No momento em que o povo mais necessita de uma ampla unidade das esquerdas para enfrentar a crise, o fascismo e a pandemia, com vistas à transformação política, as manifestações burguesas da esquerda, em épocas de eleições, corroem a unidade e a luta do povo. Dessa forma, fragmentam-na (a luta) por interesses mesquinhos, particulares, eleitoreiros, desconsiderando a conjuntura internacional, nacional e particular em que se manifesta o imperialismo e o modo de produção burguesa.
Essas manifestações aparecem como produto das dificuldades que a esquerda tem de se relacionar com as essências da luta política. Aí, ante a denúncia das mazelas do Capital, sobressaem as ilusões de vitória eleitoral e a criação de um mandato popular. Essas ilusões transformam literalmente um proletário candidato em um pequeno burguês, ideologicamente falando. Assim, se tiver que apresentar o parlamento ou a administração do Estado burguês como algo positivo e transformador, far-se-á independentemente de ter consciência de que o Estado nada mais é que o comitê administrativo da burguesia. E teorias Marxistas de que o “parlamento burguês é a estrebaria da humanidade”, ou que “sob o imperialismo, nenhum indivíduo, grupo ou partido político, sob a via eleitoral, poderá levar adiante uma mudança, em tal proporção, que não seja coagido, golpeado, retaliado ou aniquilado, pelo imperialismo”, segundo Lênin, são desajeitadamente contrapostas com outras passagens que suavizam a essência, ao invés de reforçá-las sob a necessidade de luta transformadora.
Dado as essências, tirar daí a concepção que não devemos participar das eleições, ou, se formos eleitos, revogar as possibilidades de um mandato, é decidir que as contradições secundárias de um processo não são importantes, e isso também é um equívoco. Assim como as contradições internas são superiores às externas, nem por isso não devemos tê-las em conta, mas aproveitá-las no momento certo para que essas possibilitam um ambiente propício para que possamos levar adiante as expectativas traçadas em nossa tática e estratégia. A China é um exemplo, seu poder cresce, e os empresários e latifundiários das commodities fazem pressão ao fascismo bolsonarista em relação às atitudes reacionárias contra o Partido Comunista Chinês. Isso seguramente não ajuda a extrema direita, pois cria mais dificuldades além da crise e da pandemia para a burguesia manter uma linha de unidade interna; portanto nos favorecendo.
No entanto, ter em mente as eleições como um único caminho ou ainda o principal, logicamente, faz-se uma política burguesa, por mais que se contrapõe ao capitalismo, à burguesia e ao governo. O parlamento e as eleições burguesas nunca serão o centro principal da atuação daqueles que almejam a liberdade dos povos. Menos ainda se dará ali a formação de uma consciência proletária de classe em si, tal o destempero, inconsistências, a leviandade em que estão fundidos nessa superestrutura política burguesa.
E a política de aliança segue a mesma linha, isto é, ao invés de ser formada ou forjada na luta fora da eleição e ter objetivos distintos ou independentes desta, tem a tendência a se resumir nela. A unidade eleitoral é um traço da luta de classes, forjada pelas convergências ideológicas e políticas, mas principalmente nas ruas. Nesse sentido, passa a ser a continuidade da luta popular junto ao parlamento como consequência e não como necessidade, pois, muitas vezes, não participar de eleições ou abandonar o parlamento em virtude de uma ação fascista aos eleitos faz parte da luta emancipacionista, de classe em si, da ideologia proletária. No entanto, o que se estabelece é o contrário, a luta de massas e os seus dirigentes atuam e mobilizam com as perspectivas das instituições burguesas. As lutas de massas, assim direcionadas, parecem que têm seu desaguadouro nos estágios “superiores” do parlamento ou da administração. Tudo vira de ponta cabeça.
E diante de uma crise profunda do Capital, agravada por uma pandemia, em que o povo é obrigado a trabalhar, o esquecimento das ruas pela esquerda não é apenas um erro (o pior é que alguns consideram acerto), mas um erro de grande magnitude, pois os estudos aprofundados das táticas e estratégias, indicam que são os momentos de crise que podem permitir avanços da classe proletária politicamente. Em outras palavras, é o momento político das esquerdas. Ficar trancado a quatro chaves, a consciência proletária ou popular organizada (no caso os partidos de esquerda) deixa de cumprir o seu papel histórico. Por mais que as ciências têm se desenvolvido sob o capitalismo, a sua filosofia é reacionária de cima a baixo. É positiva, agnosticista, metafísica, e que condena o povo à escravidão eterna. Entendemos a pandemia, mas seguimos a filosofia da luta de classes proletária.
Fora das ruas, sem cumprir com o seu papel histórico diante da crise, alguns acham inconsequente ou incabível a esquerda estar dividida no processo eleitoral de 2020. Também achamos, mas infelizmente segue a lógica da luta de classes, em que as esquerdas privilegiam mais derrotar o Capital nas urnas do que na luta com o povo nas ruas. Esse é o caminho, que a história já provou um milhão de vezes, não derrota nem mesmo nas urnas. Pode até ganhar, como já em muitos lugares ganhou, mas no final das contas, o tombo e o retrocesso foi bem maior.
E aqueles que acham que durante a campanha farão a diferença no desmascaramento do Bolsonaro, que é melhor várias candidaturas do que uma apenas com esse perfil, a verdade é o inverso, pois o voto corrompe, pois ele e as urnas são a essência, para aqueles que veem a institucionalidade burguesa, a única possível. E infelizmente nem essa (via eleitoral) será objetivada pela esquerda, pois como diz um determinado político: “O segundo turno ganha-se no primeiro”. E o primeiro turno é a unidade das esquerdas pelo Fora Bolsonaro.
Fora, Bolsonaro, Mourão e suas corjas!
Unidade da esquerda é a base para a derrota do fascismo.
Se podemos trabalhar, podemos protestar.
Compartilhei, porque me pareceu, na primeira leitura, uma análise sensata e bem localizada na resposta à crise dos agrupamentos postados à esquerda sem infantilismos. A