Frente Ampla ou Frente de Esquerda?

Nos últimos tempos, uma pauta de vital importância tem imperado no seio dos movimentos de esquerda do nosso país: é preciso construir uma frente para enfrentar e derrotar Bolsonaro e o fascismo! Diante desta constatação, vemos surgir duas teses: a defesa de uma Frente Ampla e a proposta de uma Frente de Esquerda.

Aqueles que defendem a constituição de uma Frente Ampla afirmam que sozinha a esquerda não tem condição de derrotar nem Bolsonaro, nem o fascismo. Estes grupos destacam que é preciso constituir uma unidade com todos aqueles que neste momento se dispõem a derrotar o bolsonarismo e seu projeto. Para os convictos desta tese seriam bem-vindos e vistos como aliados, nomes como FHC, Alcolumbre, Rodrigo Maia e Partidos como PSDB, DEM, Progressistas (antigo PP), etc, sabidos inimigos históricos da classe operária. Inimigos estes que inclusive já desencadearam duros ataques ao proletariado em distintos momentos históricos.

Podemos dizer que no processo de eleições municipais ocorrido em novembro de 2020 no Brasil, a Frente Ampla, mesmo não constituída oficialmente, saiu vitoriosa. E, em cima disso, surgiram avaliações que apontam uma grande derrota de Jair Bolsonaro e do fascismo. Nós do PRC não vacilamos em apontar que a derrota de Bolsonaro neste processo é uma derrota relativa. Explicamos: o crescimento de Partidos da direita como DEM, PSDB e Progressistas nestas eleições, garantiu a derrota eleitoral de candidaturas abertamente bolsonaristas, mas isso está longe de concretizar um contundente baque à política bolsonarista. Primeiro, que os princípios econômicos destes Partidos citados são os mesmos que os de Paulo Guedes e de Bolsonaro, ou seja, são neoliberais, entreguistas, privatistas, anti-povo. Além disso, a própria contradição existente entre a direita taxada de “não bolsonarista” e a bolsonarista, não resulta em uma oposição intransigente desta direita “não bolsonarista” contra Bolsonaro. Muito pelo contrário, entre os setores da burguesia sempre existe a disposição de dialogar mesmo diante de todas as contradições e principalmente se este diálogo for indispensável para garantir o fortalecimento do capital, da exploração do proletariado ou mesmo para impedir que este proletariado tenha força para resistir a esta exploração.

Um exemplo concreto foi a postura de Eduardo Paes (DEM), prefeito eleito no Rio de Janeiro, que após derrotar a candidatura abertamente bolsonarista de Crivela, não demorou em declarar que conversaria com Bolsonaro para garantir uma aproximação e o encaminhamento de políticas de interesse comum de ambos. A mesma coisa foi feita por Bruno Covas (PSDB), prefeito eleito de São Paulo. Covas, tido como um adversário do bolsonarismo, ao ter confirmada a sua vitória, ligou para Bolsonaro com o intuito de marcar um encontro para dialogarem. Bolsonaro, por sua vez, amistosamente o parabenizou e afirmou que o espera. Por isso, ao analisar os fatos e a conjuntura, afirmamos que a derrota de Bolsonaro neste processo eleitoral é claramente uma derrota relativa.

Representantes da esquerda que defendem a formação da Frente Ampla não se intimidaram em pedir votos para os representantes da direita (“contra a direita declaradamente bolsonarista”) no segundo turno. Inclusive, chama a atenção os casos em que estes representantes da esquerda foram mais desinibidos para pedir votos para estes “direitosos não bolsonaristas”, do que quando pediram votos para os partidos de esquerda no primeiro turno – em alguns caso nem pediram. Justificavam “o corpo mole”, nestes casos, por terem críticas aos candidatos ou programas da esquerda – como é?

E é dessa forma, com a tese da Frente Ampla, com ilusões na possibilidade de formação de unidade com inimigos do proletariado, mesmo diante do atual quadro de grave crise do sistema capitalista, que, na prática, ocorre um avanço da direita nas eleições municipais. Comprovamos isso com a vibração do chamado centrão (que de centrão tem só o nome), comemorando a derrota do PT, PCdoB, PDT, etc., pois estes tiveram juntos um grande recuo em número de prefeituras e mandatos de vereança. O “centrão” da Frente Ampla vibrou com a derrota da esquerda neste processo eleitoral!

Analisando um pouco mais, o PSOL, por exemplo, teve um aumento de mandatos de Prefeituras e de vereadores comparado com ele mesmo, mas quase insignificante se olharmos para o crescimento do “centrão” ou para o recuo da esquerda como um todo. Isto, para nós do PRC, é mais do que suficiente para demonstrar que a Frente Ampla é uma necessidade da direita, pois a fortalece e, infelizmente, é uma proposição que está longe de garantir uma derrota ao neoliberalismo, ao fascismo, ao entreguismo e ao golpe.

Sem dúvida alguma fica claro que a lição imediata a ser tirada pela esquerda neste último processo eleitoral é de que a Frente Ampla, na atual conjuntura da crise do capital e na atual correlação de forças na luta de classes brasileira, estará a serviço da direita e distante das necessidades de luta impostas pela conjuntura ao proletariado brasileiro!

Nós do PRC reforçamos a tese de que umas das tarefa da esquerda brasileira é a constituição de uma Frente de Esquerda capaz de aglutinar os diferentes Partidos de esquerda. Uma frente que tenha como programa uma ruptura que aponte declaradamente contra o entreguismo, em defesa da soberania de Nossa América, contra o imperialismo, contra as privatizações, contra o fascismo, em defesa dos direitos do proletariado, contra o golpe. Uma frente que, como declarou recentemente José Genoíno, não hesite em botar os dentes da esquerda para fora, que não tenha ilusões com uma hoje impossível conciliação com a burguesia e que, mais do que isso, tenha a coragem de apontar para a luta das ruas como o antídoto necessário ao fascismo neoliberal.

Além da já citada ineficiência do caminho de construção da Frente Ampla, temos também a comprovação do erro crasso representado pelo caminho que setores da esquerda têm escolhido ao abrir mão da luta nas ruas. Vemos aí claramente a ilusão de que haverá um desgaste “natural” e inerte do governo Bolsonaro e que este enfraquecimento representaria automaticamente um fortalecimento da esquerda. Assim, eles creem que mesmo sem a luta nas ruas, poderia haver uma vitória eleitoral da esquerda em 2020 e depois, da mesma forma, em 2022. O processo eleitoral já comprova que essa expectativa não condiz em nada com a realidade. O PRC reforça o que sempre afirmou: sem a luta nas ruas nosso retrocesso é fatal!

Não há mais espaço para ilusões institucionais, não há mais espaço para “equívocos” oportunistas. Lênin afirmou que a prática é o critério da verdade. Vimos na prática o resultado da Frente Ampla: a esquerda mingua e o “centrão” se fortalece. Vimos na prática que a esquerda sem a luta nas ruas torna-se mera expectadora de uma luta entre a direita e a extrema direita, que ela perde espaço e que as dores proletárias se agudizam. Não há como derrotar o golpe, o fascismo, o neoliberalismo sem uma guinada à esquerda da esquerda, sem uma Frente composta por Partidos de esquerda, sem a retomada dos movimentos de rua pelo proletariado.

Em defesa da Frente de Esquerda!

Retomar a luta nas ruas já!

Fora Bolsonaro e sua corja!

Abaixo o fascismo!

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