Lula Presidente e o risco de golpe

As eleições presidenciais de 2022 se aproximam no Brasil. O favoritismo de Lula na disputa à presidência é uma realidade inegável que vai se desenhando ao longo dos últimos meses. Inclusive, as pesquisas apontam que há possibilidade de vitória de Lula já no primeiro turno.

Diante disso, um grande número de militantes do campo popular, embora apontem que o pleito ainda não está definido, guardam o sentimento contrário, já comemorando a vitória da esquerda e a derrota da direita e da extrema direita. Pura ilusão, pois temos exemplos recentes da vocação golpista da burguesia, não só na América Latina de forma geral, mas também no Brasil, mais especificamente.

Nós do PCPB temos denunciado que a burguesia nacional e a internacional não irão observar os rumos da disputa eleitoral brasileira de maneira passiva e conformada. Reiteramos que estas burguesias não medirão esforços para garantir seus interesses representados por um resultado que os favoreça e, portanto, estão organizadas para intervir nos resultados, ainda mais diante da conjuntura de crise do sistema capitalista. É certo que a burguesia não deu um golpe em 2016, “com Supremo, com tudo”, para aceitar uma derrota democrática e institucional nas eleições presidenciais, passados 6 anos.

Certas lideranças da esquerda têm reproduzido a ideia de que não há clima para golpe. Outra ilusão! Ou, no mínimo, “memória curta”. Não precisamos voltar muito atrás na história para ver que a luta de classes não é imóvel, como nos provou o marxismo. Basta lembrarmos da eleição presidencial de 2018. Naquele pleito, Lula despontava como o principal nome para ganhar a presidência da República. Foi sentenciado pelo futuro ministro da Justiça do governo eleito pelo golpe, Sérgio Moro, que expediu também o mandato de prisão do então candidato favorito, no dia 05 de abril de 2018. Lula foi então impedido de concorrer. O golpe foi dado (e aqui nem estamos destacando as outras manobras golpistas realizadas neste pleito, que não foram poucas).

            “Mas, não há tempo hábil para este tipo de manobra golpista hoje, pois o processo judiciário contra Lula vinha de no mínimo um ano antes”, dirão alguns (realmente a condenação de Lula em primeira instância ocorreu ainda no ano de 2017). Porém, nós do PCPB afirmamos que nem todos os golpes são iguais em métodos e formas. Não há quem negue isso como algo óbvio, é verdade. “Contudo, isso não muda o fato de que hoje não há clima para golpe”, seguem dizendo nossos caros e já citados militantes da esquerda. Ilusão, seguimos afirmando! Mais uma vez não voltaremos muito na história para corroborar o que apontamos.

Voltamos agora ao pleito de 2014, onde a então presidenta Dilma Roussef liderava as pesquisas com grande chances de se reeleger em primeiro turno. A queda do avião e a morte do candidato à presidência pelo PSB, Eduardo Campos, gerou uma campanha midiática de comoção, muito bem conduzida pela burguesia, com consciente intento de mudar os rumos eleitorais, o que obteve êxito. Dilma que, como já lembramos aqui, despontava com chances reais de vitória no primeiro turno daquelas eleições, enfrenta uma manobra golpista em plena campanha. Em um cenário que até então tinha ares de tranquilidade e vitória consolidada, por pouco a ex-presidenta não perde  as eleições para Aécio Neves do PSDB – este, inclusive, chegou a comemorar a vitória em suas redes sociais. Aécio foi pego de surpresa por uma virada nas últimas urnas abertas, localizadas na região nordeste do Brasil, que acabaram consolidando de forma apertada e dramática a reeleição de Dilma. Também não havia clima para golpe até então.

Dois exemplos recentes de golpes com métodos e formas completamente diferentes. Não temos aqui a ilusão de que nossos argumentos, por mais justos que sejam, convençam as lideranças que não acreditam na possibilidade de golpe. Nosso objetivo aqui é alertar aqueles e aquelas que têm disposição para lutar e sabem bem dos riscos impostos pelas burguesias na luta de classes e portanto, não possuem ilusões na institucionalidade capitalista, para que, percebendo estes riscos, mobilizem-se e fortaleçam a luta contra as ameaças de golpes burgueses, consolidando assim, o fortalecimento da luta proletária.

É certo que a forma como o cenário se coloca hoje dificulta para burguesia a efetivação de um golpe nos moldes dos de 2018, com a prisão de Lula. Também não negamos que a dificuldade de alavancar um candidato da direita com viabilidade eleitoral hoje, é um fato. Nem mesmo Bolsonaro, com a “máquina na mão” e sua concepção fascista, consegue ameaçar hoje a liderança inconteste de Lula nas pesquisas. E estes fatos vão fazendo com que importantes figuras da esquerda baixem a guarda, acreditando que a vitória de Lula está garantida. E é aí que mora o perigo!  É imprescindível que a militância de esquerda tenha muito presente que a burguesia não vai assistir passivamente a vitória de Lula nas eleições de 2022.

A burguesia atua no Brasil de forma bastante hábil. Aposta sempre na conciliação, aproveitando-se de uma cultura que se criou ao longo da história em nosso país, realidade muitas vezes já citada em nossos editoriais. Mesmo nos golpes, o fazem de forma sutil, tornando-os diversas vezes imperceptíveis para muitos. A cultura de conciliação reforçada eficientemente no Brasil pela burguesia é, infelizmente, assimilada por parte da esquerda que defende “com unhas e dentes” a democracia (como se esta fosse um valor universal e não de classe), que acredita piamente na justiça e nas instituições burguesas em geral, que afirma que o “Brasil precisa conversar” e dialogar para avançar, negando o caráter dos interesses irreconciliável das classes antagônicas que nos ensinaram Marx e Engels, no “Manifesto do Partido Comunista”, etc.

Não há duvidas de que hoje, um dos principais planos golpistas burguês está em curso no nosso país. O plano que se pauta na já citada cultura da conciliação e, junto com ela, na indisposição da esquerda brasileira em ser esquerda. Lula vinha apresentando uma postura combativa, necessária na atual conjuntura de crise do capital. Afirmou em diversos momentos que defende a anulação das (contra)reformas trabalhista e da previdência, assim como, a anulação das privatizações realizadas após a efetivação do golpe de 2016. Diante do grande e crescente apoio popular à candidatura Lula, sem uma candidatura da direita com viabilidade de disputar com o ex-presidente, a burguesia resolve investir na possibilidade do golpe por dentro, ou seja, de frear os intentos combativos e progressistas de Lula, o conduzindo, com apoio de setores da esquerda (oportunistas e iludidos) a abrir espaço para a direita em sua chapa. A burguesia sabe que talvez essa seja a única forma de garantir que os rumos do golpe de 2016 tenham minimamente chances de se manterem e ainda da forma que ela mais gosta: de maneira discreta e conciliadora, sem confronto e resistência.

Temos sido vítimas da conciliação no Brasil. Sempre que há uma possibilidade do povo avançar na luta contra a burguesia, contra o imperialismo, contra o capital, a burguesia age em nosso país criando um clima de que “o confronto não está com nada”, que o caminho é o diálogo, é o da conciliação. É assim que desarmam o povo, é assim que mantém o controle da situação, mesmo quando a correlação de forças da luta de classes começa a rumar para uma situação desfavorável à burguesia e favorável ao proletariado.

Infelizmente, a eficiência burguesa, somada ao oportunismo de setores da esquerda e à subestimação e ilusão por setores progressistas rende e tem rendido frutos para a burguesia. Lula já declara que admite conciliar, já aponta que aceita a direita ocupando a vice-presidência em sua chapa, afirma que está mais do que disposto a conversar com os golpistas para compor com eles a chapa de disputa para o novo governo.

Alguns da esquerda se apressam em fazer afirmações como: “mas ele vai precisar governar depois de eleito, vai precisar da aliança com a direita no Congresso”. Para estes, a luta de classes precisa ser escamoteada, a crise aguda do capital, precisa ser jogada “para baixo do tapete”, pois, senão, torna-se indiscutível que estamos em um momento que é impossível a organização de um governo que garanta nem mesmo aparentes avanços para setores antagônicos na sociedade. Ou serve-se à burguesia ou ao proletariado. Em momentos de crise, como esse que vivemos, é facilmente perceptível a impossibilidade de que todos “avancem”.

Além disso, aqui devemos mais uma vez nos voltar às eleições de 2014. O citado golpe da comoção criada pela morte de Eduardo Campos quase deu certo, mas o quase não muda a história. A habilidade burguesa já havia garantido a possibilidade do golpe por dentro, colocando Michel Temer na chapa como candidato a vice-presidente de Dilma. Com a vitória de Dilma, Temer foi protagonista importante da efetivação do golpe em 2016. Como afirmamos, não precisamos procurar episódios muito distantes para perceber os métodos golpistas burgueses no Brasil. E aqui, estamos citando apenas alguns destes métodos e destacando apenas um que está em pleno curso. Mas, com certeza, a burguesia não possui apenas uma “carta na manga”, ou somente um plano golpista. Certamente muitos e diferentes planos de golpe estão sobre a mesa da burguesia. Lula não é eterno. Esperamos que viva por muitos anos. Mas, destacamos aqui: é importante que Lula se atente para os riscos que sua vida corre. Alguns dirão: “teoria da conspiração, no Brasil não se faz isso”. O próprio Lula já manifestou que não acredita nessa possibilidade, que não há essa cultura aqui. Parece que esquecem-se da trama que assassinou o ex-presidente João Goulart no Uruguai.

Nós do PCPB observamos que a crise se aprofunda. Em um cenário como este, garantir um real avanço proletário, levando a cabo um programa de governo que o priorize e defenda a soberania nacional no enfrentamento ao imperialismo, não é possível, de forma alguma, fazendo-se uma aliança com os golpistas da direita. A aliança que pode promover mudança é aquela feita com o povo organizado na luta, nas ruas, representado pelos movimentos sociais. Este é o caminho viável para o momento!

Destacamos aqui que não deixaremos de apoiar Lula. Sabemos que é a única liderança hoje capaz de derrotar a extrema direita e a direita! Lula, é hoje a única liderança com força de executar um programa popular que minimamente dê condições dignas de vida para o povo. Mais que isso, Lula é o único que pode garantir um governo que possibilite que o povo se organize para a luta, o único capaz de consolidar um avanço nos objetivos políticos do proletariado (isso se ele se manter pela esquerda) para que a futura emancipação proletária esteja mais próxima. Nosso apoio à Lula Presidente já está definido por todos estes motivos e isso significa que nós nos empenharemos com afinco para mobilizar, em conjunto com outras forças que também tenham essa disposição, a pressão para que Lula não só derrote a candidatura abertamente fascista (a extrema direita), mas derrote também a direita.  Que a vitória de Lula se consolide e que ela seja também uma grande vitória do povo brasileiro. Lula tem força para isso, basta colocar o povo organizado como protagonista nessa disputa.

 

Abaixo à conciliação!

O povo tem que ser o protagonista nesta disputa!

Lula presidente!

Fora golpistas!

Fora Bolsonaro e toda sua corja!

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