Cuba, o Povo em Revolução e o Cinismo da Democracia Liberal

Em recente reunião que participei com o Cônsul Geral de Cuba, o embaixador Pedro Monzon, ouvi dele a seguinte afirmação: “Cuba não é um governo, um estado, Cuba é o povo em revolução.” O povo cubano em 60 anos de revolução alçou conquistas inimagináveis para uma pequena ilha latino americana, é de domínio geral que a ilha proporciona a sua população saúde e educação de excelência, muito à frente dos países da periferia do capitalismo e até de países centrais. Frei Betto, conhecedor profundo da realidade da ilha, sistematizou magistralmente em artigo recente as percepções possíveis sobre Cuba, segundo ele se você for um/a burguês/a a ilha será um inferno, pois não será possível explorar o trabalho alheio, se for um/a integrante das classes médias consumistas, a ilha será um purgatório, pois não haverão tantos bens de consumo a disposição, mas se você for pobre, Cuba será um paraíso, lá você terá certeza de ter habitação, alimentação, trabalho, educação, segurança e saúde.

Tal ousadia revolucionária do povo cubano sempre foi intolerável aos capitalistas, que vociferam mentiras a seis décadas sobre a ilha através de seus ideólogos e gigantes meios de comunicação de massa. Mas as ações das grandes corporações capitalistas através de seus estados e governos, em especial os Estados Unidos da América – EUA, não se restringem a propaganda barata e falaciosa contra Cuba. Os EUA através de agências “humanitárias” tem financiado ao longo de toda história da revolução cubana ações para militares, tentativas de assassinato dos líderes cubanos, só Fidel Castro sofreu cerca de 638 atentados patrocinados pela CIA, o que inspirou o livro 638 Ways to Kill Castro (638 Maneiras de Matar Castro) de Fabián Escalante, que virou documentário de TV, exibido na Inglaterra pelo Channel 4.

Além da violência perpetrada em atos de verdadeiro terrorismo em cooperação com as máfias americanas e cubanas de Miami, os EUA impõem um bloqueio econômico brutal a Cuba. Trocas comerciais e acesso a insumos de diversos tipos estão impedidas em enorme grau pelo bloqueio econômico que contraria decisões recorrentes da ONU, para as quais os EUA unilateralmente dão de ombros. As dificuldades extremas frente ao bloqueio econômico se agravaram com o advento da pandemia do coronavírus, que interrompeu as atividades turísticas que representam fonte importante de divisas para a ilha.

Mesmo com o agravamento da situação, Cuba desenvolveu três vacinas próprias para combater o coronavírus que serão aplicadas em toda a população e tem um média de 168 mortes por milhão de habitantes por Covid 19, enquanto os EUA tem média de 1840 mortes e o Brasil 2551 mortes. O aumento das dificuldades econômicas são tratadas com transparência pelo governo cubano junto a população que apoia de forma amplamente majoritária a revolução, basta comparar a manifestação de mais de cem mil pessoas em apoio a revolução que ocorreu em Havana e as passeatas contra o governo que reuniram no máximo 300 pessoas na maior delas.

É evidente que o agravamento das dificuldades econômicas decorrentes da intensificação do bloqueio imposto pelos EUA gera descontentamentos legítimos que acabaram levando poucas pessoas a embarcarem, de boa-fé, nas passeatas orquestradas pelos grupos financiados pelos EUA. Mas isso está muito longe da fantasia de “revolta popular” difundida pelos meios de propaganda da burguesia imperialista. Cuba se encontra em guerra permanente a 60 anos contra o intervencionismo norte americano e a atual jogada do partido único capitalista que governa os EUA agora sob a batuta da facção dos “democratas” mais uma vez não irá prosperar frente ao povo em revolução!

O ex-presidente Lula acertadamente assinalou: “Já cansei de ver faixa contra Lula, contra Dilma, contra o Trump… As pessoas se manifestam. Mas você não viu nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele…”. A propaganda contra Cuba fala de repressão e historicamente classifica a ilha como uma ditadura, e sob o manto da “defesa da democracia” se justificam as tentativas de intervenção norte americana, a estratégia se resume em sufocar economicamente a ilha, gerar descontentamento interno, financiar grupos contra revolucionários para gerar conflitos e assim justificar uma “intervenção humanitária”. Eis aí todo o cinismo da democracia liberal, repressão violenta a manifestações são comuns nos EUA, o Congresso foi invadido a poucos meses por manifestantes de extrema direita buscando dar um golpe, imaginem se algo parecido ocorresse em Cuba?! O cidadão cubano incide muito mais sobre os destino de sua nação que o cidadão norte americano ou brasileiro, cujo os regimes se dizem “democráticos” por realizarem eleições condicionadas pelo dinheiro e publicidade milionária. Cinicamente a democracia liberal norte americana, que coexiste em perfeita harmonia com a ditadura obscurantista da Arábia Saudita, contra qual não há nenhuma sansão econômica, classifica Cuba de ditadura ao mesmo tempo que mantém uma prisão medieval fora de seu território na base naval de Guantánamo.

A liberdade do povo cubano se alicerça na igualdade social e sua soberania teimosamente resistente as investidas imperialistas, mas a liberdade que interessa aos “democratas liberais” é a liberdade de exploração do trabalho, e a impossibilidade dela em Cuba é o que os revolta.

 

Luciano Luz de Lima

Secretário de Relações Internacionais do PT/RS

Bacharel em Direito

Mestre em Ciência Política

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