“Não existe espaço vazio na luta de classes!”

A frase utilizada como título para este texto não é inédita, nem mesmo nova. O que me leva a trazê-la mais uma vez à tona é o fato de que esta máxima carrega consigo uma grande verdade sobre as leis da luta de classes. Verdade esta que se apresenta com muita força ao refletirmos sobre a realidade atual e as saídas que podemos tomar para garantir um resultado progressista a esta conjuntura, seja do ponto de vista proletário, seja do ponto de vista limitado da democracia burguesa.

O avanço do fascismo (conduzido pelo Imperialismo, por Jair Bolsonaro e por um grupo de generais das Forças Armadas) e a pandemia que assola o planeta, têm colocado em xeque as lideranças dos Movimentos Sociais. Mediante grande confusão, os Movimentos Sociais hoje apontam diferentes saídas para superar esta conjuntura: umas mais à esquerda, outras ao centro, à direita, ou “tudo junto e misturado”. O fato é que, diante da confusão e das diferentes posições, é preciso diagnosticar a essência das principais perspectivas em disputa, refletir sobre elas, contribuir, apontar e fortalecer aquela que realmente pode mudar a correlação de forças na luta de classes. Neste primeiro momento, precisamos potencializar a saída que pode derrotar o fascismo de forma real e não aparente!

A crise estrutural do sistema capitalista está posta (como apontam muitos dos nossos textos compartilhados no site Tribuna Proletária) e, com isso, se acelera o processo de ataque contra a classe trabalhadora como um todo. Com direitos retirados e/ou desrespeitados diariamente, o povo vem sendo massacrado por meio da soma pandemia mais crise, que tende a ser catastrófica.

Diante dessa situação, a massa, atropela direções de partidos e de movimentos sociais, dando um claro recado de que, mesmo com os riscos sanitários, se dispõe a ir para a rua lutar, pois, inteligentemente percebe, que “esperar a pandemia passar para se fazer algo”, como pedido (apontado) por alguns, certamente será trágico, será tarde demais! Dessa forma, movimentos antifascistas, antirracistas, de uma forma geral espontâneos, passam a ir para as ruas, não só no Brasil, mas com destaque também nos EUA e França, entre outros países. E é aqui que se levanta a polêmica da questão principal deste texto: como devem se posicionar os movimentos sociais (partidos de esquerda, sindicatos, centrais sindicais, etc.) diante do momento? Apontar a luta nas ruas ou fortalecer a resistência na internet e só depois da pandemia passar organizar algo nas ruas?

No meio desta “encruzilhada” o fato é que, independente do que decidirá o Movimento Social organizado, setores das massas dão o recado claro para quem quiser ouvir: “vamos para as ruas resistir ao fascismo, ao racismo e à Bolsonaro, independentemente se os partidos e sindicatos vierem ou não!”. A fala de um dos fundadores da torcida organizada Gaviões da Fiel, Chico Malfitani, demonstra bem este sentimento: “Os partidos não se organizam, então nós que somos o povo nos organizamos e viemos para a rua!”. E assim, de forma cada vez mais frequente, o povo vai laçando-se à luta.

“Não existe espaço vazio na luta de classes”, repito. E, nesse caso, a polêmica difundida no seio do movimento social, de que não podemos ir para a rua lutar em virtude da pandemia, deveria soar para todos como falsa, pois, setores das massas, no melhor dos sentimentos estão indo para as ruas, e a conjuntura não deixa a menor dúvida de que a tendência é que eles irão cada vez mais e de forma mais numerosa. Os movimentos sociais organizados, os lutadores sérios (que se dispõem realmente a lutar e não a garantir a consolidação de uma “confortável” posição na aristocracia operária), visualizando este fato (massas nas ruas), diante da citada afirmação no título desse texto, não podem titubear em tomar a dianteira desse movimento, garantido seu caráter mais combativo e consequente. Como nos afirmou Lênin (1978) sobre os riscos do espontaneísmo na luta de classes, na obra “Que fazer?”: “todo culto da espontaneidade do movimento operário, toda diminuição do papel do ‘elemento consciente’, do papel da social-democracia significa – quer se queira ou não – um reforço da influência da ideologia burguesa sobre os operários” (p. 30).

Diante disso, o oportunista “metido a espertinho” pode até afirmar: “pois então, ir para a rua nesse momento, apenas porque a massa está indo, isso é ser dirigido pelo espontaneísmo da massa!”. Mas, diante dessa possível postura, resgatamos o próprio Lênin (1902), que na mesma obra indica que o “elemento espontâneo”, no fundo, não é senão a forma embrionária do consciente” (p.24). Ele explica ainda que:

[…] toda diminuição da ideologia socialista, todo distanciamento dela implica o fortalecimento da ideologia burguesa. Fala-se de espontaneidade. Mas o desenvolvimento espontâneo do movimento operário resulta justamente na subordinação à ideologia burguesa (LÊNIN, 1902, p. 32).

Para garantir que o espontâneo contribua para o desenvolvimento da luta consciente, é indispensável a atuação direta e determinante do setor consciente da classe trabalhadora. Porém, o que vemos hoje no Brasil é que as direções dos partidos de esquerda e dos Movimentos Sociais organizados, que em tese comporiam uma parte importante deste setor, estão assumindo, no geral, uma posição de distanciamento da luta nas ruas. Este afastamento levará necessariamente à subordinação das lutas à concepção burguesa.

A palavra de ordem “#FiqueEmCasa, que tem se fortalecido no meio dos sindicatos e partidos de esquerda, soa surreal diante da classe operária, que não tem o direito de ficar em casa, que não tem a possibilidade de distanciamento social. Soa surreal diante dos sinais da luta de classes no Brasil. Ter como ponto principal da pauta da luta da classe trabalhadora hoje o direito de ficar em casa, é muito descabido, pois demonstra um individualismo pequeno-burguês, carregando nesta ideia a lógica de que se eu posso me proteger, se “os meus podem se proteger”, azar do resto!

Não ignoramos a pandemia, pois isso seria estupidez. Sabemos dos sérios e reais riscos que ela traz à humanidade. Mas, da mesma maneira, temos certeza de que é uma tolice maior abrandar a nocividade de Bolsonaro e sua corja. Desconsiderar o quão sério e perigoso será deixar que o governo Bolsonaro, o imperialismo e o fascismo como um todo atuem livremente e sem resistência no período da pandemia, é uma estupidez tão séria ou até mais grave do que desconsiderar os riscos que o COVID- 19 tem acarretado em todo mundo. Defender a posição de que é preciso esperar a pandemia passar, (mesmo que os especialistas em infectologia deixem claro que sua superação poderá levar anos) para só então lutar contra o fascismo e seus ataques, é uma grande asneira!

Para nós do PRC está muito claro o papel dos lutadores, dos partidos de esquerda e das lideranças do Movimento Social organizado, nesta conjuntura: devemos ir para as ruas junto com as massas e garantir que o movimento avance na luta contra o fascismo, contra Bolsonaro e sua corja. E assim, garantir que não ocorra com estes movimentos o que aconteceu com os de 2013, que foram cooptados pela direita. Caso a esquerda vacile e deixe um “espaço vazio” nesta luta, tanto os déspotas esclarecidos quanto a própria extrema direita, tendem a repetir as mesmas manobras de cooptação utilizadas nas mobilizações daquele período. Cabe esclarecer que os movimentos atuais guardam uma importante diferença com relação aos de 2013, uma vez que, até este momento, têm ganhado força com uma bandeira clara e progressista: o antifascismo.

Não existe espaço vazio na luta de classes, tanto é verdade que os bolsonaristas e fascistas de várias matizes já estão nas ruas e com cobertura integral de toda a mídia burguesa. Estamos atrasados com relação a eles. É hora sim de retomarmos as ruas, pois esse é o único lugar que podemos frear ou fazer frente ao que a burguesia planeja para o povo durante a crise e a pandemia. A mensagem de Bolsonaro que mataria 30.000 no país, já foi cumprida, e se não nos decidirmos a entrar de “cabeça, tronco e membros” nesta luta, alguns zeros ainda serão postos na conta dos pobres, miseráveis, lutadores e trabalhadores em geral.

Acreditar que é possível acumularmos forças ficando em casa e só depois disso sairmos às ruas para lutar contra o fascismo e contra o capitalismo, não faz o menor sentido! Acumular forças, efetivamente, a ponto de sacudir as estruturas do fascismo e do capitalismo, somente indo às ruas. Em casa, com a “força da mente” e da internet temos certeza que não conseguiremos!

– Ousar lutar, ousar vencer!

– Fora Bolsonaro e sua corja!

– Se podemos trabalhar, podemos protestar!

– À luta!

REFERÊNCIAS

LÊNIN, Vladimir I. U. Que fazer? EDITORA HUCITEC: São Paulo, 1978.

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