Uma vez ouvi de um certo militante de esquerda, que já havia visitado a China, que tal país movia-se pelo pragmatismo econômico. A ideologia e a política, segundo o que eu entendi do relato, eram dimensionados segundo a perspectiva econômica. Essa constatação se fundiam e davam ciência às interrogações do porque a China, nas Olimpíadas de 2002, na apresentação da história do seu país, quase não se manifestou sobre a Revolução Socialista de 1949, parecendo tentar escondê-la do mundo. A história da pólvora, das muralhas da China, entre outras descobertas tinham naquela apresentação da história do país e do povo chinês mais visibilidade do que a própria Revolução. Algo realmente intrigante, pois se a China é o que é graças a revolução proletária. Outra questão que me intrigava naquele época era a abstenção que a China e a Rússia tiveram na invasão da Líbia pelos EUA, França, Inglaterra.
Desde aquela invasão até hoje, a Líbia virou um país da cobiça dos grandes grupos monopolistas privados, e o povo vive sem qualquer perspectiva soberana, ficando nas mãos de tudo o que é tipo de grupos paramilitares. A abstenção foi um grande erro, pois permitiu que uma nação fosse escorraçada do cenário internacional, atingiu aquele povo em cheio. Agiu nessa situação portanto, sob a conduta pragmática, sob os interesses de não levar o enfrentamento com o imperialismo às últimas consequências e deixando a porta aberta para a agressão do império ao povo líbio.
De um tempo para cá, temos visto um caminho feito pelo Partido Comunista Chinês que se diferencia da postura anterior. Tem comprado brigas que comprometem o domínio do imperialismo norte-americano no mundo. O apoio à Rússia, inclusive na guerra atual contra a Ucrânia (lê-se: Otan) bem como na luta conjunta desses dois países pela soberania de outras nações no mundo, demostra que se realmente existia um pragmatismo econômico misturado com o Marxismo/Leninismo, parece que na atualidade a nova direção do PC Chinês vai deixando isso para trás.
Mas o pragmatismo também anda em crise aqui no Brasil. A direita e a extrema direita, como representantes da burguesia brasileira, historicamente sempre se submeteram sem contestação à força e ao poder dos EUA. Uma América para os EUA era uma ideia incontestável, desde que as sobras ou migalhas da mais valia permanecessem nas mãos da burocracia local, e que o esmagamento do proletariado e a sua direção superior encontrasse no país do norte o apoio incondicional quando o proletariado ousasse desafiar o poder.
No entanto, no plano econômico, o pragmatismo tem se tornado uma peça de difícil condução. Ora, o agronegócio depende dos fertilizantes vindos da Rússia, bem como a grande parte da venda das commodities exportadas são compradas pela China. Atrelada do ponto de vista econômico ao Oriente (China e Rússia), mas politicamente e literalmente de quatro para o norte. Mas quem pensa um pouquinho em relação às perspectivas econômicas (e isso é o que melhor sabe fazer a burguesia) sabe que no final de contas não vai conseguir sobreviver só com a ideologia. Mas caminhar em outra direção, sendo um burguês brasileiro, virando as costas ou ficando apenas de lado em relação aos EUA, pode falir politicamente bem antes que economicamente. E Bolsonaro deu a dica para evitar essa falência. Trocar, da noite para o dia, Trump e Putin pelo Biden.
Mas alguns da burguesia brasileira industrial, comercial e do agronegócio pensam mais longe do que Bolsonaro, do que os militares de plantão e todos os serviçais natos e históricos do imperialismo, porque além da filosofia, têm capitais investidos, em jogo. De qualquer forma, se a burguesia brasileira começa a pensar diuturnamente em falência, o pragmatismo entra em crise por se desestabilizar. Pensar de forma diferente do que pensara ou abandonar as ideias eternas significa dar um passo adiante, ao novo, às mudanças no cenário político. Nesse sentido que as contradições objetivas começam a ser emuladas para o subjetivismo, e os EUA detestam isso. Para conter esse caminho, dissimular interesses de mudança de dono, um pacote de 250 bilhões de reais foi aprovado pelo governo imperialista. Mas se pragmatismo é oficialmente a filosofia dos EUA (Charles Sanders/pensador), e se esse país imperialista está em crise profunda é lógico que sua filosofia entra também em crise e corroe os adeptos dela no mundo.
No entanto, se a esquerda brasileira em algum período se movera por essa filosofia, insistimos que sempre foi e é para ela (a esquerda) um desastre o pragmatismo. Primeiro que não apostar na mudança, sendo de esquerda, contentando-se em ser mais um administrador do Capital, é de uma mediocridade fantástica. Segundo que, no contexto atual, de crise profunda, será presa fácil para a direita e a extrema direita, pois sem fé nas mudanças, antecipadamente abandona aqueles que têm maior interesse nelas, isto é, no povo, no proletariado. Terceiro que não conseguirá nem neutralizar os setores vacilante da burguesia brasileira que começam a entrar em desespero por conta da falência e de abandonar as concepções mais conservadoras do seu pragmatismo.
Por fim, as tentativas da esquerda em omitir o quadro de polarização no Brasil, significa não admitir que o cenário é propício às grandes mudanças e que essa mudança de comportamento é expresso na América Latina principalmente, não só por parte da miserabilidade das massas acima do normal, mas por elas quererem mudanças nos de cima e isso no terreno da América Latina, se expressa em uma luta política contra o imperialismo e aqueles que lhes dão sustentação. As massas e grande parte das lideranças de esquerda da América, estão pouco a pouco compreendendo, que é preciso uma unidade internacional para derrotar o fascismo do norte e seus apoiadores.
Por isso, o Fora Bolsonaro, Mourão e suas corjas são as palavras de ordem mais avançadas que temos, pois expressam o setor mais vinculado com a política entreguista e fascista do norte. A defesa de um programa Soberano para o Brasil, com uma reforma profunda no Estado, nas forças armadas e nos meios de comunicação, reforma agrária e urbana, só podem ganhar espaço com a unidade da esquerda amplamente vinculada ao povo. A eleição do Lula é a forma imediata que temos para a mobilização de todos os setores e movimentos sociais nas ruas para dar o conteúdo e a força necessária para as mudanças.
Com o pragmatismo do Norte em crise, o maior perigo é a esquerda não sonhar e rebaixar a luta a um certo pragmatismo liberal, do já ganhou, de que a luta não será árdua, difícil e de longa duração.
Fora Bolsonaro, Mourão e suas corjas
Por um projeto político, soberano e popular.
Lula Presidente.
Ousar lutar, ousar vencer.
Faça um comentário