Não só no Brasil, mas no mundo capitalista como um todo, a crise sistêmica se aprofunda dia a dia. Abafada com a justificativa da pandemia de COVID- 19, não é possível que esta crise passe despercebida pelo olhar mais atento. Os números são inquestionáveis e deixam claro para quem se debruça sobre eles que o momento é grave e que a crise é profunda e de proporções inéditas no sistema capitalista.
Hoje o Brasil já atinge o índice de 50% de desempregados entre a população de adultos (isso que nem chegamos perto do “pico” da crise). Esta realidade desenha consequências preocupantes, do ponto de vista proletário, pois, se não houver resistência por parte da classe operária, será ela quem pagará pela crise, como sempre ocorreu no capitalismo e como já vem ocorrendo atualmente.
Dialeticamente falando, a ciência marxista nos ensina que toda revolução surge de uma crise, mas, obviamente, nem toda crise resulta em uma revolução. O fato é que a profundidade da crise coloca em xeque a burguesia e seu sistema, deixando-os em estado de alerta. A burguesia atenta e aterrorizada se mobiliza para “travar a roda da história” e objetiva, com muita clareza, inviabilizar a constituição de uma janela histórica revolucionária.
Diante disso, é indispensável que analisemos como tem se postado a esquerda no Brasil mediante a tal quadro. Qual tem sido a sua tática, quais são as perspectivas proletárias com relação ao movimento de resistência e da luta como um todo propostas pela esquerda à classe operária brasileira?
Primeiro, logo se destaca a questão da confusão de setores da esquerda que, em uma aposta na democracia “pura”, na democracia “universal”, não aceita apontar como etapa de luta a palavra de ordem “Fora Bolsonaro!”. E os argumentos para isso vão desde “Mourão ser pior que Bolsonaro”, ou da ideia de que é melhor que Bolsonaro fique, para se fragilizar e ser derrotado em uma futura eleição em 2022, entre outros. Dentre os argumentos apresentados pelo “fica Bolsonaro”, nenhum vislumbra a luta da classe operária e sim, todos propõe “saídas por cima”. Estas “saídas” nada mais são do que acordos que respeitam a democracia burguesa e sua institucionalidade golpista e apodrecida, buscando manter um conforto de uma aristocracia da classe operária.
O ponto da luta contra o golpe também não fica de fora dessa confusão. Perante a justificativa de que o golpe na classe trabalhadora, dado em 2016 (claro que o processo golpista teve início muito antes disso), teria tido fim com o processo eleitoral de 2018, demonstra a continuidade de uma fé inabalável na institucionalidade burguesa. Mesmo ignorando até mesmo a falta de legitimidade do referido processo, comprovada com as regras fraudulentas e golpistas do pleito, com a criminosa prisão política do ex-presidente Lula, com as questões das manipulações via fake news, etc., etc. e etc, estes grupos seguem afirmando que o golpe “acabou”. E é dessa forma que desmobilizam a luta neste ponto, já que não é preciso combater contra algo que não existe mais.
Este servilismo à burguesia de alguns setores da esquerda é percebido também quando estes imploram às massas dispostas à lutar, que “fiquem em casa”. O discurso vem no sentido de que estes grupos não ocupem as ruas para combater o fascismo, o racismo ou outras agressões do capital. Inteligentemente as massas “passaram e têm passado por cima” destes setores. Prova são os atos antifascistas e antirracistas que foram, mesmo em meio à pandemia, para o combate. Neste momento, não foram poucos os representantes da esquerda que se apressaram em escrever e compartilhar textos. Nestes escritos líamos a defesa de que o melhor para o fortalecimento do fascismo era que as massas estivessem nas ruas, pois este ato daria a justificativa aos fascistas para consolidarem de vez o cerceamento das liberdades e a aberta e declarada ditadura burguesa. Parece mentira, mas infelizmente não é! Inclusive, datas eram pronunciadas em tom de temerosidade e até de ameaça: “se forem para as ruas no próximo domingo, na segunda o fascismo estará mais do que consolidado”. Felizmente, o povo que não possui um pingo da covardia desses oportunistas servis à burguesia, foi às ruas e provou o equívoco e a mentira daqueles que bradavam covardemente contra a luta.
Outra tática apontada por setores de esquerda é a busca pela consolidação de uma frente ampla específica, para enfrentar Bolsonaro e a própria crise. Mas que frente ampla é essa que tem se desenhado? Uma frente ampla que aglutina Fernando Henrique Cardoso, Dória, Luciano Hulk, Kassab, Anastasia entre outras figuras golpistas! Uma frente ampla em que diversas lideranças e partidos que a compõem já se apressaram em dizer que não lutam pela queda do governo Bolsonaro, porque entendem que ele tem que ficar. Uma frente ampla que nem mesmo está disposta a combater os ataques contra os direitos dos trabalhadores, pois, inclusive, muitos dos componentes desta frente, não só em discurso, mas na prática, defendem esses ataques, como por exemplo dentro do congresso votando a favor deles e garantido suas aprovações.
Não excluímos ninguém da luta pelo Fora Bolsonaro e buscamos sempre esclarecer os demais setores da importância dessa luta para o avanço da democracia e contra o fascismo. Mas, toda luta tem um sentido, uma tática, um objetivo de classe. São as perspectivas políticas claras (de classes) que neutralizam vários setores que divergem do proletariado e que ao mesmo tempo, fazem a consciência em geral avançar. Se nos preocuparmos mais em conscientizar a direita em relação ao seu papel na luta dos seus interesses “divergentes” da extrema direita, estaremos neste caso, “ensinando o padre a rezar missa” ou nos tornaremos um deles lutando a partir das concepções burguesas. Para quem duvida, relembremos o papel dos EUA na segunda guerra mundial. Em 1941, com a invasão da Alemanha Nazista na URSS, H. Truman afirmou no New York Times: “se percebemos que a Alemanha está vencendo, devemos ajudar a Rússia. Se a Rússia estiver vencendo, devemos ajudar a Alemanha, e assim se exterminarão uma e outra”.
Por mais boa vontade que tenhamos ao trazermos aliados à nossa causa, só avançamos se confiarmos em nossa própria classe, o proletariado, coisa que a esquerda brasileira em grande parte, não entende pelo menos nesse momento, enquanto classe revolucionária. Se entendesse, estaria chamando o povo às ruas, para lutar pelo Fora Bolsonaro e aí sim, estariam lutando pelo lado certo e único, a dita frente ampla e democrática. E a direita, saberia muito bem, como o H. Truman, como jogar com a situação. O proletariado por sua vez, teria a oportunidade de conhecer na prática o cinismo relacionado ao tipo democracia defendido pela burguesia e pela social democracia e que tanto tentam esconder e embelezar.
Às ruas, à luta!
Se podemos trabalhar, podemos protestar!
Fora Bolsonaro e sua corja!
Pela formação dos comitês populares de luta contra o golpe e o fascismo (ALN)!
Ousar lutar, ousar vencer!
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