NÃO HÁ TEMPO PARA TERGIVERSAÇÕES, OMISSÕES E NEM PARA O MEDO

A revelação, por instrumentos da mídia burguesa, de que a campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República tem recebido o aporte milionário de empresas nacionais e estrangeiras para a disseminação de fake news, não pode ou, pelo menos, não poderia soar como novidade. Não é de hoje que a ingerência do grande capital, mundialmente, tem direcionado os rumos da política a seu favor, sendo, por exemplo, de notório conhecimento o papel desempenhado por esse setor no golpe ocorrido no Brasil em 1964, por meio da ação de complexos empresariais que, de forma orgânica, junto aos militares, se apoderaram do Estado. Também não é novidade alguma o papel que as redes sociais e as mídias digitais têm desempenhado na desarticulação e na derrubada de governos que se posicionam contrários à influência do poder econômico hegemônico pelo mundo, o que ficou bastante evidenciado pelo menos desde a chamada “primavera árabe”.

Depois de gozar de aproximadamente uma década de relativa autonomia e de avanço dos setores progressistas no período que sucedeu ao caos social e econômico ocasionado pelos governos de caráter neoliberal que substituíram as ditaduras militares na América do Sul nos anos 1980 e 1990, o subcontinente, no contexto da crise de 2008 e do acirramento das contradições e disputas por ela ocasionadas na geopolítica internacional, tem assistido à reorganização e à retomada de posições por governos títeres ao imperialismo, do conservadorismo moral e de uma política econômica ultraliberal, com notórios sinais de que, onde o objetivo de tutela aos interesses do grande capital não forem implementados pela via eleitoral, não há e nem haverá pudores para implementá-lo por vias obscuras e ilegais, como os golpes ocorridos na Paraguai em 2012 e no Brasil em 2016, ou pelo uso da força bélica, como no caso da cada vez mais iminente possibilidade de invasão militar à Venezuela. Nesse contexto, para além do retrocesso econômico e social que vem se instaurando, desarticulou-se todo um projeto de soberania e unidade para a América Latina.

Tratando exclusivamente do processo posto em curso no Brasil, na realidade, sempre esteve claro, como temos alertado há bastante tempo, que esse não seria um processo eleitoral normal. Vivemos, desde 2016, em um Estado não democrático segundo os marcos da democracia representativa eleitoral burguesa com notáveis características que apontam para a conformação de um Estado de Exceção, aparelhado, sobretudo, pelo Poder Judiciário. A atividade de tal aparelho buscou, de todas as formas, impedir a existência das condições objetivas e subjetivas para uma nova vitória do campo progressista no pleito presidencial desse ano, tendo na prisão arbitrária e ilegal de Lula e no indeferimento de sua candidatura o seu ápice. Durante o processo eleitoral em curso, a omissão e a cumplicidade do STF e do TSE com a criminosa campanha de Bolsonaro, apenas vêm confirmar aquilo que há algum tempo está apontado, ou seja, a participação direta do Poder Judiciário brasileiro no golpe. É que, com a impossibilidade da eleição de um nome originalmente mais próximo aos objetivos das forças que orquestraram e levaram a cabo o golpe, Bolsonaro converteu-se na figura capaz de pôr em curso a continuidade do governo Temer, suas reformas e ataques contra os direitos da maioria da população e de seu entreguismo e subserviência aos interesses internacionais.

A quase vitória de Bolsonaro no primeiro turno da eleição presidencial e a sua liderança cada vez mais alargada nas pesquisas para o segundo turno apesar da sua fuga dos debates e da ausência de propostas efetivas para os problemas nacionais independentemente dos resultados das urnas, indica para um período de acirramento das contradições capitalistas e avanço da luta de classes no país, em um cenário de repressão/criminalização das organizações políticas de esquerda e dos movimentos sociais em geral, bem como de fortalecimento de ideias e práticas fascistas, o que exige um maior grau de organização e ação unitária dos setores progressistas em seu enfrentamento.

O que está diante de nós na atual conjuntura, não permite tergiversações a respeito dos projetos que estão colocados para o futuro, devendo ser rechaçada qualquer ideia que tenda a igualar um possível governo Haddad a um possível governo Bolsonaro. Igualmente, não é possível a omissão a respeito do que está em jogo. Tal postura, em situações como essa, é posicionar-se a favor do inimigo.

Por fim, a crença na democracia burguesa como valor universal e o despreparo de grande parte das organizações de esquerda para uma conjuntura de embate aberto pelo poder político, tem feito com que muitos militantes do campo progressista tenham assumido uma postura de medo diante da ameaça fascista, o que é natural, tendo em vista os recentes casos de violência perpetrados por apoiadores de Bolsonaro. No entanto, como dizia Marighella, “é preciso não ter medo”. É preciso coragem para enfrentar os desafios históricos colocados diante de nossa geração. É dessa coragem que nascerá a nossa vitória e a possibilidade de um futuro socialista, marcado pela justiça social, pela paz e pelo desenvolvimento. Urge, para isso, o engajamento de cada um e de cada uma de nós nas batalhas atuais e nas que se avizinham. Urge a preparação do corpo e da mente, por meio do estudo e da ação política coletiva organizada. Urge a unidade dos setores democráticos, progressistas e revolucionários em uma Frente Ampla contra o fascismo, pois, não tombaremos sem lutar!

Frente Ampla contra o fascismo já!

Não ao imperialismo e a seus agentes no Brasil!

Pela democracia e por mais direitos!

Haddad presidente!

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