RESISTIR E LUTAR CONTRA O GOLPE!
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