No primeiro governo de Lula, o salário mínimo veio progressivamente recuperando o seu poder de compra, isso significa que, em determinado período, o salário compra mais valores do que antes? Pode ser e pode não ser. Pode inclusive comprar menos valores, porém, mais mercadorias do mesmo tipo que compravam antes. Além disso, não significa que a mais valia estaria sendo menos roubada, podendo inclusive ser ainda maior a exploração do que antes. No entanto, o significado geral é que o proletariado está em condições econômicas melhores que as anteriores do ponto de vista de renda, e nada mais.antilatifúndiáriaSalário as
Na análise econômica marxista, os valores das mercadorias diferem dos seus preços, porém estes são determinados por aqueles. A valorização do salário, portanto, está relacionada a múltiplos movimentos da luta de classe, desde o Estado financiar os agentes de produção, diminuição de impostos, concessões, empréstimos a setores essenciais aos meios de subsistências (incluindo produção interna ou importação) etc.; sendo que para isso, a mais valia inclusive pode ser para a grande produção ainda mais generosa, isto é, aumentando o roubo, a exploração e a distância entre ricos e pobres (na história do capital, é sempre isso que ocorre). Além é claro que em certos momentos, a própria burguesia ante perder os dedos, prefere perder os anéis, abrindo mão de uma exploração mais intensa. Por isso, o tema do salário real é sempre uma visão idílica, serve para distrair o proletariado da luta política, principalmente em conquistas de direitos para a classe operária e o povo em geral.
Porém, quem espera que essa conjuntura possa se manter por um longo período, acredita mais em Chapeuzinho Vermelho do que na Economia Política do Capital. A lógica deste é a produção de mais valia ad aeternum, e, na sua fase monopolista, essa produção (de mais valia) e concentração dá um salto violento para o lado dos capitalistas. O capital financeiro atua em todos os pontos, produção, comercialização e político (governo), sempre achará sob o “novo real” do salário mínimo a continuidade para a escravidão assalariada. Os altos juros como demostramos são uma das formas para seguir o roubo, daí a cantilena do banco central independente. Sabemos que a política precisa ser flexível logo após uma grande vitória, criar condições para que o inimigo do outro lado bate cabeças. Mas o melhor método para isso, é demostrar força, elevar o nível de consciência das massas, coloca-las em movimento, isso é o BEABA dá política de esquerda. Além disso, precisa ter um Plano Político, por que de nada adianta ventos favoráveis, se não sabe em que porto quer chegar. Reafirmamos aqui, um plano economista não é um plano político, pois serve muito mais aos inimigos do que aos aliados.
À esquerda também é reservado esse papel de melhorias da renda, quando ganha eleitoralmente um governo, pois a própria burguesia em suas diversas alas, sempre luta para impedir qualquer ganho mínimo, pois a ordem é explorar ao máximo. O próprio setor especulativo, na frente de todos os demais segmentos representados na divisão de mais valia, quer sempre a fatia maior desta, fazendo com que os juros penetrem em todos os níveis, principalmente nos produtos essenciais para o povo. O avanço no salário real enfatizado ou comemorado pela esquerda, sem que venha acompanhado de vitórias políticas nos direitos trabalhistas e previdenciários, na moradia descente, no acesso à cultura, à educação, ao lazer, etc., e em um plano de luta pela emancipação do trabalho, na defesa da Soberania popular e na perspectiva do Socialismo, serve como propaganda apenas aos intentos da burguesia. Isso não é esquerda.
No caso do Brasil, essa campanha por parte de setores sociais democratas petistas pelo aumento do poder de compra da cesta básica, já é comemorado amplamente. Dizem que se no salário mínimo anterior faltava renda, agora até sobra. Poderíamos até comemorar, caso tivéssemos em luta pela revogação das reformas trabalhistas e previdenciárias, na defesa da reforma agrária anti latifundiária e por reformas urbanas contrárias aos grandes empresários da renda da terra urbana imobiliária. Pelo contrário, uma campanha como essa, de aumento do salário sem estar ligada às lutas de fundo dos direitos do nosso povo, rebaixa ao nível de consciência mais baixo. Esse se iguala ao nível de propaganda que a burguesia sempre faz sobre a crise, colocando a corrupção no centro do debate.
A esquerda brasileira institucional, bem como as suas lideranças sindicalistas, inclusive, nem se quer falam mais da luta pela jornada de 40 horas. Se no governo de 14 anos do PT essa luta não teve minimamente viabilidade, agora essa e as demais lutas na defesa de direitos são abandonadas vergonhosamente. A luta pelo salário mínimo real passou a ser a grande bandeira dos sindicalistas, que vem culminar com toda a visão não só conciliadora, mas de administradora do capital. Chamar muito desses representantes de esquerda de conciliadores é dizer que querem luta, que estão na luta. Isso, no quadro atual, não é conciliação, é submissão, aburguesamento e prosternação diante da burguesia. Estamos vivendo um abandono da luta, mesmo no campo econômico; é assustador.
É nesse sentido que a burguesia tem a esquerda institucional como um “opositor” civilizado, podendo até premiar o golpe de 2016 como um erro que fizeram com a então presidente Dilma. Como numa confraternização “democrática”, entre os representantes dos exploradores e os ditos representantes dos explorados, é anunciado o golpe como um pedido de desculpas. Porém, que fique claro: esse perdão significa que estamos eufóricos e lisonjeados pelo bom comportamento vosso. Por isso, sejam bem-vindos de novo à casa grande.
Pela revogação imediata das reformas trabalhistas e previdenciária.
Pela reforma agrária anti latifúndiária. Reforma urbana já.
Pelo fim da tutela militar, do monopólio da mídia, e pela democratização da justiça.
Em defesa da Soberania Popular e do Socialismo.
João Bourscheid
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